quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

Adeus Goa, olá Lisboa!

Depois de alguns dias passados em Goa, estou de regresso a Portugal. O tempo que por lá passei satisfez as minhas expectativas e consegui fazer tudo o que eu tinha planeado fazer. Goa continua na sua onda de progresso acelerado e a alimentar o seu próprio estereótipo de “Europa da Índia”, o que leva a que multidões de turistas indianos a visitem e contribuam para a descaracterização cultural cada vez mais rápida do território.
No entanto, está a acontecer em Goa um caso muito curioso: a importantíssima actividade mineira foi suspensa pelo Bombay High Court, que tem jurisdição nos Estados de Maharashtra e Goa, ao dar provimento às queixas e às pressões das associações ambientalistas que vinham acusando a indústria mineira de estar a provocar uma verdadeira catástrofe ambiental em Goa. As três centenas de explorações mineiras a céu aberto, muitas delas operando intensivamente e à margem da lei, alteraram a paisagem goesa, destruíram áreas enormes, produziram autênticas montanhas de terra, lama e minério de ferro de baixo teor, que são materiais não tratados e altamente instáveis, que ameaçam abater-se sobre aldeias e os campos e que já estão a poluir os rios e os inúmeros cursos de água.
Acontece que a indústria mineira, juntamente com o turismo, são as principais actividades económicas de Goa, pelo que esta decisão revela muita coragem ao enfrentar interesses económicos muito poderosos, o que não é nada comum no mundo contemporâneo.
Ao largo da barra de Goa não se vêem agora as dezenas de navios mineraleiros em espera, nem nos rios Mandovi e Zuari se observam as centenas de barcaças que faziam o transporte do minério, desde o interior até aos navios fundeados. Há uma mudança visível na paisagem goesa e a poeira avermelhada desapareceu de muitas áreas que recuperaram a sua cor verde natural. Porém, a indústria mineira cresceu exponencialmente nos últimos anos devido à procura do Japão e da China, empregando actualmente muitos milhares de pessoas nas minas, no transporte do minério e nas actividades conexas. Assim, esta suspensão está a ter consequências económicas muito sérias e a colocar em causa a coesão social goesa, até porque a suspensão da actividade significa muito desemprego. À calamidade ambiental pode suceder uma calamidade social. Porém, neste caso, a arrogância e a ganância do poder económico foram travadas pela Justiça, devido à pressão dos ambientalistas e das estruturas democráticas de participação popular. É um bom exemplo a mostrar que, mesmo em nome da economia, não pode valer tudo.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Eu falo português em Goa!

Amanhã parto para Goa, onde vou visitar amigos e rever lugares pelo que, durante algum tempo, estarei ausente deste espaço.
Voltar a Goa é sempre um reencontro com uma terra acolhedora, cultural e paisagisticamente muito rica, cheia de contrastes na sociedade e no ordenamento, que quase se assemelha a um caleidoscópio de cores e de sabores, mas também de línguas e de religiões. A dinâmica desenvolvimentista e o ritmo de transformações que se verificam na sociedade e na economia goesas são bem evidentes para o visitante frequente e não precisam de ser atestadas por quaisquer indicadores.
Goa é o mais pequeno, mas também é o Estado mais próspero de toda a União Indiana e, depois de 451 anos de presença portuguesa, o território e em especial as cidades de Pangim e Margão, continuam a exibir muitos traços da cultura portuguesa, reconhecíveis na sociedade e no quotidiano, na arquitectura e no traçado urbano, na gastronomia e nas práticas festivas, nos costumes sociais e no uso do Código Civil, na paixão pelo futebol e no gosto pelo Carnaval mas, sobretudo, na língua portuguesa. Naturalmente, a língua portuguesa tende a perder importância em Goa, mas é do interesse da Lusofonia preservar, estimular e apoiar a sua preservação, o seu uso e o seu ensino, com base nos acordos culturais estabelecidos com as autoridades indianas e através das instituições adequadas para esse efeito. Trata-se de uma exigência histórica e cultural e, por isso, terá que ser um parâmetro ou uma directiva permanente da nossa acção externa.
Eu falo português em Goa!

