segunda-feira, 18 de março de 2024

Ucrânia: Can Europe Fight Alone?

Um pouco por toda a parte fala-se muito do conflito entre a Rússia e a Ucrânia, mas muito poucos falam da necessidade de acabar com as suas catastróficas consequências e de encontrar uma solução honrosa para as duas partes. A equação é difícil, até porque a guerra tem sido alimentada por um discurso belicista dos meios de comunicação e dos poderes que os dominam, apresentando-a como inevitável, enquanto se acentua a prosperidade de algumas indústrias do armamento, a mostrar que há quem ganhe com esta guerra. Essas posições também têm sido sustentadas por alguns estrategas especializados em data recente e até por alguns dirigentes com interesses políticos particulares.
Porém, há países que começam a sentir o custo demasiado elevado desta guerra e a pressão das opiniões públicas, que exigem que a Diplomacia pare com a guerra, faça negociações e alcance a paz.
Uma outra importante variável nesta equação é a eleição presidencial americana que ocorrerá em Novembro e que, por razões diversas, parece estar a preparar a progressiva saída dos Estados Unidos deste conflito, porque o país tem presente os traumas do Vietnam, do Iraque e do Afeganistão. Assim, tem sido Emmanuel Macron a procurar apresentar-se como um pequeno Napoleão do século XXI, através de iniciativas que supostamente tendem a resistir ao eventual expansionismo russo, havendo vários estados-membros da NATO e da União Europeia que consideram a hipótese de enviar tropas para a Ucrânia, o que representaria o aumento da escalada belicista e, possivelmente, o início de uma confrontação numa escala incontrolável que as opiniões públicas europeias já afirmaram não desejar. Neste quadro, a questão levantada pela mais recente edição da revista Newsweek, na sua habitual linha belicista, é muito pertinente: Can Europe Fight Alone?

domingo, 17 de março de 2024

Os lucros escandalosos da banca lusitana

Entre as novidades que nos últimos dias preencheram os nossos noticiários destacou-se a informação de que os “grandes bancos lucram quase 12 milhões por dia em 2023”, que serviu de título à edição de ontem do Diário de Notícias. Segundo foi divulgado, os seis maiores bancos a operar em Portugal – CGD, BPI, Millennium BCP, Montepio, Novobanco e Santander – tiveram lucros de 4,33 mil milhões de euros, o que significa um aumento de cerca de 69% em relação ao ano anterior, com a CGD que é o banco do Estado, a ultrapassar tudo e todos com um lucro de 1,29 mil milhões de euros. É difícil de entender, em tempos de tanta incerteza interna e internacional, como é possível este “assalto” aos depositantes, patrocinado pelo BCE, pelo BP e, naturalmente, pelo governo da República.
Os valores que têm sido apresentados como um exemplo de excelência na gestão, não são mais do que um escandaloso exemplo de extorsão, porque assentam na prática de uma margem financeira – diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e os juros pagos nos depósitos – que permitiu que, só com essa injusta prática, aqueles bancos encaixassem 9,68 mil milhões de euros. Porém, o “assalto” aos depositantes tem outras vertentes, de que se destaca a escandalosa prática da cobrança de despesas de manutenção das contas bancárias.
Ao anunciar estes resultados pudemos ouvir um gestor a dizer-se orgulhoso com este escândalo, em que os bancos se enchem à custa de quem precisa de crédito para habitação, para compra de carro, para uma intervenção cirúrgica ou para estudar.
Vem-nos à memória o Poemarma escrito em 1964 por Manuel Alegre:
                    Que o poema assalte esta desordem ordenada
                    Que chegue ao banco e grite: abaixo a pança!

