quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Postais turísticos de Coimbra

Coimbra é uma cidade de património e de cultura, uma terra de memórias para muita gente e um local que sempre se visita (e fotografa) com agrado. Ontem aconteceu-me isso na Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes, uma das artérias que liga a Baixa à Alta da cidade.
Ao longo dessa rua existe uma parede decorada com vários painéis de azulejos azuis e brancos que representam vários monumentos localizados na cidade e a sua história é simples: depois de Abril de 1974, esse extenso muro situado em frente do Mercado D. Pedro V, foi transformado num mural de tipo revolucionário, repetidamente pintado e repintado. Em 1984 foi decidido requalificar esse muro, revestindo-o com azulejos encomendados ao artista gráfico Amílcar Matias. Porém, embora o trabalho produzido tenha um excelente desenho, apenas corresponde a uma colagem de azulejos a lembrar uma série de “postais turísticos de Coimbra”, colocados numa parede branca e esteticamente fria, sem um adequado enquadramento e sem que se lhe reconheça o estatuto artístico que a cidade merecia.
E vem-nos à memória o painel de João Abel Manta existente na Avenida Gulbenkian em Lisboa (1982) ou o painel da Ribeira Negra de Júlio Resende, colocado à saída do tabuleiro inferior da Ponte de D. Luís I, no Porto (1985), que são contemporâneos dos painéis a que chamei “postais turísticos de Coimbra”.
Porém, uma manhã solarenga na Rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes permite um curioso jogo de sombras e uma interessante fotografia, até ao mais amador dos fotógrafos.

Macau é exemplo do dinamismo oriental

Realizou-se ontem em Macau a cerimónia do lançamento da primeira pedra de um novo e imponente projecto imobiliário do MGM China Holdings que vai ser desenvolvido no Cotai e que incluirá 1600 quartos de hotel, 500 mesas de jogo e 2500 slot machines, embora 85% da sua área bruta seja dedicada à oferta extra-jogo, como restaurantes, lojas, espaços de diversão, estacionamentos e uma área pedonal de servidão pública. A MGM China Holdings é detida em 51% pelo grupo americano MGM Resorts, numa parceria com Pansy Ho, a filha de Stanley Ho que é a administradora-delegada da MGM macaense. O projecto tem um orçamento de 2,5 mil milhões de USD e terá que ser concluído até Janeiro de 2018, mas os seus promotores esperam antecipá-lo em dois anos.
O Cotai ou Zona do Aterro de Cotai é uma área de aterros que liga as ilhas da Taipa e Coloane e daí o seu nome (Co de Coloane mais tai de Taipa). Esta extensão territorial de Macau que foi conquistada ao mar, foi estudada e começada a formar nos anos 60 e em 1968 foi inaugurada uma estrada a ligar as duas ilhas. A zona de aterros continuou a ser aumentada mas só depois de 1999, com a transferência da administração de Macau para a República Popular da China, foi intensificada a sua formação. Em 2003 iniciou-se a construção de hotéis, resorts de luxo e grandes casinos, bem como a ponte “Flor de Lótus” que liga o Cotai à ilha da Montanha ou Hengqin.
O Cotai tem hoje cerca de 5,2 Km2, o que representa cerca de 20% do território de Macau e, dentro de três anos,  vai ter o novo projecto concluído. A sua maqueta foi divulgada na primeira página dos principais jornais macaenses, nomeadamente o Ponto Final, constando de torres que se assemelham a caixas de jóias alinhadas e que terão cerca de cem metros de altura.
Macau, onde o português é língua oficial, é realmente um exemplo do dinamismo oriental.

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

A autoridade de Ronaldo em Barcelona

Ontem realizou-se em Barcelona o jogo da 2ª mão da última eliminatória da Taça do Rei, em que se defrontaram as equipas do FC Barcelona e do Real Madrid CF. No jogo da 1ª mão disputado em Madrid, tinham empatado por 1-1, mas desta vez o Real Madrid superiorizou-se de forma inequívoca e triunfou por 3-1, tendo Cristiano Ronaldo brilhado e marcado dois golos.
Ronaldo aparece frequentemente na capa dos jornais espanhóis, sobretudo nos que são publicados em Madrid, mas desta vez houve mais de duas dezenas dos mais importantes que destacaram a vitória do Real Madrid na sua primeira página, ilustrando-a com a fotografia do jogador português a festejar um dos seus golos. Ele é um caso raro de um português de sucesso.
A rivalidade entre o Barcelona e o Real Madrid é histórica e ultrapassa o futebol. Em termos de percepção psicológica o Real Madrid representa a realeza, a língua castelhana e o poder centralista de Madrid, enquanto o Barcelona representa os ideais republicanos, a língua catalã e a ambição independentista pelo que, habitualmente, no Camp Nou se canta o hino catalão e são agitadas bandeiras da Catalunha, mas desta vez “Ronaldo calou o Camp Nou”. Não há na Europa nenhum caso de rivalidade como este, que é acentuado pelo facto dos dois mais famosos futebolistas da actualidade jogarem nessas equipas.
Ontem, no fim do jogo, as bandeiras catalãs não se agitaram. Em contrapartida o jornal madrileno ABC destacou em primeira página a fotografia de Ronaldo e aproveitou para dar uma alfinetada política nos autonomistas catalães ao escrever: “golpe de autoridad del Madrid en Barcelona”.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