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O Município de Lisboa é um gigante

Nas remessas de correio electrónico mais ou menos indesejado que todos recebemos diariamente, chegou-me uma informação relativa aos quadros de pessoal da Câmara Municipal de Lisboa (CML), que referia a existência de 2521 Técnicos Superiores, licenciados ou doutorados, designadamente 330 arquitectos, 101 assistentes sociais, 73 psicólogos, 104 sociólogos, 146 licenciados em marketing, 260 engenheiros civis, 156 historiadores e 303 juristas, entre outros profissionais. Não era referido se a situação era actual ou passada, mas estranhei um tão numeroso exército de gente qualificada pelo que fui procurar a confirmação dessa informação. Julgo ter encontrado uma resposta no Boletim Municipal da CML, nº 937, Suplemento 2 (Fevereiro de 2012), que inclui o Mapa de Pessoal do Município de Lisboa para 2012, anexo ao Orçamento para o mesmo ano. O Mapa apresenta os elementos relativos a 2011 e estabelece a sua evolução para o ano de 2012. No que respeita aos Técnicos Superiores está prevista em 2012 a sua redução de 2616 para 2539 elementos (-2,9%) e lá estão 343 arquitectos, 321 juristas, 270 engenheiros civis, 160 historiadores, 150 licenciados em Ciências da Comunicação e 104 sociólogos. A informação que eu recebera estava certa e apenas pecava por defeito!
No entanto, a CML parece estar alertada para o seu gigantismo e estar a actuar com sensatez e sem sobressaltos, pois em 2012 o número total de pessoal teria passado de 11.510 para 10.424 colaboradores (-9,4%), com o pessoal dirigente a passar de 197 para 166 (-15,7%) e os assistentes operacionais a passarem de 4599 para 3975 elementos (-13,5%). Há, portanto, uma vontade de racionalizar estruturas e racionalizar custos, corrigindo os erros acumulados durante muitos anos. De resto, o texto que acompanha o Mapa de Pessoal destaca a efectiva redução do número de cargos dirigentes e faz referência à necessidade de potenciar recursos e de assegurar ganhos de eficiência, significando que a CML está atenta às realidades nacionais, mas que não precisou de recorrer aos estagiários do FMI como fez o deslumbrado moedas que, por isso, muito tem levado na cabeça.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

A nossa língua é uma “jóia da coroa"

Alguns jornais espanhóis e latino-americanos destacaram nas suas edições de hoje uma informação fornecida pelo Instituto Cervantes no seu anuário de 2012: com mais de 495 milhões de falantes, a língua espanhola é a segunda língua mais falada do mundo, logo a seguir ao mandarim. O diário madrileno ABC destaca essa notícia em primeira página, com a informação de que o Instituto Cervantes é o órgão que promove o ensino da língua e da cultura espanholas em todo o mundo e que está presente em 77 cidades de 44 países, sobretudo na América e na Ásia.
O anuário também informa que o espanhol é o segundo idioma de comunicação internacional depois do inglês e que é o terceiro mais utilizado na internet, logo a seguir ao inglês e ao mandarim, referindo que há actualmente mais de 18 milhões de estudantes que aprendem o espanhol como língua estrangeira e que, em 2012, o Instituto Cervantes registou um crescimento de 8% no número de estudantes matriculados. Na cerimónia de apresentação do anuário o ministro dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação de Espanha referiu-se ao Instituto Cervantes como “a jóia da coroa” da acção externa da Espanha e alertou para “o perigo que representa a globalização” no que respeita à aquisição de uma cultura universal uniforme e de padrão anglo-saxónico.
A língua portuguesa é, depois do inglês e do espanhol, a mais falada das línguas europeias e, por isso, o alerta espanhol também nos deve preocupar. Assim, bom seria que o Instituto Camões também fosse “a jóia da coroa” da nossa acção externa. Aparentemente, porém, é apenas a promoção das exportações que mobiliza a nossa acção externa e não sei se a acção do Camões tem o reconhecimento concreto e o apoio orçamental que se justifica.