sábado, 16 de março de 2024

Evocação de precursores do 25 de Abril

Perfazem-se hoje 50 anos sobre a operação, protagonizada por alguns militares do Regimento de Infantaria Nº 5 (R.I. 5), sedeado nas Caldas da Rainha, cujo objectivo era a mudança do regime autoritário que dominava o país desde 1926. Viviam-se tempos de grande insatisfação na sociedade portuguesa devido à repressão e à intolerância política, às dificuldades económicas e ao subdesenvolvimento, à guerra e ao isolamento internacional e, sobretudo, à intransigência do regime na procura de soluções para a problema colonial com que o país se confrontava desde 1961.
Nos meios militares, onde o problema da guerra era mais sensível, pelo cansaço e pela convicção crescente de que a solução era política e não militar, surgiram sinais de contestação protagonizados por oficiais do Exército congregados em torno de um “Movimento dos Capitães”, que se foram acumulando e que geraram a necessidade de uma intervenção militar para mudar o regime. No dia 5 de março de 1974, numa reunião realizada em Cascais, esse movimento deu origem a um Movimento das Forças Armadas (MFA), tendo sido aprovado o documento intitulado “O Movimento, as Forças Armadas e a Nação”, que salientava que a guerra “é uma questão gravíssima e está na base de uma crise geral do regime, já incontrolável pelo poder” e que “sem democratização do país não é possível pensar em qualquer solução válida para os gravíssimos problemas que se abatem sobre nós”. O regime reagiu e no dia 9 de março destacou compulsivamente vários oficiais tidos como agitadores, pensando que dessa forma calava a contestação. No dia 13 de março, mais de uma centena de oficiais da Marinha solidarizaram-se com os seus camaradas do Exército e, no dia seguinte, o regime destituiu os generais Costa Gomes e António de Spínola, tidos por aliados dos oficiais contestatários. 
No dia 16 de março de 1974, os militares do R.I. 5 sairam das Caldas da Rainha e avançaram sobre Lisboa. Reagiram emocionalmente e não tiveram sucesso. Hoje o jornal Público evoca essa jornada protagonizada por homens generosos e muito corajosos, mas a sua iniciativa foi um bom ensaio geral, como se verificou cerca de quarenta dias depois, naquele que foi o "dia inicial, inteiro e limpo".

sexta-feira, 15 de março de 2024

A viagem de um Concorde-peça-de-museu

Um avião Concorde com as cores da British Airways percorreu nos dois últimos dias o rio Hudson sobre uma barcaça, desde os estaleiros navais GMD em Brooklyn até ao Intrepid Sea, Air and Space Museum, situado no Pier 86 em Manhattan, na cidade de Nova Iorque. Por razões de segurança, a viagem foi feita em duas etapas, o que permitiu a captura de interessantes fotografias do famoso avião a passar pela Estátua da Liberdade e pelo World Trade Center, além de outros edifícios marcantes do West Side, uma das quais foi publicada em primeira página na edição de hoje do jornal londrino The Times.
O Concorde foi o avião comercial mais rápido do mundo, tendo realizado a mais rápida viagem entre os aeroportos JFK (Nova Iorque) e Heathrow (Londres) em 2 horas, 52 minutos e 59 segundos. No ano de 2003 um Concorde chegou ao Intrepid Museum, um museu instalado a bordo do navio-museu USS Intrepid, um porta-aviões da época da 2ª Guerra Mundial que se encontra no Pier 86, no West Side de Manhattan. 
Neste museu, o Concorde tornou-se a sua principal atracção, mas no passado mês de Agosto foi retirado da sua exposição permanente para ser sujeito a uma demorada operação de restauro nos estaleiros de Brooklyn. Como então se escreveu, o avião que voara à supersónica velocidade de 2.160 km/h, fez uma viagem subsónica para Brooklyn numa barcaça a 9,2 km/h.
Agora, depois de concluídos os trabalhos de restauro e repintura, o British Airways Concorde regressou a casa para recuperar a sua condição de atracção maior.

quarta-feira, 13 de março de 2024

A dívida pública em Portugal e na França

Depois da dívida pública portuguesa, interna e externa, ter atingido um pico de 131,5% do PIB em 2016 e um máximo histórico de 134,9% em 2020, quando houve que dar resposta à crise pandémica, em finais de 2023 baixou para 98,7% e fixou-se em 263 mil milhões de euros. É a primeira vez, desde 2009, que a dívida pública portuguesa se situa abaixo dos 100% e, embora o Eurostat ainda não tenha divulgado as estatísticas relativas a 2023, com base nos últimos resultados conhecidos é possível estimar que Portugal esteja melhor do que a Grécia (166,5%), a Itália (142,4%), a França (111,9%), a Espanha (111,2%) e a Bélgica (106,0%).
A Moody’s reconheceu a forma positiva como evoluiu a dívida pública portuguesa e elevou a respectiva notação de risco para o nível A, o que significa juros mais baixos para o Estado e para a economia portuguesa. Apesar desta evolução muito positiva, em 2024 ainda estão previstos 7,1 mil milhões de euros com juros da dívida pública portuguesa.
Inversamente ao que se passa em Portugal, a França passa por um período de derrapagem das contas públicas que está a gerar inquietação, como revela a imprensa francesa, designadamente a edição de hoje do diário La Croix.
A dívida pública francesa tem aumentado a uma média anual de mais de 100 mil milhões de euros e em 2024 excederá 3.200 mil milhões de euros (12 vezes maior que a dívida portuguesa), como consequência de défices públicos da ordem dos 5% e de um nível de despesa pública superior à média europeia, “sem satisfação equivalente do cidadão quanto à qualidade dos serviços públicos”.
Portugal a melhorar e a França a piorar. Comparando as duas realidades face à gestáo da dívida pública, encontra-se a prova da qualidade e da competência com que as autoridades portuguesas, no Governo e no Banco de Portugal, dirigiram nos anos mais recentes a actividade financeira do Estado Português. O meu aplauso,