O Saharistan e a ameaça fundamentalista

A edição de Março do Courrier internacional  já está nas bancas e a sua capa é ilustrada com uma imagem bem elucidativa que nos revela que, por vezes, uma imagem vale mais do que mil palavras: um grupo de jihadistas armados cobre de negro uma vasta região sahariana e infiltra-se por diversos países do “Sahel”, isto é, uma “cintura” que vai desde o Atlântico ao mar Vermelho, passando pelo Senegal, Mauritânia, Mali, Niger, Burkina Faso, Níger, o norte da Nigéria, Chade, Sudão, Etiópia, Eritreia, Djibuti e Somália.
Aquela imagem mostra como o "Saharistan" é uma ameaça fundamentalista e está bem próxima do sul da Europa. A revista dedica alguns artigos à situação de decomposição política, económica e social que atravessa o norte de África, incluindo os planaltos do sul da Argélia e da Líbia e a região do Sahel, que tem vindo a ser dominada por jihadistas fanáticos e a escapar ao controlo de quaisquer governos, sobretudo depois da “primavera árabe”.
O Mali estava a caminho de se transformar numa nova Somália ou de ter um regime talibã do modelo afegão, além de se estar a tornar num trampolim para a escalada do islamismo armado ou do islamo-gangsterismo, como também é chamado.
A perspectiva de um “Saharistan” ou de um “Sahelistan”, mais o receio de contágio, fizeram a França intervir militarmente, com base numa resolução da ONU e no apoio de um vasto leque de países. As principais cidades do Mali, como Gao e Tombuctu, já foram libertadas, mas não se espera uma resolução rápida do problema o que constitui uma preocupação para a Europa e, em especial, para os países da margem norte do Mediterrâneo, incluindo a Península Ibérica.

Ao que isto chegou!

O programa Prós e Contras da RTP tratou ontem do tema da reforma das Forças Armadas, colocado na agenda pública pelo MDN ao anunciar cortes nos seus efectivos e orçamentos, sem cuidar primeiro de estudar as possíveis consequências negativas dessas opções. Quis brilhar e cortar, como lhe foi encomendado. Como se as Forças Armadas fossem uma empresa pública em processo de privatização. Ora este anúncio gerou uma "profunda preocupação" relativamente ao seu futuro, por poderem conduzir à sua desarticulação e descaracterização.
A apresentadora do programa escolheu o tema com oportunidade e conseguiu a presença de especialistas altamente qualificados, embora o MDN tivesse rejeitado o convite para o debate, o que foi lamentável.
O programa foi muito esclarecedor e teve intervenções inteligentes, competentes e excelentes, que saúdo vivamente. De homens que andaram na guerra e lutaram contra ditadura. De homens que comandaram e conhecem as Forças Armadas. De homens que pensam o país e o seu enquadramento internacional. De homens que se orgulham da nossa História e que confiam na capacidade do nosso povo. De homens que reagem à irresponsabilidade e à cegueira desta governação. De homens que não compreendem nem aceitam a leviandade das intenções anunciadas.  
Nos termos constitucionais, as Forças Armadas são o garante da independência nacional, da unidade do Estado e da integridade do território. São uma instituição estruturante do Estado, um símbolo de unidade e coesão nacional e um factor de credibilidade internacional. Os tempos que hão-de vir são muito complexos e as nossas Forças Armadas têm que estar preparadas para servir os objectivos nacionais, que amanhã podem ser diferentes do que são hoje. Não podem estar sujeitas a estas diatribes de um qualquer aguiar hifen branco, que alterna entre o seu escritório de advogados e o ministério que ocupa, mesmo que seja um patriota de bandeirinha na lapela.
Redimensionar as Forças Armadas? Claro! Reformar as Forças Armadas? Sem dúvida! Deixar as Forças Armadas às ordens de um Ministro das Finanças e de uma troika estrangeira? Nunca!
Ao que isto chegou!

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Síria: a morte de um país

Na sua última edição a revista The Economist aborda o complexo problema da Síria e da sua guerra civil, caracterizando a situação como “a morte de um país”, devido ao nível de destruição que está a provocar. Iniciada há cerca de dois anos na sequência da contestação ao regime de Bashar al-Assad, a guerra tem aumentado de intensidade e levou à divisão do país entre as forças governamentais e os grupos rebeldes da oposição mas, segundo The Economist, nenhum dos lados tem a vitória ao seu alcance. A situação humanitária na Síria é cada vez mais dramática e as Nações Unidas calculam que já morreram mais de 70 mil sírios, enquanto o Alto Comissariado da ONU para os Refugiados (ACNUR) estima que haja mais de 860 mil refugiados e que o número de deslocados no interior do próprio país seja muito superior. Por todo o território sírio há milhares de casas, fábricas, escolas e hospitais que foram arrasados e há milhões de sírios privados de comida, electricidade, combustível e telefone. A vida brutalizou-se com a guerra, mas também com disputas que nada têm a ver com a revolta. As duas partes armaram os civis e como disse um comandante, “os meus homens habituaram-se a matar”. Há assassinatos e sequestros frequentes e, como acontece em todas as guerras, os seus actores são todos maus. Como aconteceu na Bósnia, no Iraque e na Líbia. Muitos quadros, médicos, professores e engenheiros abandonaram o país e muitos sírios temem que a guerra só termine quando já não houver ninguém para combater. Como titula The Economist, estamos a assistir à morte de um país e a uma catástrofe humanitária, aparentemente perante a indiferença da comunidade internacional.