O “coração da França” sob ameaça

A República do Mali é um país africano que se tornou independente da França em 1960, que tem cerca de 12 milhões de habitantes e a cidade de Bamako por capital. Tem uma área que é cerca de 14 vezes maior do que Portugal, fronteiras terrestres com 7 países e não tem saída para o mar. É um dos maiores países do continente africano, embora uma grande parte do país ocupe o sul do deserto do Saara, mas tem importantes recursos naturais explorados sobretudo por interesses franceses, pelo que nele residem alguns milhares de cidadãos franceses.
Nos últimos anos o país tem sido afectado por alguns golpes de Estado, o último dos quais aconteceu em Março de 2012 e levou Dioncunda Traoré ao poder. Acontece que muitos milicianos tuaregues que participaram das lutas na Líbia em defesa de Coronel Kadafi regressaram ao país muito bem equipados com o armamento que lhes tinha sido fornecido e fundaram um movimento (o MNLA) com o objectivo de proclamar a independência do Azawad ou Norte do Mali. Com o mesmo objectivo, um grupo radical islâmico ligado à Al Qaeda (o Ansar Dine), também invadiu a região. Estes grupos e alguns outros de menor expressão, têm combatido o exército regular do Mali e ameaçam tomar a capital e a totalidade do território do país. Perante essa ameaça à estabilidade do país e da região, o Presidente Traoré pediu ajuda militar à França com base nos laços históricos entre os dois países e o governo de François Hollande não hesitou. Foi lançada a operação “Serval” e, desde há alguns dias, que a aviação francesa e algumas centenas de soldados entraram em combate no Mali, numa acção que tem recebido o apoio dos franceses, das Nações Unidas e da comunidade internacional. É a guerra do Mali e, depois dos ataques franceses, os jihadistas ameaçaram retaliar e atingir "o coração da França”, bem como os cidadãos franceses em todo o mundo. A opinião pública francesa está inquieta por esta ameaça, mas também porque este tipo de intervenção militar pode eternizar-se e transformar-se num atoleiro do “tipo vietnam”.

domingo, 13 de janeiro de 2013

Uma nova atracção turística em Lisboa

Tive a oportunidade de visitar o Lisboa Story Centre – Memórias da Cidade, um centro de interpretação dedicado à história da cidade de Lisboa, com especial ênfase no terramoto de 1755 e nos planos do que é hoje a Baixa pombalina. O mínimo que se pode dizer é que o Terreiro do Paço continua a sua trajectória de transformação numa grande praça aberta à cultura e ao lazer e que conta agora com uma nova atracção turística, instalada junto do Torreão Nascente do Terreiro do Paço, no local onde antes teriam sido ministérios e repartições, com burocratas a entrar e a sair e com automóveis estacionados à porta. Trata-se de um projecto inédito de interactividade e tecnologia que se inspira em alguns dos acontecimentos que influenciaram a história da cidade e do próprio país, incluindo a época das descobertas e da expansão, a restauração de 1640, o terramoto de 1755 e a reconstrução da cidade sob a orientação do Marquês de Pombal, o regicídio de 1908 e a revolução de 1974. Ao recurso a fotografias, gravuras, mapas e réplicas junta-se a utilização de efeitos especiais que tornam a “viagem” numa experiência muito enriquecedora sob o ponto de vista pedagógico. O novo equipamento valoriza a oferta turística e cultural da cidade e ocupa uma área aproximada de 2.200 metros quadrados, divididos por dois pisos, propiciando uma visita de cerca de uma hora, orientada por um audioguia que acompanha todo o percurso e que, sucessivamente, explica os diversos conteúdos disponibilizados de forma sintética como convém. O Lisboa Story Centre – Memórias da Cidade está aberto todos os dias, das 10:00 às 20:00 horas e, apesar de não ser barato, bem merece ser visitado.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