segunda-feira, 11 de março de 2024

Uma vitória frágil, um país partido

Com absoluta normalidade democrática realizaram-se ontem as eleições para a Assembleia da República, de que resultará o futuro XXIV Governo Constitucional de Portugal. Embora ainda não estejam apurados os votos dos círculos eleitorais da Europa e de Fora da Europa que elegem quatro deputados, os resultados apurados nos 308 concelhos e 3092 freguesias continentais e insulares indiciam a vitória da Aliança Democrática (AD) e o segundo lugar para o Partido Socialista (PS), separados apenas por alguns milhares de votos, que representam menos de um por cento dos cerca de três milhões e meio de votos que ambos receberam. Estão já assegurados 79 deputados para a AD e 77 deputados para o PS, o que significa que, no limite e em termos teóricos, o PS ainda pode vir a ter mais deputados do que a AD. Os deputados destas duas forças políticas representam cerca de 70% do total de deputados e, depois de alguns anos de governos do PS, a alternância democrática funcionou e agora será a AD a governar, embora não se saiba se só, ou se acompanhada. O novo governo não tem maioria parlamentar e terá que fazer negociações e concessões, mas também não se sabe a quem, se à esquerda ou à sua direita, com a qual repetidamente recusou alianças.
Os tempos não vão ser fáceis para quem muito prometeu e vai ter as corporações à porta a cobrar essas mesmas promessas. A herança que vai receber é relativamente confortável em termos económicos e financeiros, mas há muitas questões pendentes e sensíveis a aguardar resposta, como o Serviço Nacional de Saúde ou o Novo Aeroporto de Lisboa. O que parece não haver dúvidas é que não se justificava a decisão presidencial de convocar eleições e que os próximos tempos vão ser muito instáveis, o que naturalmente não se deseja, pois já basta a enorme turbulência internacional em que vivemos. A capa da edição de hoje do Jornal de Notícias destaca a percentagem de votos da AD (29,52%), do PS (28,66%) e do partido que mais corporiza o protesto (18,08%), escrevendo, simplesmente: “uma vitória frágil, um país partido”.

domingo, 10 de março de 2024

Em busca de solução de paz para a Ucrânia

Nos últimos dias têm-se multiplicado as declarações sobre o conflito entre Rússia e a Ucrânia, destacando-se algumas propostas para que sejam iniciadas negociações de paz, o que é reclamado por meio mundo, que bem sabe como o conflito pode alastrar e atingir proporções catastróficas. Por isso, Putin e Zelensky têm que ser convencidos a conversar. 
Acontece que durante uma recente visita de Zelensky à Turquia, o presidente Recep Tayyip Erdogan afirmou que o seu país estava pronto para acolher uma cimeira de paz para “acabar com a guerra através de negociações”, mas não terá sido bem-sucedido. Também o Papa voltou a falar na necessidade de encontrar a paz. Da mesma forma, numa reunião do Conselho de Segurança das Nações Unidas, também a China apelou às partes envolvidas para que construam gradualmente um consenso e explorem conjuntamente soluções viáveis, pedindo negociações de paz directas com a Rússia e oferecendo a sua ajuda para “construir pontes”. A China apelou ao “diálogo directo” entre a Rússia e a Ucrânia com as partes à mesa de negociações para pôr um ponto final no conflito que já vai no seu terceiro ano. A edição dominical do diário chinês South China Morning Post que se publica em Hong Kong, desenvolve hoje este assunto, salientando que neste conflito não há vencedores e que “todos os conflitos devem terminar à volta da mesa de negociações”. Sobre esse assunto, o diplomata Geng Shuang, enviado especial da China às Nações Unidas, acentuou que “quanto mais cedo começarmos a conversar, mais cedo a paz chegará”.
Estas tentativas para encontrar soluções para o conflito têm encontrado resistências, tanto da parte russa como da parte ucraniana, porque ambos continuam a falar na derrota do outro, embora ambos estejam a ser derrotados nesta guerra. Entretanto, Zelensky continua a pedir cada vez mais armas, munições e dinheiro, enquanto Putin continua a ocupar território alheio e a lançar drones sobre as cidades ucranianas. A situação é complexa e ameaça a estabilidade mundial, pelo que se saúdam as iniciativas de paz da Turquia, da China, da Santa Sé, da Suiça e de outros países.