sábado, 23 de fevereiro de 2013

Crise, recessão e desemprego na Europa

Segundo as previsões de Inverno da Comissão Europeia, os países da União Europeia deverão registar em 2013 um crescimento global de apenas 0,1%, enquanto na Zona Euro se verificará uma contracção do produto de 0,3%.
Haverá sete países em recessão em 2013: Grécia (4,4%), Chipre (3,5%), Eslovénia (2,0%), Portugal (1,9%), Espanha (1,4%), Itália (1,0%) e Holanda (0,6%), mas o produto também regredirá na Alemanha e na França, que deverão crescer apenas 0,5% e 0,1%, respectivamente. A Europa está, portanto, a viver uma situação de crise, recessão e desemprego, mas o novo grande problema é a Espanha, cujas previsões são aterradoras: o défice das contas públicas será de 6,7% em 2013 (o objectivo era 4,5%) e em 2014 atingirá 7,2% (o objectivo era 2,8%). Assim, a Comissão Europeia já prevê suavizar “consideravelmente o ritmo dos ajustamentos em Espanha”, face à gravidade da recessão e não descarta alargar até 2016 o prazo para que seja alcançado o objectivo de um défice de 3%. Também no capítulo do desemprego as previsões descrevem um cenário negro para Espanha, com a taxa a atingir os 26,9% em 2013, antes de cair, apenas ligeiramente, para os 26,6% em 2014.
Porém, a Espanha parece reagir e o governo de Mariano Rajoy aprovou 50 medidas para estimular o crescimento e a criação de emprego. Os nossos governantes bem podiam ler a edição de hoje do diário ABC. Está lá tudo. Porém, em vez de tomarem medidas, eles insistem no discurso da austeridade e no ataque aos trabalhadores e aos pensionistas, ao mesmo tempo que andam pelo país em acções de propaganda partidária, navegando contra o vento e, naturalmente, a ouvir o protesto popular. Se querem assim, que se aguentem!

Independentistas catalães não desistem

Oriol Junqueras é um político espanhol com 43 anos de idade, alcaide da cidade catalã de San Vicente dels Horts, eurodeputado e actual presidente da Esquerda Republicana da Catalunha (ERC), que defende um estatuto especial ou a independência daquela região autónoma espanhola. Junqueras é historiador e professor associado do Departamento de História Moderna e Contemporânea da Universidade Autónoma de Barcelona e, numa recente entrevista destacada na primeira página do diário El Mundo, declarou que “a Espanha vai perder a Catalunha, como perdeu Cuba, Portugal e Holanda”.
Não é habitual que as declarações dos políticos recorram às lições da História e, por isso, a entrevista é mais interessante, até porque inclui uma referência a Portugal. De facto, a entrevista invoca situações históricas dos séculos XVII (caso de Portugal e da Holanda)  e do século XIX (caso de Cuba), aparecendo numa altura em que, pela primeira vez, a ERC ultrapassa nas intenções directas de voto os nacionalistas de direita da Convergência e União (CiU) dirigidos por Artur Mas. Em 2014, haverá eleições ou um referendo e é possível o reforço do independentismo catalão através de uma coligação entre a ERC e a CiU, com um acordo eleitoral que tenha a independência como único ponto programático. Interrogado sobre o facto da União Europeia já ter declarado não aceitar a divisão de um Estado-membro, o cada vez mais provável líder dos independentistas catalães respondeu que se trata de simples declarações de ocasião e que, quando chegar o momento, não haverá problema.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O agente favorito da troika

Há vinte meses foi escolhido para dirigir as nossas Finanças Públicas um homem que decidiu retribuir o enorme investimento em educação que o Estado Português nele havia feito. Fizera muitos estudos e, certamente por mérito académico, passara pelo Banco de Portugal, pelo Banco Central Europeu e pela Comissão Europeia. Sempre bons gabinetes e boas poltronas. Nunca trabalhou numa pequena ou numa grande empresa. Nunca trabalhou numa fábrica, nunca conheceu uma herdade agrícola e nunca andou em alto mar numa traineira. Não sabe o que é o drama de não ter salário, nem a angústia do gestor que não tem dinheiro para pagar salários, nem o nervosismo do empresário a quem é recusado o crédito. Pois foi esse homem que aceitou entrar no governo como se o país fosse um campo de experimentação de teorias financeiras neo-liberais, confundindo conhecimentos académicos com realidades políticas e sociais.
Ao fim de vinte meses de austeridade sobre austeridade e de mentiras sobre mentiras, a sua acção deu origem a um gravíssimo panorama de empobrecimento, desemprego, emigração e falências, num ambiente de recessão económica, depressão psicológica e desagregação social. A dívida pública e o défice orçamental agravam-se. A esperança está perdida. O homem fracassou. Não acerta uma. Não deu ouvidos a ninguém e revelou-se um absoluto ignorante do nosso tecido económico e social. As suas previsões falham sempre e, mais grave, as suas políticas também. Teimosamente, ele continua a insistir nos erros e a revelar uma enorme insensibilidade social, que quase chega à arrogância. Objectivamente, ele não está ao serviço dos portugueses e limita-se a obedecer à troika. É o seu agente favorito em Portugal.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

A arte que toda a gente deve ver

A revista Expresso Actual publicou uma lista das “50 obras de arte que toda a gente deve ver”, num artigo assinado por três críticos de arte especializados, no qual assumem que a escolha dessas 50 obras é um exercício de divulgação subjectivo e, de facto, é uma escolha muito subjectiva.
Porém, a subjectividade de quem sabe é sempre uma boa indicação, embora para ver essa meia centena de obras consideradas fundamentais, fosse necessário ir ao seu encontro em Espanha, França, Itália, Suíça, Bélgica, Holanda, Alemanha, Reino Unido Noruega, Estados Unidos, Canadá, Austrália e, também, Portugal. Para os referidos críticos, parece não haver obras fundamentais na Grécia, na Rússia, na Áustria, no Egipto e em tantos outros países, o que torna aquela lista menos credível.
No entanto, o mesmo artigo também apresenta as “50 obras de obras de arte em Portugal”, as quais podem ser vistas em Lisboa (35), Porto (7), Elvas (2) e Alcobaça, Cascais, Coimbra, Funchal, Lagos e Viseu (1). Naturalmente, a escolha nacional daqueles críticos também é subjectiva, mas a proximidade geográfica já nos permite conhecer as nossas obras fundamentais e, eventualmente, fazer a nossa própria lista.
Comecemos então por Lisboa e revisitemos o Museu Nacional de Arte Antiga, o Centro de Arte Moderna da Fundação Gulbenkian e o Museu Colecção Berardo.