Lutar contra a descrença e o pessimismo

A sociedade portuguesa está a atravessar um período muito depressivo, com desemprego muito elevado, quebra do poder de compra e aumento da pobreza, para além de muitos sinais de recessão económica, de crise social e até de decadência civilizacional. O desespero e a perda de confiança alastraram por todos os estratos da população, afectando sobretudo os jovens, o que tem conduzido a um aumento da emigração de gente muito qualificada, que procura no estrangeiro as respostas para os seus anseios. Neste quadro, que começa a ter algum dramatismo, tende a instalar-se a descrença e o pessimismo, ficando muita gente incomodada por não haver um discurso mobilizador contra a actual situação, a lembrar, aqui e no exterior, que somos uma nação quase milenária, com uma forte identidade nacional, com uma das mais faladas línguas do mundo e com uma história e uma cultura singulares.
A edição desta semana da revista Visão reage e é mobilizadora, dedicando uma reportagem especial aos “portugueses vencedores”, isto é, aos portugueses anónimos que, não aparecendo nas primeiras páginas dos jornais como acontece com os políticos e os futebolistas, se têm destacado nas suas carreiras profissionais de excelência, desde a ciência à arquitectura, da dança aos negócios, do cinema ao automobilismo, da medicina à publicidade.
São casos de grande inspiração que triunfaram no espaço global pelo trabalho e pela inteligência, que nos orgulham e alimentam a auto-estima, que nos ajudam a vencer o desânimo e a recuperar a confiança mas, também, que nos permitem ver como anda por aí tanta gente acidentalmente poderosa que, afinal, vale mesmo muito pouco.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

Há um cavalo de Tróia no nosso Governo

O governo português está a usar os secretários de estado, aqueles a quem o antigo chefe de governo e actual chefe de estado chamava “ajudantes”, para anunciar coisas importantes. Antes foi o anúncio da privatização da ANA, agora foi o comentário a um relatório do FMI. Em ambos os casos era de esperar a cara e a voz do nosso primeiro, mas ele prefere falar quando os jornalistas lhe estendem o microfone, por exemplo, à porta do Teatro Politeama.
Esse papel de porta-voz coube ao filho do Zé Moedas, um rapaz que entrou nisto da política há muito pouco tempo mas que é muito ambicioso. Andou lá por fora e trabalhou para o Goldman Sachs com o famoso Borges. Regressou, aderiu a um partido, foi o ajudante do Catroga nas negociações com o PS e, como era pequenino, meteram-no no cavalo de Tróia que o nosso primeiro trouxe para o governo. Sim, o Moedas era o cavalo de Tróia da Goldman Sachs no governo português, mas agora também aceitou ser o cavalo de Tróia do FMI. Moedas é um autêntico erro de casting
Pois foi essa figura sem currículo político que veio elogiar o relatório do FMI, no qual é verdadeiramente proposta a extinção do nosso Estado Social: o desemprego para 120 mil funcionários públicos, o corte permanente das pensões em 15 a 20%, a reforma aos 66 anos de idade, a dispensa de professores e o aumento das propinas, a redução do subsídio de desemprego, o ataque aos profissionais da saúde, aos militares e aos polícias. É um caso de adivinhação da vontade do freguês ou um "fato feito à medida". O relatório não propõe medidas para atenuar o desemprego ou para promover o crescimento económico, nem trata do combate ao despesismo e à corrupção, nem da reforma da componente político-partidária do regime que tem sido responsável pelo estado a que isto chegou.
O relatório e a frieza de quem o apresentou com insensatos risinhos hipócritas, estão a gerar uma onda de protestos e vão desencadear uma onda de indignação e de turbulência social. A insensibilidade social do governo atingiu o máximo com as declarações do filho do Zé Moedas.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Os submarinos e o referendo escocês

A integração federalista em curso na Europa confronta-se frequentemente com uma outra ideia, que corresponde a uma confederação de Estados que não renunciam aos seus direitos de soberania nacional. A “Europa das Pátrias”, como o general De Gaulle chamava a esta ideia, não só rejeitava o modelo federalista alemão (que a chanceler Merkel está actualmente a impor) como também representava uma resposta para a diversidade cultural europeia, expressa nas línguas nacionais, valores, símbolos, tradições e memória histórica. É nesse contexto de diversidade cultural e de crise económica e social que várias regiões europeias têm acentuado as suas aspirações independentistas. Uma dessas regiões é a Escócia.