A comunidade cabo-verdiana e as eleições

Estão a decorrer hoje em Portugal as eleições para a Assembleia da República e, logo de manhã, eu cumpri o meu dever cívico e exerci o meu direito de votar.
A campanha eleitoral foi muito longa e a “caça ao voto” foi muito intensa, com muitas promessas, demasiado irrealismo, muita demagogia e alguma promiscuidade na comunicação social que, demasiadas vezes, manipula o eleitorado através da divulgação de sondagens e de comentários que sendo alinhados partidariamente, são publicitados como se fossem independentes. Não houve um verdadeiro esclarecimento do eleitorado e, por isso, os eleitores votam mais com a emoção e menos com a razão.
O eleitorado português é uma espécie de caleidoscópio com residentes de múltiplas origens, com nacionalidade portuguesa ou com dupla nacionalidade, mas também com não residentes, sobretudo as gentes da diáspora. Por isso, as eleições portuguesas interessam a muita gente, dentro e fora do território nacional.
Acontece que, por razões históricas, sociológicas e emocionais, existe em Portugal uma importante comunidade de origem cabo-verdiana que tem direito a voto e vota. As suas escolhas são certamente semelhantes às dos outros eleitores, mas a comunidade tem aspirações próprias, como revela o jornal cabo-verdiano A Nação, que é um diário que se publica na cidade da Praia desde 2007 e que, para além da sua edição impressa, pode ser assinado online. Na sua primeira página, o jornal publica uma fotografia de uma manifestação realizada por uma associação cabo-verdiana em defesa de uma “vida justa”, contra o racismo e de alerta pela ”ameaça da extrema-direita”, informando sobre “a presença de filhos dos imigrantes em listas de partidos políticos” e revelando que existem muitas preocupações quanto ao possível “recuo nas conquistas dos últimos anos”. Sintetizando, as eleições portuguesas são importantes para os portugueses de Cabo Verde, onde quer que vivam.

sábado, 9 de março de 2024

MH370: um mistério ainda por esclarecer

Aconteceu há dez anos e o caso continua por desvendar, tendo sido ontem recordado pelo jornal La Dépêche du Midi, que se publica em Toulouse.
No dia 8 de março de 2014 o voo MH370 da Malaysia Airlines, operado por um Boeing 777, largou do aeroporto internacional de Kuala Lumpur, na Malásia, com destino a Pequim, levando a bordo 227 passageiros e 12 tripulantes. Cerca de uma hora depois, quando sobrevoava o golfo da Tailândia com rumo a Pequim, o avião desapareceu dos radares e deixou de comunicar com terra. As autoridades chinesas de imediato enviaram navios de busca para a possível área de sinistro, mas os sinais encontrados e os resultados foram inconclusivos. A área de busca alargou-se, mas as informações eram desencontradas, com referências a manchas de óleo e possíveis destroços. Surgiu então a teoria de que o avião alterara a sua rota e as áreas de busca alargaram-se. Uma semana depois já havia 26 países envolvidos nas operações de busca com navios e aviões, tanto no mar do Sul da China como no oceano Índico, recorrendo-se também a vasta informação recolhida por via satélite. Aceitou-se então que o avião caíra no oceano Índico, mas no dia 30 de abril as buscas aéreas foram oficialmente encerradas.
Sete meses depois, iniciou-se uma nova fase de buscas com recurso a novos e mais potentes sonares, mas no dia 29 de janeiro de 2015, quase onze meses depois do desaparecimento do voo MH370, foi oficialmente aceite que se tratou de um acidente e que os 239 ocupantes do avião tinham morrido. Em finais de julho de 2015 foi encontrada uma parte da asa do avião junto da ilha da Reunião e outras peças do avião firam encontradas no Índico ocidental.
Em Janeiro de 2017 e três anos depois do acidente, as buscas foram oficialmente terminadas. Terão sido gastos 145 milhões de dólares nas buscas, tendo sido a mais complexa e mais cara operação deste tipo na história da aviação, mas o mistério continua sem que seja encontrada uma explicação.