Grândola vila morena

A inspirada canção Grândola vila morena“, composta e cantada por José Afonso, foi conhecida através do álbum “Cantigas do Maio”, editado em 1971, e foi cantada pela primeira vez num concerto realizado em Santiago de Compostela, em Maio de 1972. Em 1974 a canção foi escolhida pelo Movimento das Forças Armadas como sinal para confirmar as operações militares do 25 de Abril e transformou-se num símbolo popular da revolução e da democracia, mas também num hino à liberdade, à fraternidade e à solidariedade. Há uma quase unanimidade em torno do significado da canção, da sua letra e da sua música, que se tornaram num quase símbolo nacional. Canta-se a Grândola vila morena“ em momentos relevantes, quando as pessoas se emocionam, quando protestam, quando lutam e quando reagem à injustiça, à arrogância, à prepotência ou à tirania. Pois no dia 15 de Fevereiro cantou-se a Grândola vila morena“ na Assembleia da República, no dia 18 cantou-se em Vila Nova de Gaia e hoje cantou-se nas instalações do ISCTE, em Lisboa. São reacções emocionadas que reflectem a incerteza e a falta de esperança que paira sobre a população, mas também são sinais muito preocupantes de uma situação social que se agrava todos os dias e que ameaça tornar-se numa catástrofe, para a qual nos está a conduzir a teimosia, a insensibilidade e a cegueira política dos jovens que nos governam. Por isso, iremos certamente continuar a ouvir cantar a “Grândola vila morena“, porque “o povo é quem mais ordena”. Estavam à espera de quê?

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Who can save Italy?

A Itália vive uma situação económica e política muito complexa, conforme revela a última edição do The Economist. A terceira maior economia da Zona Euro está em crise e não regista crescimento, nem gera novos empregos, além de ser um dos dois únicos casos em que o PIB per capita caiu depois da adopção da moeda única. O problema da Itália é semelhante ao que se verifica em Portugal, Espanha e Grécia, que perderam competitividade, entraram em recessão e viram aumentar brutalmente o desemprego, enquanto tremem as economias alemã e francesa que também regrediram no quarto trimestre de 2012, “but the worst of them all is Italy”, salienta The Economist. A Itália tem adiado as reformas que os novos tempos determinam. Tem demasiados interesses económicos protegidos “desde os notários aos farmacêuticos, passando pelos taxistas e pelos fornecedores de combustível”, tendo também um aparelho administrativo demasiado pesado, a nível central, provincial, regional e local, que muitas vezes duplicam em vez de substituir as actividades do escalão superior. A justiça é demasiado lenta, o trabalho é fortemente taxado e não há investimento público. As eleições de 24 e 25 de Fevereiro irão eleger os 630 deputados e 315 senadores e o líder do partido mais votado será o primeiro-ministro. Em luta estão uma coligação de centro-esquerda liderada por Pier Luigi Bersani e uma coligação de centro-direita liderada por Sílvio Berlusconi. O actual primeiro-ministro Mário Monti não tem apoio eleitoral, mas muitos desejam-no para tomar conta da economia num governo liderado por Bersani. O risco de um colapso italiano existe e pode contagiar outros países. Os italianos perguntam: quem pode salvar a Itália? E aqui como vai ser?

domingo, 17 de fevereiro de 2013

A corneta do passos-gasparismo

O homem aparece às quintas-feiras pelas dez da noite na TVI, animando um programa de informação em que é apresentado como comentador. Procura explicar tudo e os porquês das coisas. Eleva a voz e gesticula. Insinua que priva com o poder. Que sabe o que se passa nos gabinetes. Elogia, mas às vezes deixa umas pequenas críticas para dar credibilidade ao que diz. É ele que dá notícias em primeira mão, substituindo-se aos ministros. É ele que anuncia, que diz o que vai acontecer. Nem sequer se esforça por mostrar independência ou equilíbrio. Não passa de uma imitação do modelo marcelo.  
Porém, trata-se de um disfarce. O homem não é um comentador, é um impostor. Quer parecer comentador, mas não passa de um servil assessor do nosso primeiro. Antes era o Borges que anunciava, agora é o Mendes que faz o triste papel de porta-voz do governo. É a corneta do passos-gasparismo.
Depois de uma carreira política em que deu o seu contributo para o estado a que isto chegou e em que melhor faria que se dedicasse a outras coisas, presta-se agora a esta tão ridícula figura de assessor travestido de comentador. O que fará correr o pequeno Mendes contra os seus companheiros de percurso politico-partidário, que não se rendem a esta governação que nos afunda e nos encaminha para uma catástrofe social?

O Estado foi condenado por não fiscalizar

O mais antigo jornal português - Açoriano Oriental – informou que o Estado, através do Ministério da Defesa Nacional, foi condenado a indemnizar os pescadores açorianos por “clara omissão” de fiscalização das embarcações estrangeiras na Zona Económica Exclusiva dos Açores.  A acção tinha sido interposta por associações de pescadores e ambientalistas açorianos, que reclamaram uma indemnização superior a um milhão de euros pelos prejuízos causados pela diminuição, ou mesmo a eliminação, da fiscalização das águas para além das 100 milhas, entre 2002 e 2004.  O Tribunal Administrativo Central de Ponta Delgada condenou o Estado em 2009, mas este recorreu da sentença que veio agora a ser confirmada pelo Tribunal Central Administrativo Sul. Segundo refere o acórdão deste tribunal, nesse período não foram efectuadas missões conjuntas de fiscalização entre a Marinha e a Força Aérea, com prejuízo para a eficácia dessa fiscalização. Além disso, os meios afectos pela Marinha à fiscalização da pesca nos Açores também diminuíram, tendo passado de dois navios em permanência na região para apenas um. Segundo o tribunal, a falta de fiscalização fez com que as embarcações estrangeiras a pescar nas águas açorianas tivesse aumentado exponencialmente, chegando a ser mais de sessenta embarcações espanholas por mês. O acórdão refere, ainda, que “a omissão de fiscalização acarreta e acarretará no futuro, se se mantiver, danos irreversíveis na conservação dos ecossistemas constituídos por cada um dos bancos de pesca”. O Estado não pode abdicar de nenhuma das suas funções de soberania, nem das outras. O tribunal andou bem.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