A Escócia foi independente até 1707 e foi depois integrada no Reino Unido, mas o sentimento independentista nunca se perdeu e vai poder pronunciar-se através de um referendo a realizar em 2014 sobre se, sim ou não, quer tornar-se independente.

Os apoiantes das duas teses alinham argumentos e o jornal The Scotsman recorre aos submarinos nucleares britânicos para tomar posição, anunciando hoje que a frota submarina equipada com mísseis nucleares Trident continuará na sua base de Faslane on the Clyde, independentemente dos resultados do referendo, pois a mudança custaria ao governo britânico alguns milhares de milhões de libras. Por outro lado, a base da Royal Navy é um símbolo de prestígio e um importante pólo económico, pelo que o seu abandono se traduziria na perda de muitos milhares de postos de trabalho altamente qualificados e os independentistas escoceses temem esse cenário. 

O que é curioso é o facto da base de Faslane on the Clyde e os submarinos estarem a animar o referendo escocês.

Há mesmo muitos "jobs for the boys"

Ontem expressei aqui a minha surpresa pelo número de elementos que integram o gabinete do Secretário de Estado da Cultura, que achei exagerado, desproporcionado e, consequentemente, gerador de despesa supérflua e contributo para o agravamento do nosso défice público. Afinal, aquele caso não é singular. Alguém me chamou a atenção para o que se passa com o gabinete do nosso primeiro e fui verificar. E lá estão os nomes, a função, idade, data de nomeação e vencimento de 67 leais servidores do nosso primeiro e da causa pública, isto é, gente de confiança. É certamente gente sábia e experimentada. É um verdadeiro exército de 10 assessores, 10 secretárias pessoais, 7 adjuntos, 4 técnicos-especialistas, 13 técnicos administrativos, 12 motoristas e mais uma dezena de outros colaboradores. Haverá mais alguns, especialmente alguns rapazes musculados que dão pelo nome de seguranças. É manifestamente gente a mais. Muitos desses sábios e experimentados colaboradores são boys ou são compagnons de route do nosso primeiro. Desse exército de apoio há 22 elementos cuja remuneração mensal é superior a 3 mil euros e assim, ao fim de cada mês, são necessários cerca de 150 mil euros para pagar os salários desta malta, fora os extras que essa gente custa em deslocações e estadas, em viaturas, reparações, seguros e combustíveis, mais as horas extraordinárias, mais os subsídios disto e daquilo, mais os telefones e, em alguns casos, os cartões de crédito. Quando se vêem os jovens a abandonar o país, a brutalidade do desemprego, o pequeno comércio a fechar portas, a insegurança a instalar-se nas ruas e a coesão social a perigar, este tipo de comportamentos arrasa o contribuinte e o cidadão.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

2013: ainda há “jobs for the boys”

Hoje, o Diário da República, 2.ª série — N.º 5 (Parte C) inclui 26 despachos de nomeação assinados pelo Secretário de Estado da Cultura, que nomeiam outras tantas pessoas para exercer funções no seu gabinete, incluindo 3 adjuntos, 5 técnicos-especialistas, 3 motoristas, 2 secretárias pessoais e mais 13 pessoas. Lê-se e quase não se acredita. 
É com este tipo de opções que se consome o Orçamento do Estado e que não se consegue controlar o défice público. Um gabinete de um Secretário de Estado, mesmo que se trate de pessoa competente como parece ser o caso, não pode ter tanta gente a consumir recursos orçamentais, quer seja para fazer trabalho que compete às direcções-gerais, quer seja para alimentar clientelas ou, até, o próprio ego de um deslumbrado e ambicioso governante. São, evidentemente, "jobs for the boys". É um caso surpreendente de despesismo e de exibicionismo, infelizmente igual a muitos outros que acontecem nos gabinetes ministeriais, numa altura em que o governo avançou com o “napalm fiscal”, ao lançar um brutal aumento de impostos sobre os trabalhadores e os pensionistas. Todos recordamos que o governo chegou ao poder em 2011 com um discurso de combate às “gorduras do Estado” e, nesse sentido, uma boa parte destas 26 nomeações premeia os “boys”, mas apenas serve para aumentar essas mesmas gorduras.
É lamentável que muitos dos nossos governantes não conheçam a dura realidade que está a afectar os portugueses, nem saibam como é importante o bom exemplo da contenção como factor de mobilização nacional e de restauro da confiança.