sexta-feira, 8 de março de 2024

Violência e morte a norte de Moçambique

Há quase sessenta anos, no cumprimento de funções militares-navais no norte de Moçambique, visitamos com muita frequência as três dezenas de ilhas do arquipélago das Quirimbas e, de modo especial, a ilha do Ibo e a ilha Quirimba, que eram ambas habitadas.
A ilha do Ibo tem um passado histórico ligado aos tempos da escravatura, foi a sede da Companhia do Niassa e, até à independência moçambicana, a vila do Ibo foi sede de uma circunscrição territorial do distrito de Cabo Delgado. Quase contígua, encontra-se a ilha Quirimba, onde vivia uma família de origem alemã, que mantinha alguns negócios com base no óleo de palma e dava emprego a muitos naturais. Das três dezenas de ilhas do arquipélago, o Ibo e a Quirimba destacavam-se pelo elevado grau de ocidentalização de muitos dos seus habitantes e pela beleza da sua paisagem marítima, os areais e os recifes de coral, os mangais e os palmares, a cor das águas, bem como alguns vestígios de antigas fortificações portuguesas.
Em finais de 2017 começaram a manifestar-se no distrito de Cabo Delgado algumas acções muito violentas de insurreição islâmica conduzidas pelo grupo Ansar al-Sunna, que pretende criar um Estado Islâmico em Moçambique. As populações foram violentadas e daí resultaram cerca de 500 mil refugiados, tendo aquele grupo islâmico conseguido ocupar durante algum tempo algumas povoações litorais como Palma e Mocímboa da Praia, sem que as Forças de Defesa e Segurança (FDS) tivessem conseguido opor-se-lhe eficazmente. Os investimentos internacionais no petróleo e no gás da bacia do Rovuma estiveram suspensos. Porém, desde há vários meses que a situação parecia controlada. 
Agora, segundo anunciou ontem a folha informativa mediaFax, que se publica diariamente no Maputo, ”os terroristas entraram e ocuparam a ilha Quirimba sem qualquer reacção e oposição das Forças de Defesa e Segurança” e “parece que continuam a reinar e a governar”. Diz aquela folha que “há relatos de perseguição e decapitação de agentes das FDS na ilha” e que, na vizinha ilha do Ibo, "o ambiente de medo tomou conta da ilha".
Esta notícia é altamente preocupante e mostra como as FDS moçambicanas não conseguem impedir os avanços dos radicais islâmicos, mas também é chocante e dolorosa para quem conheceu intensamente aquelas ilhas, que imaginava serem um paraíso na costa oriental africana.

quinta-feira, 7 de março de 2024

A crise da habitação instala-se na Europa

Por circunstâncias diversas estamos na recta final de uma longa campanha eleitoral e a votação vai realizar-se no próximo domingo. Naturalmente que se deseja uma elevada participação dos eleitores, não só para exprimirem as suas escolhas, mas também para dar maior confiança aos escolhidos que irão ocupar as cadeiras da Assembleia da República.
As campanhas eleitorais dos partidos concorrentes são sempre um animado espectáculo para mobilizar os seus apoiantes e para capturar o voto dos indecisos, com muitas promessas aos eleitores e muitas críticas aos adversários, deixando para segundo plano a apresentação dos respectivos programas e a discussão dos temas dominantes que mais interessam ao eleitorado. Tem sido sempre assim, mas agora está pior, porque as promessas partidárias são demasiado irrealistas e esquecem sempre que os nossos recursos não são ilimitados. Todos querem mais salário, mais emprego, mais habitação, mais tudo... É verdade que há muito para fazer e para melhorar nos sectores da Saúde e da Educação, da Justiça e da Segurança, bem como em todos os sectores da nossa Sociedade. Porém, parece haver um egoismo corporativo e faltar uma ideia mobilizadora para os portugueses, semelhante à famosa expressão de John Kennedy: “Não perguntem o que é que o vosso país pode fazer por vocês, perguntem o que é que vocês podem fazer pelo vosso país”.
O jornal Le Monde destacava como manchete na sua edição de ontem que “La crise du logement s’installe dans toute l’Europe” e acrescentava que “da Suécia à Espanha, passando pelos Países Baixos e pela Grécia, as classes médias têm cada vez mais dificuldade em encontrar habitação nos centros das grandes cidades. A construção é insuficiente e o excesso de turismo acentuaram a escassez, enquanto os preços permanecem elevados”. A Habitação é, portanto, um problema europeu e não especificamente português, mas isso não travou os demagogos que não se cansaram de repetir promessas de “uma casa para todos” durante a campanha eleitoral.