World Press Photo 2012

Uma fotografia de um grupo de homens a transportar os cadáveres de duas crianças mortas num ataque aéreo israelita em Gaza - Muhammad Hijazi de três anos de idade e a sua irmã Suhaib de dois anos - venceu 56º World Press Photo, isto é, o prémio de 2013 do mais importante concurso mundial de fotojornalismo. A fotografia foi obtida numa rua da cidade de Gaza no dia 20 de novembro de 2012 pelo fotojornalista sueco Paul Hansen e foi publicada no jornal sueco Dagens Nyheter.
Nesta edição do World Press Photo concorreram 5.666 fotojornalistas oriundos de 124 países que apresentaram a concurso 103.481 fotografias. Foram premiadas 53 fotografias nas nove categorias em apreciação, sendo de salientar que o fotógrafo português Daniel Rodrigues ganhou o primeiro prémio da categoria “Vida Quotidiana”, com uma imagem de jovens a jogar futebol num campo de terra batida na Guiné-Bissau.
Tal como acontece anualmente, as fotografias premiadas vão integrar uma exposição itinerante que provavelmente será apresentada em Portugal, tal como aconteceu em Lisboa no Museu da Electricidade em 2012.

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O drama social do desemprego acentua-se

No quarto trimestre de 2012, havia 923 mil pessoas sem trabalho em Portugal, o que equivale a 16,9% da população activa, segundo indicou ontem o Instituto Nacional de Estatística (INE) e os jornais destacaram. Apenas num ano, o número de desempregados aumentou em 150 mil novos casos mas, desde que em meados de 2011 o actual governo e a troika assumiram o poder, houve 248 mil novos desempregados em Portugal. Esse é o resultado mais visível do programa de ajustamento económico e financeiro que está a ser aplicado em troca de um empréstimo de 78 mil milhões de euros. No entanto, esse é o número oficial de desempregados porque, segundo outros critérios, esse contingente poderá atingir 1,4 milhões de pessoas, isto é, cerca de 25% da população activa.
O programa da troika e aqueles que o aplicam continuam a revelar uma profunda insensibilidade social e a mostrar indiferença perante o nosso empobrecimento generalizado. Não é só o desemprego e o seu drama social a acentuar-se. A economia está a afundar-se e entrou numa espiral recessiva, os problemas da dívida e do défice não estão a ser resolvidos e a situação social está em acelerada deterioração. O pequeno comércio encerra. Os jovens emigram. A sociedade desagrega-se. Não há confiança. Não se vê futuro. Um milhão de desempregados desespera.
A nossa secular identidade, assim como a história e a cultura de que tanto nos orgulhamos, estão a ser destruídos por um grupo de contabilistas que ignoram o nosso passado e que estão “orgulhosamente sós”. São os fundamentalistas - os gaspares, os moedas e os borges - que já fizeram demasiado estrago ao país com a sua insensibilidade social e que, todos os dias, contribuem para o aumento do desemprego. Deixem-nos, por favor!

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Fisco penhora e vende carros de luxo

A edição de hoje do Correio da Manhã inclui uma notícia com o sugestivo título – ‘Bombas dão milhões ao Fisco – revelando que industriais dos sectores têxtil e do calçado, construtores civis, promotores imobiliários, advogados e gente do futebol ficaram sem os seus carros topo de gama para pagar as dívidas fiscais das suas empresas. A penhora de automóveis para pagamento de dívidas fiscais é uma prática corrente em Portugal.
Em 2011 houve 8.491 veículos penhorados e vendidos, mas porque o processo de penhora e venda foi agilizado, em 2012 foi possível penhorar e vender 21.499 automóveis. De acordo com a informação do jornal foram penhorados e vendidos dois Rolls-Royce (160 mil euros), dois Aston Martin D89 (250 mil euros), seis Ferrari Testarossa (175 mil euros), nove Lamborghini (100 mil euros), vinte e cinco Aston Martin Vanquish (220 mil euros) e dezassete Porsche 911 (80 mil euros). No lote de veículos penhorados e vendidos pela Administração Fiscal ainda se encontravam 1.097 Volkswagen, 1.065 Mercedes, 514 BMW, 437 Volvo e 290 Audi.
Este quadro é absolutamente lamentável e envergonha-nos, mostrando como temos sido insultados por esta gente e por quem fechou os olhos ao seu exibicionismo e à sua continuada prática de evasão fiscal. Porém, estes números também nos ajudam a compreender muita coisa.  Na realidade, eles parecem mostrar que uma parte dos fundos estruturais destinados à modernização do sector produtivo português, que passaram a ser recebidos depois de Janeiro de 1986, foi canalizada para a aquisição de veículos de luxo e serviram para alimentar o novo-riquismo lusitano. O Fisco actuou e é caso para dizer que mais vale tarde que nunca.