Messi – the best foot-player of the year

A FIFA realizou ontem em Zurich a noite de gala do futebol europeu, escolhendo os melhores e Leonel Messi foi eleito, pela quarta vez consecutiva, o melhor futebolista do mundo. Eu não votei mas certamente também votaria nele, embora em Portugal houvesse algumas espectativas quanto à possibilidade de que o eleito tivesse sido Ronaldo, porque também é um grande futebolista e, em 2012, terá tido mais êxitos desportivos do que o seu rival argentino. Há quem diga que Ronaldo é o “melhor do mundo”, mas essas mesmas pessoas também dizem que Messi é o melhor “do outro mundo”.
Em todo o planeta não existe nenhum outro cidadão português tão conhecido como Ronaldo e, o facto de ser o segundo melhor futebolista do mundo, é motivo suficiente de contentamento para os portugueses e de incentivo para o próprio jogador, até porque a escolha é um processo muito subjectivo que não é isento de influências externas. Messi beneficiou de uma intensa campanha de promoção, construída a partir da imprensa de Barcelona que, quase diariamente, publicava o seu elogio e a sua fotografia, havendo quem opine que essa promoção está associada às reivindicações independentistas catalãs.  
Desta vez também foi escolhida a “equipa do ano”. São 11 futebolistas que jogam em Espanha. Foi a apoteose da Liga Espanhola, como titula a Marca. São 6 espanhóis, dois brasileiros, um argentino, um colombiano e um português. Cinco deles jogam no Barcelona e cinco no Real Madrid. Nenhum joga na Inglaterra, na Alemanha ou na Itália, o que é muito estranho e parece mostrar como a FIFA está “colonizada” pelos interesses futebolísticos espanhóis. A FIFA e os seus critérios parece terem cedido à espanholização.

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

Copacabana Palace

O jornal i já tinha dado a notícia, mas a edição de hoje do Correio da Manhã confirmou-a e até publicou algumas fotografias relativas ao  acontecimento: o Hotel Copacabana Palace, localizado em frente da famosa praia de Copacabana no Rio de Janeiro, hospedou durante os festejos da passagem do ano três conhecidas figuras políticas portuguesas que ocupam ou ocuparam importantes lugares no governo. O hotel é mundialmente conhecido por hospedar as maiores celebridades internacionais que visitam a cidade-maravilhosa e, também, por promover a realização de alguns dos mais procurados eventos sociais do Brasil. É um famoso centro de negócios e das mais diversas negociatas, incluindo o famigerado “mensalão”. 
Numa época em que insistentemente nos é dito que “temos vivido acima das nossas possibilidades”, que “temos que consumir o que é português” e que “temos que aumentar a poupança”, o exemplo que nos foi dado por esses três políticos – Relvas, Loureiro e Arnaut – é escandaloso, imoral e obsceno. Envergonha-nos. Eles não são umas quaisquer figuras. São antigos secretários-gerais do PSD. Foi o partido que os tirou da vida remediada e lhes abriu as portas da fortuna. Foram ou são ministros, mas são uns novos-ricos. Foram exibir e esbanjar muito dinheiro para o Brasil, numa altura em que muita gente passa por grandes sacrifícios em Portugal. Relvas (ministro) é o tal que se licenciou sem ter estudado e é um dos rostos do governo que nos está a mergulhar na "espiral recessiva" e a comprometer o futuro; Loureiro (ex-ministro) é um dos rostos da fraudulenta gestão do BPN que nos está a custar alguns milhares de milhões de euros; Arnaut (ex-ministro) é o rosto da sociedade de advogados que presta serviços de duvidosa transparência relativos às privatizações. É um trio que envergonha a classe política e o próprio partido que os criou. Nada os distingue dos canalhas e dos trafulhas.