quarta-feira, 6 de março de 2024

A festa da vitória e o beijo mais famoso

A edição de hoje do jornal New York Post deixa para segundo plano a Super Terça-feira eleitoral americana e dedica a sua manchete ao famoso beijo de 14 de agosto de 1945. Nesse dia, quando se festejava com entusiasmo a rendição final do Japão, o fotógrafo Alfred Eisenstaedt da Time & Life fez uma fotografia na Times Square em Nova Iorque, que mostra o marinheiro George Mendonsa a beijar a enfermeira Greta Zimmer. 
Esta fotografia tornou-se um ícone da vitória americana sobre o Japão, até que na passada semana, a senhora Rima Ann Nelson, subsecretária de Assuntos de Veteranos dos Estados Unidos, declarou aquela famosa foto "inapropriada" porque o beijo não foi consensual e determinou que essa fotografia fosse “imediatamente” removida de todas as instalações do Veteran Affairs. Felizmente para o bom senso, o secretário de Assuntos dos Veteranos, Denis R. McDonough, reverteu a decisão da sua subsecretária.
A história deste beijo é muito curiosa e aparece relatada no New York Post. O marinheiro George Mendonsa tinha 23 anos de idade e acabara de regressar das Filipinas. Encontrou-se com a sua namorada Rita Petry de 20 anos de idade e, juntos, foram juntar-se aos milhares de pessoas que festejavam o fim da guerra em Manhattan. Quando chegaram a Times Square, o George viu a enfermeira Greta Zimmer e, por momentos, deixou a Rita e agarrou-se àquela enfermeira num emocionado beijo, lembrando-se das enfermeiras que vira a retirar das águas do Pacífico algumas centenas de tripulantes do USS Bunker Hill, que fora afundado por dois kamikases japoneses.
O marinheiro George Mendonsa casou-se com a Rita Petry e a sua filha Sharon Molleur, agora com 67 anos de idade, revelou que os pais vieram a ser amigos próximos de Greta Zimmer. Esta é a história que hoje nos conta o jornal e que aqui se reproduz, numa love story bem ao estilo americano.

segunda-feira, 4 de março de 2024

Uma crónica taurina na praça de Olivença

O jornal el Periódico de Extremadura, que se publica na cidade de Cáceres, dá hoje grande destaque à Feria Taurina de Olivenza, que foi organizada pelo Ayuntamiento de Olivenza, mostrando uma fotografia a quatro colunas da principal corrida de touros realizada.
Quando da apresentação da feira e conhecendo a polémica existente em torno da tauromaquia, o alcaide de Olivença chamado Manuel González Andrade – um nome a revelar origem portuguesa, numa cidade que foi ocupada pelos espanhóis em 1801 e nunca foi devolvida como determinou o Tratado de Viena de 1815 – pediu “respeto pelo mundo del toro” e disse que “al que le guste que vaya a los toros y al que no le guste que no vaya, pero que respete la fiesta”, acrescentando que a feira taurina de Olivença constitui um cartaz de promoção da cidade, que atrai “amantes de la tauromaquia” de Sevilha, Salamanca, Lisboa e Córdoba.
A Feria Taurina de Olivenza realiza-se desde 1990 e está declarada “de interés Turístico Nacional”. Nesta sua 33ª edição, contou com duas corridas de touros e duas novilhadas com picadores que, na presente temporada, constituíram o primeiro grande evento da festa brava espanhola. Na principal corrida da festa realizada ontem com touros dos irmãos Garcia Jiménez e Olga Jiménez, actuaram o matador sevilhano Morante de la Puebla, o jovem toureiro peruano Andrés Roca Rey e Juan Ortega, um toureiro sevilhano que é engenheiro agrónomo pela Universidade de Córdoba.
Dizem as crónicas que Roca Rey e Juan Ortega “cortaram orelhas”, mas que Morante de la Puebla não teve sorte na sua lide mas que, talvez por respeito aos seus 44 anos de idade, apenas foi ovacionado, enquanto os relatos de quem esteve em Olivença dizem que, entre os cinco mil e seiscentos aficionados que assistiram à corrida de touros, havia muitos portugueses.