Os tempos de incerteza na banca

O jornal i anuncia hoje que os cinco maiores bancos a operar em território português – CGD, BCP, BPI, BES e Santander Totta - têm 23 mil milhões de euros de crédito mal parado ou crédito em risco, correspondentes a cerca de 8,1% do total da carteira de crédito e que representam quase 14% do PIB.
A situação é grave em termos quantitativos mas, sobretudo, é grave em termos de tendência evolutiva, pois são sinais a revelar mais tempos de incerteza na banca. De facto, em finais de 2011 o crédito em risco destes cinco bancos era de 17,8 milhões de euros e, um ano depois, tinha subido para 23,3 milhões de euros, significando que em doze meses o crédito em risco aumentou em 5,5 mil milhões de euros e que o rácio do crédito em risco passou de 5,9% para 8,1%.
Em termos globais, o maior agravamento verificou-se no crédito às empresas, sobretudo nos sectores da construção, do imobiliário e do comércio, mas também houve agravamento no crédito a particulares, embora a aquisição de habitação tenha continuado a ser o segmento de crédito menos gravoso, com taxas pouco acima de 1%.
Esta enorme volume de crédito em risco, resulta em primeiro lugar de uma conjuntura económica recessiva que se tem agravado e para a qual continua a não haver reacção governamental, mas também é uma herança dos tempos de deslumbramento, de ganância e de loucura que tomou conta da banca um pouco por todo o mundo. Entretanto, como a nossa economia se continua a afundar, parece não haver dúvidas de que o crédito mal parado continuará a agravar-se nos próximos tempos e, como sempre, essa factura acabará por cair sobre os nossos ombros. São tempos de incerteza na banca e, naturalmente, para cada um de nós, como de resto se viu com o BPN.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Histórias de guerra ainda por contar

Durante a 2ª Guerra Mundial, muitos países europeus fizeram declarações de neutralidade mas porque vieram a ser ocupados militarmente, acabaram por se envolver directa ou indirectamente no conflito. Por isso, apenas Portugal, Espanha, Irlanda, Suiça e Suécia permaneceram efectivamente neutrais, embora sejam conhecidas muitas actividades de apoio aos beligerantes, desenvolvidas nesses países à margem do estatuto de neutralidade.
Em Portugal essas actividades ainda não são muito conhecidas e, por vezes, aparecem relatadas em reportagens ou artigos de imprensa dispersos, que referem o apoio ou o internamento de pilotos abatidos ou de náufragos recolhidos, o abastecimento clandestino de submarinos e, agora, através da revista Visão, a participação de centena e meia de portugueses nas tropas alemãs que invadiram a Rússia e que integraram a Divisão Azul, que tomou parte no cerco de Leninegrado.
A Divisão Azul era uma unidade de voluntários espanhóis, formada essencialmente por falangistas, também chamados “camisas azuis”, que na sequência da vitória franquista na guerra civil de Espanha se alistaram para “combater o bolchevismo”, mas também motivados por razões económicas. Então, muitos portugueses que haviam combatido na guerra civil, por necessidade económica ou por aventureirismo, também se juntaram à Divisão Azul. Os nomes de muitos deles são conhecidos e a sua história ainda está a ser feita, ao mesmo tempo que a revista Visão anuncia que está a preparar uma edição especialmente dedicada a este assunto.

A inesperada renúncia de Bento XVI

Num discurso pronunciado em latim durante um consistório ontem realizado no Vaticano, o Papa Bento XVI anunciou a sua resignação a partir do próximo dia 28 de Fevereiro. Nesse discurso, o Papa reconheceu a sua “incapacidade para exercer de boa forma o ministério que lhe foi encomendado” para liderar mais de mil milhões de católicos em todo o mundo e “para governar a barca de S. Pedro e anunciar o Evangelho”, pois para isso “é necessário também vigor, tanto do corpo como do espírito”. O Papa, que tem 85 anos de idade e que governava a Igreja Católica desde 2005, acrescentou que “cheguei à certeza de que, pela idade avançada, já não tenho forças para exercer adequadamente o ministério de Pedro”.
Foi um anúncio inesperado e muito raro na História da Igreja Católica, mas foi também um discurso corajoso, pois a última vez que um Papa resignara tinha acontecido em 1415 com Gregório XII. A imprensa mundial destacou aquela notícia quase unanimemente, ilustrando-a com a fotografia de Bento XVI, mesmo em países e regiões onde o catolicismo é residual, como acontece no mundo árabe, destacando o seu espírito de reconciliação e o apoio à defesa dos valores ecuménicos. O diário egípcio al-akhbar é um dos jornais que destaca a notícia da resignação de Bento XVI, classificando-o como um dos mais importantes líderes mundiais, tanto a nível religioso como político, mas informando também que “os árabes perderam um amigo”.

domingo, 10 de fevereiro de 2013

O BPN ajudou muita gente…

Ontem deixei aqui um texto intitulado “Ainda a fraude BPN” e, curiosamente, o tema foi hoje chamado à primeira página do Correio da Manhã a propósito dos cortes remuneratórios que estão a ser feitos aos pensionistas e que tanto estão a contribuir para a espiral recessiva e o consequente empobrecimento em que estão a mergulhar o nosso país.
Segundo o jornal, o antigo ministro Miguel Cadilhe não é afectado por esses cortes, apenas porque é um reformado especial. De facto, quando Cadilhe substituiu Oliveira e Costa na presidência do BPN, para além de um salário bruto anual de 700 mil euros, assegurou um PPR de mais de dez milhões de euros, que foi pago de imediato na sua totalidade e que, por sua exigência, foram confiados à seguradora Zurich. O homem fez-se pagar bem e, afinal, em vez de ir cuidar do BPN tratou antes de cuidar de si próprio.
Não burlou nem defraudou, apenas cadilhou. Oliveira e Costa declarou então que, em poucos meses, Cadilhe ganhara duas vezes e meia mais do que ele próprio ganhara em dez anos.
Afinal, o BPN não serviu apenas para facilitar fraudes, roubos, falcatruas e evasão fiscal, para branquear capitais, conceder crédito sem garantias e fazer pagamentos clandestinos a dezenas de administradores e colaboradores, mas serviu também para ajudar muita gente. Miguel Cadilhe foi um deles. O Correio da Manhã andou bem ao relembrar esta história.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Ainda a fraude do BPN