sábado, 5 de janeiro de 2013

Há negócios que nem sempre correm bem

A edição de hoje do diário luxemburguês Le Quotidien dá um grande destaque a Cristiano Ronaldo, com uma fotografia do futebolista a toda a largura da primeira página. Na imprensa desportiva, sobretudo em Espanha, a imagem e o nome de Ronaldo aparecem com muita frequência, mas quando isso acontece no Luxemburgo com aquele destaque, ficamos com acrescida curiosidade, até pelo título do jornal a informar que “em Esch-sur-Alzette há um cartão vermelho para as irmãs de Ronaldo”. 
A história é simples. Um tal Albano Mariz quis ser o primeiro comerciante a abrir uma loja CR7 fora de Portugal, para vender a linha de roupa Cristiano Ronaldo e atrair a comunidade portuguesa do Luxemburgo. O seu sonho concretizou-se no passado dia 20 de Agosto quando a sua loja foi inaugurada no Centro Comercial Marco Polo em Esch-sur-Alzette. Porém as coisas não têm corrido bem e, contrariamente aos contratos celebrados com a empresa de roupas das irmãs de Ronaldo, o comerciante terá recebido restos de colecções e produtos não adequados à procura esperada por parte dos portugueses. Depois terá recebido a colecção de Inverno, mas os produtos recebidos seriam falsificados e de origem chinesa. Há negócios que nem sempre correm bem e comerciante entrou em desespero, com produto de má qualidade para vender e sem clientela. 
Segundo informa o jornal, Albano Mariz cancelou hoje seu contrato e interpôs uma acção judicial contra a empresa de roupas gerida pelas duas irmãs de Cristiano Ronaldo, tendo estimado o seu prejuízo em um milhão de euros. Se a história que envolve os nossos compatriotas é aquela que é contada pelo Le Quotidien, então é um caso lamentável que nada ajuda ao bom nome da comunidade portuguesa no Luxemburgo.

Uma governança que vai de mal a pior

Os primeiros dias deste novo ano de 2013 têm sido desastrosos para a imagem e para a credibilidade do governo português, não só devido à severidade da mensagem presidencial, das declarações de Mister Barroso e de um artigo do antigo presidente da Assembleia da República, mas também devido à dureza dos comentários que têm sido feitos pelos opinion makers. A tudo isto juntou-se a divulgação pelo Tribunal de Contas da Auditoria de seguimento das recomendações aos gabinetes governamentais (Relatório nº 36/2012 – 2ª Secção, Novembro de 2012) que, ao longo de 85 páginas, analisa as despesas de funcionamento dos gabinetes dos membros do governo, concluindo que “não existe evidência de que as despesas de funcionamento dos gabinetes dos membros do Governo tenham diminuído”. Assim, a austeridade que está a ser imposta aos portugueses e que se está a traduzir numa enorme perda do rendimento das famílias, levando a uma quebra na procura interna e a uma acentuada recessão da economia, parece não estar a ser seguida pelos governantes. O governo criticara os seus antecessores pelo seu elevado despesismo, mas comporta-se exactamente da mesma maneira e, só o gabinete do primeiro-ministro tem um numeroso quadro de pessoal com 50 pessoas, incluindo 12 adjuntos, 10 assessores, 15 secretários pessoais e 12 motoristas, para além de vários especialistas e do pessoal da segurança. Os 49 membros do governo, incluindo o primeiro-ministro, os 11 ministros e os 37 secretários de Estado parecem gastar com pouca regra e o Tribunal de Contas salienta “a inexistência de um tecto máximo para as despesas dos gabinetes”, bem como “a manutenção de uma opacidade a revelar que persistem anomalias, situação que deve ser ultrapassada em nome do rigor e da transparência orçamental”, criticando a ausência de regras relativas às chamadas regalias extra-salariais e acessórias (cartão de crédito, uso de viatura e despesas com telefone). A mensagem presidencial de Ano Novo salientou: “Precisamos de recuperar a confiança dos portugueses. Não basta recuperar a confiança externa dos nossos credores”. Porém, não é com estes exemplos que se recupera a confiança dos portugueses. O governo e a governação vão de mal a pior.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