Super Tuesday e corrida de octogenários

Para os eleitores americanos amanhã é a Super Tuesday, ou a Super Terça-feira, pois em 15 estados e um território – Arkansas, Califórnia, Colorado, Maine, Massachusetts, Minnesota, Carolina do Norte, Oklahoma, Tennessee, Texas, Utah, Vermont, Virgínia e no território de Samoa Americana – serão realizadas as eleições primárias. Os eleitores irão escolher os delegados desses espaços à Convenção Nacional de cada um dos dois grandes partidos americanos e tudo aponta para que Donald Trump e Joe Biden irão ser os escolhidos, pelo que parece assente que irão repetir o duelo presidencial de 2020.
As sondagens indicam, para ambos os partidos, que aqueles candidatos estão em larga vantagem face aos seus concorrentes. Porém, enquanto as hostes de Trump parecem estar a viver uma onda de grande dinamismo, as fileiras de Biden estão a sentir a falta de entusiasmo dos eleitores, bem como as fragilidades do actual presidente que continua com valores de popularidade muito baixos.
O duelo presidencial que se avizinha na mais poderosa nação do planeta é importante para o mundo e a edição de hoje do jornal alemão Tagesspiegel, que se publica em Berlim, destaca o duelo da Super Terça-feira que, de forma indirecta, amanhã vão travar Joe Biden e Donald Trump. A campanha eleitoral americana é uma verdadeira corrida de octogenários e aqueles que têm o privilégio de ter chegado aos oitentas, sabem muito bem que “a condição já não é o que era”, como nos sugere uma conhecida frase publicitária que nos diz que “a tradição já não é o que era”. Todos gostariam que nessa corrida estivessem corredores mais novos e, por isso, o mundo está muito apreensivo com a escolha que os americanos vão fazer.

domingo, 3 de março de 2024

Eleições e sondagens para todos os gostos

Na sequência da demissão do primeiro-ministro António Costa, vão realizar-se no próximo domingo as eleições antecipadas para escolher os deputados da nova Assembleia da República. É um momento importante da nossa vida colectiva e, por isso, é desejável que os cidadãos se esclareçam, que façam escolhas e que aconteça uma alargada participação eleitoral.
Vivemos em democracia e, por isso, são várias as forças políticas que se apresentam ao eleitorado com os seus candidatos, os seus programas e as suas intenções, em campanhas eleitorais dinâmicas e dispendiosas, muitas vezes transformadas numa desproporcionada festa e num rodopio de promessas, em que o esclarecimento dos eleitores é a coisa que menos interessa. Os debates televisivos também não servem para esclarecer os eleitores, pois não passam de exibições de candidatos e de uma verdadeira caça ao voto.
Os efeitos das campanhas eleitorais são muito limitados, como Paul Lazarsfeld já concluira em 1944 na sua obra de referência The People’s Choice, pois o seu objectivo é apenas o de fidelizar os eleitores que já fizeram as suas escolhas e de atrair os eleitores ainda indecisos. As sondagens de opinião realizadas e divulgadas durante a campanha eleitoral, tal como as campanhas eleitorais, também visam a mobilização dos indecisos.
No caso das eleições parlamentares do próximo domingo, há quatro ou cinco sondagens que satisfazem todos os gostos, mas que enganam os eleitores, pois umas dizem que o A vai ganhar ao B, enquanto outras garantem que é o B que vai ganhar ao A. As empresas de sondagens ganham com este negócio e os meios de comunicação social que as divulgam, mostram os seus alinhamentos partidários disfarçados de independência e de objectividade. Hoje temos a sondagem da Aximage para o JN/DN/TSF (PS com 33,1% contra 29,6% da AD), a sondagem do ICS e ISCTE para a SIC/Expresso (AD com 21% contra 20% do PS) e a sondagem da Universidade Católica (AD com 33% contra 27% do PS). Com resultados tão diferentes, algumas destas sondagens não podem ser sérias. São manipulações da realidade sociológica para influenciar os eleitores. São mentiras que se disfarçam de seriedade.