A SIC apresentou-nos uma desenvolvida reportagem intitulada “A fraude”, em que analisou com detalhe o escândalo que continua a ser o caso BPN. A história revelada é quase inacreditável e é chocante, deixando-nos absolutamente perplexos. Como foi possível tanta promiscuidade entre a alta política e a negociata? Como foi possível ter havido tanta gente sem escrúpulos a beneficiar do fraudulento esquema? Como foi possível a supervisão bancária não ter percebido e actuado em devido tempo? A reportagem da SIC estimou que o buraco financeiro do BPN pode chegar aos 7 mil milhões de euros, nele se incluindo os chamados activos tóxicos, as imparidades e os créditos de cobrança duvidosa. É um quadro de catástrofe sem paralelo na nossa história económica. A reportagem mostra que os principais responsáveis por esta criminosa fraude continuam impunes e continuam a passear por aí com indiferença, privando com os poderes políticos e, em muitos casos, a ocupar posições públicas de grande responsabilidade. E não são apenas os homens de topo, aqueles que tinham relações políticas e de negócios com Oliveira e Costa e que agora frequentam o Copacabana Palace do Rio de Janeiro. Havia os quadros intermédios e os gerentes das agências que prometiam juros de 30% para os depósitos e havia também os economistas sôfregos que não percebiam que não era possível haver lucros anuais de mais de 100%. Andavam todos deslumbrados com tanta fartura! Houve algumas centenas de clientes ou amigos que beneficiaram de milhões de euros de créditos para a compra de terrenos e de grandes mansões, obras de arte e financiamento de negócios especulativos, mas ficamos a saber que nada estará a ser feito para que esses créditos sejam recuperados. Haverá já mais de cinco centenas de clientes com dívidas superiores a meio milhão de euros em incumprimento total, isto é, clientes que já deviam ter liquidado tudo o que devem e que, pelo contrário, deixaram pura e simplesmente de pagar qualquer prestação. Será porque o crime compensa? Perante este quadro aterrador de trafulhice e roubo, quem nos pode valer?

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

O atrevimento de certos autarcas

Este ano vão realizar-se eleições autárquicas e, de acordo com a lei, esse facto deveria constituir uma oportunidade para o reforço da participação democrática dos cidadãos na vida da comunidade e para a renovação dos aparelhos e do pessoal político locais. Foi com esse espírito que em 2005 foi aprovada a lei da limitação dos mandatos autárquicos, que determina que os titulares dos órgãos autárquicos estão limitados a três mandatos consecutivos de quatro anos. Porém, a lei também pretende contrariar a existência de “dinossauros autárquicos” que se perpetuavam no poder local como verdadeiros caciques, criando e gerindo promíscuas teias de interesses que envolviam empreiteiros e construtores civis, fornecedores, gestores municipais, assessores e outros amigos, para além da gente do futebol da terra. 
O poder autárquico é um dos maiores símbolos do nosso Estado Democrático e deveria ser exercido de baixo para cima, em nome da vontade dos eleitores e dos interesses locais. Porém, há quem queira impor candidatos de cima para baixo, numa clara violação do espírito da lei. A anunciada candidatura de autarcas que estão a concluir o seu terceiro mandato numa localidade e se apresentam agora numa localidade vizinha, casos de Menezes e Seara, viola o espírito da lei, enfraquece claramente o poder local, desprestigia a classe política portuguesa e é um evidente caso de caciquismo e de esperteza saloia. Certamente, os tribunais ou, mais tarde os eleitores, não deixarão passar o atrevimento, a ambição e a leviandade desta gente tão vulgar.

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

The Perfect Storm

A imprensa é um meio de comunicação que utiliza o texto e a imagem como suportes da informação, embora seja o texto e, em especial o título, que habitualmente dão destaque à notícia. Porém, nem sempre é assim. Por vezes, com base na ideia de que uma imagem vale mais do que mil palavras, a imprensa utiliza a imagem como principal suporte da informação ou da notícia, não se refugiando na lógica mercantilista do sensacionalismo de um título.
A imprensa inglesa utiliza frequentemente a imagem como suporte da informação e um bom exemplo desse estilo encontra-se na edição de hoje do jornal The Guardian, que noticia a situação de temporal que vem assolando as Ilhas Britânicas através da fotografia de uma gigantesca onda batendo a área portuária de Seaham Harbour, uma pequena cidade situada no distrito de County Durham, na costa nordeste da Inglaterra. O autor da espectacular fotografia, em que é possível comparar a altura da onda com a altura do farol, é o fotojornalista Owen Humphreys.
O jornal recorreu a uma sugestiva legenda: perfect storm ou tempestade perfeita, que é uma expressão que descreve uma combinação rara de circunstâncias meteorológicas extremamente graves, mas que também vem sendo usada para descrever fenómenos de outra natureza e que se popularizou quando, no ano de 2000, foi produzido o filme The Perfect Storm, realizado por Wolfgang Petersen e que teve George Clooney como protagonista.
Sem quaisquer dúvidas, com a capa da sua edição de hoje, o The Guardian dá uma boa lição de jornalismo.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Afrighanistan ou a ameaça no Sahara