A recessão no mercado automóvel

Uma das faces mais visíveis da recessão económica que está a afectar a Europa é a situação do mercado automóvel. A imprensa espanhola e francesa destacam hoje essa realidade na perspectiva do consumo e na perspectiva da produção, com títulos como “pinchazo histórico en las ventas de coches” ou “automobile: éviter la panne” ou, ainda, “la double crise de l’automobile française”.
Em Espanha (699.589 carros vendidos) não se vendiam tão poucos automóveis desde 1989 e a quebra de vendas em 2012 foi de 13,4% relativamente a 2011; em França (1.899 mil carros vendidos) desde 1997 que as vendas de automóveis não eram tão baixas, tendo havido uma quebra de 13,9%. Em Portugal (95.290 carros vendidos) os números são semelhantes, mas mais graves, pois a quebra foi de 37,9% e há 27 anos que não se vendiam tão poucos automóveis!
Apesar da quebra geral no consumo, verifica-se que as marcas alemãs BMW, Mercedes e Audi, são as que menos perdem nos três países do sudoeste da Europa. Em Portugal essas três marcas venderam 17.864 unidades, isto é, tiveram uma quota de mercado de quase 20%. É impressionante. Assim, ficam evidenciadas duas coisas: que a crise toca a todos mas de maneira diferenciada e que o gosto pelos carros topo de gama não é só português.
Estes números são o reflexo das políticas de austeridade e da crise do consumo que se espera sejam ocasionais, mas também são uma preocupação para o sector da produção e para o emprego, sobretudo em França, até porque se anuncia que no ano de 2013 a China produzirá mais automóveis do que toda a Europa. Ora aqui está mais um bom tema de reflexão.

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

A personalidade do ano de 2012? Ora essa!

Nos últimos dias os meios de comunicação social fizeram as habituais retrospectivas sobre os acontecimentos que marcaram o ano de 2012 e, muitos deles, escolheram o facto e a personalidade do ano. Em Portugal aconteceu a mesma coisa e a escolha tem recaído maioritariamente no homem que gere a pasta das Finanças, o que me parece muito caricato, porque os resultados que ele tem obtido são muito fracos. Quase tudo se tem agravado, mas o homem anda deslumbrado com os elogios alemães e a fazer parelha com o nosso primeiro ao melhor estilo “Senhor Feliz e Senhor Contente”. Ainda há alguns fiéis nesta comédia, mas o aplauso vem sobretudo dos borges, dos moedas e dos relvas, isto é, da malta das negociatas. Certamente, o homem terá sido bom estudante e terá alguns méritos em várias coisas teóricas, mas é um desastre na gestão concreta das nossas finanças públicas. Falha em tudo. Trata as pessoas como números e julga que a nossa equação financeira se resolve numa folha de excel. Não consegue travar o défice. Não consegue reduzir a dívida. Faz aumentar as falências e o desemprego. Afunda a economia. Vende as nossas jóias da coroa. Rouba-nos a confiança e ameaça vender o país. Tem sido assim ao longo de muitos meses, com insensibilidade social, cegueira económica e arrogância política. E ainda há quem o considere a personalidade do ano!
Agora tivemos a tradicional mensagem presidencial de Ano Novo e, entre outras valentes marteladas que foram dadas ao passos-gasparismo a propósito das falhadas políticas de austeridade, ouvimos:
“Temos que pôr cobro a esta espiral recessiva em que a redução drástica da procura leva ao encerramento das empresas e ao agravamento do desemprego…. É aí, no crescimento económico, que temos que concentrar esforços… Precisamos de recuperar a confiança dos Portugueses. Não basta recuperar a confiança externa dos nossos credores… Temos argumentos – e devemos usá-los com firmeza – para exigir o apoio dos nossos parceiros europeus, de modo a conseguir um equilíbrio mais harmonioso entre o programa de consolidação orçamental e o crescimento económico”.
Tudo isto tem sido repetidamente enunciado desde há muitos meses por muita gente, mas o fundamentalismo e a arrogância do passos-gasparismo não deram ouvidos a ninguém. E agora? Está na hora?