A prestigiada revista inglesa The Economist, muitas vezes considerada como a melhor revista económica do mundo, destacou na sua última edição o conflito que está a afectar alguns países situados entre o mar Mediterrâneo e o deserto do Sahara, comparando-o aos que acontecem desde há 11 anos no Iraque e no Afeganistão, onde a guerra já custou centenas de milhares de mortos e um trilião e meio de dólares em custos directos. A situação é especialmente crítica no chamado “arco da instabilidade”, que se estende da Somália ao Mali, passando pelo Sudão, pelo Chade e pelo Niger. A intervenção francesa que está em curso no Mali é, aparentemente, uma operação limitada no tempo, mas não há garantias de que seja assim, podendo vir a degenerar numa situação semelhante à que se passa no Iraque ou no Afeganistão.
A ilegalidade e a violência sempre existiram na região sahariana mas, nos últimos anos, com a “primavera árabe” e, sobretudo, depois da queda de Kadaffi em finais de 2011, a situação piorou. Formaram-se pequenos exércitos ou gangues armados que ocupam cidades, fazem reféns, exigem resgates, praticam o contrabando, fazem tráfico de drogas e praticam o banditismo avulso. Embora sejam comparados aos piratas das costas da Somália, parecem ser bem mais perigosos. Esses gangues e os seus líderes têm reforçado a sua influência junto das populações saharianas e, alguns deles, actuam em nome da jihad. Os jihadistas parecem ter ricos apoios financeiros, sobretudo na Arábia Saudita, sendo oriundos de alguns países da região como a Argélia, Tunísia, Niger e Mali, mas também de outras regiões como o Paquistão, a Iémen e a Somália. Esses grupos procuram atacar os interesses ocidentais na região, que é rica produtora de petróleo e gás, numa estratégia que também pretende incentivar uma campanha de terror na Europa e na América. Em defesa dos seus interesses económicos e da protecção dos seus nacionais residentes no Mali, a França assumiu o combate contra esses gangues armados, mas tem lamentado estar sozinha no terreno. Para a generalidade dos observadores, a situação é muito perigosa e muito incerta, podendo ser um atoleiro para os franceses, enquanto The Economist se interroga sobre se já estamos confrontados com um Afrighanistan.

domingo, 3 de fevereiro de 2013

A impressionante ondulação da Nazaré

No passado dia 28 de Janeiro a Nazaré voltou a ser notícia mundial, através de uma excepcional fotografia de Garrett McNamara a surfar uma onda gigante na Praia do Norte, mesmo junto ao Farol da Nazaré.
Alguns jornais internacionais, nomeadamente a edição de 30 de Janeiro do jornal inglês The Times, reproduziram essa extraordinária imagem do surfista americano a deslizar sobre uma montanha de água de impressionantes dimensões. Um caso de fotojornalismo de qualidade.
No mesmo local, no dia 1 de Novembro de 2011, o mesmo atleta tinha conseguido surfar uma onda cuja altura foi estimada em 27,5 metros, que viria depois a ser distinguida com o prémio de Maior Onda Surfada de 2011, nos Billabong XXL Awards, uma espécie de “óscares” do surf de ondas grandes, ao mesmo tempo que passou a constar do Guiness Book de recordes.
As imagens captadas vão agora ser avaliadas pelos peritos para determinar a sua altura exacta, através de um processo simples: assume-se a altura do surfista como referência e extrapola-se para conseguir a distância entre o topo e a parte mais baixa da face da onda. Independentemente da medição que vier a ser fixada, uma vez mais o mundo assistiu ao encontro de um fenómeno da natureza com um extraordinário feito desportivo, que contribui para a promoção internacional da Nazaré como destino de referência para a prática de desportos de ondas grandes. No entanto, para as pessoas comuns, com ou sem a ousada presença de surfistas do tipo McNamara, a observação da impressionante ondulação da Nazaré em certos dias é um espectáculo imperdível.

Joana Vasconcelos: o sucesso em Paris

Entre os dias 19 de Junho e 30 de Setembro de 2012 realizou-se no Palácio de Versailles, em Paris, uma exposição de Joana Vasconcelos que teve assinalável êxito. O assunto não foi esquecido e, passados cerca de quatro meses, a edição on line de 30 de Janeiro do jornal francês Le Fígaro, publica uma reportagem intitulada “La folie des expos” que assinala que nos últimos seis anos, o número de exposições apresentadas em Paris mais do que duplicou. O artigo procura analisar algumas das razões que justificam esta explosão de exposições em Paris (de 46 em Novembro de 1998 a 104 em Novembro de 2012), através das suas temáticas, dos seus públicos e do número de visitantes, mas também através da sua “equação financeira” porque, tal como acontece com os museus, uma exposição deve assentar num equilíbrio entre receitas (apoios mecenáticos, patrocínios e receitas de bilheteira) e despesas (transportes, seguros, catálogos e outros).
O artigo publicado pelo jornal Le Figaro, apresenta uma relação das exposições mais visitadas em Paris nos últimos cinquenta anos, que mostra que a exposição “Joana Vasconcelos dans les Grands Appartements à Versailles”, realizada em 2012 no Palácio de Versalhes teve o impressionante número de 1,6 milhões de visitantes, tendo sido  a exposição mais visitada de sempre em Paris. Nessa lista, a mostra de Joana Vasconcelos é, seguida pela exposição “Toutankhamon au Petit Palais” (em 1967, com 1,2 milhões de visitantes), pela exposição “La Collection Barnes à Orsai” (em 1993, com 1,15 milhões), a exposição “Monet au Grand Palais” (em 2011, com 913 064 visitantes) e a exposição “Dali à Beaubourg” (em 1979, com 840 600 visitantes).
Numa época em que uma certa Europa procura ridicularizar uma outra Europa, o êxito de Joana Vasconcelos é uma resposta cultural à arrogância dessa Europa endinheirada e, naturalmente, alimenta a nossa auto-estima.