quinta-feira, 31 de julho de 2014

Barroso e as "pipas de massa" que temos

Cumprindo um ambicioso plano que o levou desde a militância no MRPP até à presidência da Comissão Europeia, que o mesmo é dizer de Almada a Bruxelas, o comissário Barroso não desiste de procurar apoios para se manter na crista da onda, por cá ou no estrangeiro.
Assim, com muita demagogia, veio a Lisboa para anunciar que a Comissão Europeia vai canalizar 26 mil milhões de euros para Portugal nos próximos sete anos. “É uma pipa de massa”, disse o deslumbrado comissário Barroso que, paternalmente, dissertou sobre a necessidade desses fundos serem bem aplicados. Nesse aspecto, eu estou muito preocupado pois temo que se repitam os excessos, os favorecimentos e as não sei quantas mil habilidades que, noutros tempos, serviram para desviar fundos para fins diversos daqueles para que haviam sido seleccionados.
Entretanto, ontem foi anunciado o colossal prejuízo do Banco Espírito Santo que se cifrou em 3.577,3 milhões de euros no primeiro semestre do ano, alegadamente devido a factores de natureza excepcional ocorridos “que determinaram a contabilização de prejuízos, de imparidades e de contingências”. “É uma pipa de massa”, diria o comissário Barroso. Mas ele não comenta isso. Não lhe convém. Eu, que sempre costumava dizer que bancos e seguradoras eram “associações de malfeitores”, confronto-me agora com uma situação que parece dar-me razão.
Se recordarmos que na passada semana o Ministério das Finanças anunciou em comunicado que o défice público português aumentou no primeiro semestre deste ano até 4.192 milhões de euros, isto é, mais 149 milhões de euros que nos primeiros seis meses do ano passado, ficamos confrontados com mais um problema. “É uma pipa de massa”, podia ter dito o comissário Barroso. Sintetizando, já temos “pipas de massa” bastantes, para além daquela que o comissário Barroso anunciou.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

Há demasiadas guerras na orla europeia

A brutalidade da guerra intensifica-se na Faixa de Gaza e algumas imagens que nos chegam através da televisão e algumas fotografias publicadas pela imprensa, como hoje sucede com The Independent, sugerem um nível de violência extremo e desumano.
Muitas organizações internacionais contestam o belicismo intolerável de Israel e, até os Estados Unidos que sempre têm sido os seus mais fiéis aliados, criticam esta acção e viram rejeitada a sua primeira proposta de cessar-fogo apresentada por John Kerry.
Israel parece cansado dos ataques dos foguetes lançados pelo Hamas sobre o seu território e tomou a iniciativa desta desproporcionada operação sobre a Faixa de Gaza que já matou muitas centenas de palestinianos. Por outro lado o Hamas, que controla aquela faixa de território, não reconhece Israel e opõe-se à sua existência, estando a resistir através do seu braço armado militar e político. A guerra dura há mais de vinte dias e tem-se intensificado.
Além da Faixa de Gaza, a Autoridade Nacional Palestiniana inclui o território da Cisjordânia que é controlado pela Fatah de Mahmoud Abbas e que, sendo um movimento muito mais moderado, aceita uma solução negociada com Israel, o que estimula as iniciativas bélicas dos israelitas no sentido de quebrar o Hamas que é classificado por muitos países como uma organização terrorista.
O puzzle da violência está a complicar-se na Palestina, mas também na Ucrânia e no Iraque, na Síria, na Líbia e, também, noutros países da orla europeia ou mesmo da Europa. São muito diferentes os problemas que enfrenta cada um destes países em guerra, mas uma análise atenta parece mostrar que muitos deles resultam de uma intervenção ocidental directa ou indirecta pouco pensada, em que a miopia americana e o seguidismo europeu estão presentes como se ainda vivessem os tempos hegemónicos do século passado.

domingo, 27 de julho de 2014

Tour de France 2014: espectáculo e festa

Terminou o Tour de France 2014 com a vitória incontestável do ciclista italiano Vincenzo Nibali. Desde o triunfo de Marco Pantani em 1998 que nenhum italiano vencera aquela centenária prova ciclista e, por isso, foi um acontecimento desportivo que despertou uma enorme onda de entusiasmo na Itália, com a fotografia de Nibali a encher as páginas dos jornais. Apesar do mérito da vitória, ninguém esquece que os dois grandes favoritos - o espanhol Alberto Contador e o inglês Christopher Froome - abandonaram a corrida devido a quedas e que isso acabou por facilitar a vitória de Nibali. A participação portuguesa foi positiva, embora o campeão do mundo Rui Costa também tivesse desistido por doença.
A nossa televisão voltou a dar uma alargada cobertura à prova com apropriados e sábios comentários do antigo ciclista Marco Chagas, a fazer inveja aos inúmeros jornalistas profissionais que não fazem nenhuma ideia do que é comentar ou relatar um simples jogo de futebol.
Porém, para além dos aspectos desportivos, o que mais impressionou nas reportagens diárias sobre o Tour de France foi a excelência da realização televisiva, que prestou um grande serviço ao turismo francês ao mostrar diariamente “uma França vista do céu” e que hoje nos exibiu a monumentalidade da cidade de Paris vista do ar. Ao longo de todas as reportagens, foram exibidas muitas sequências de imagens de montanhas e vales, de cidades e vilas, de castelos e igrejas, de aquedutos e pontes, de explorações agrícolas e de florestas, para além de estâncias de montanha, palácios, cemitérios das guerras e mil outras curiosidades culturais ou turísticas.
Além de tudo isso, as reportagens televisivas conseguiram sempre transmitir o entusiasmo dos franceses ao longo das estradas e no cimo das montanhas, a atestar que o Tour de France é realmente um espectáculo desportivo e uma grande festa popular.

Ainda há alguns jornalistas em Portugal

Li ontem a edição do semanário Expresso a procurar informar-me sobre o que está a acontecer relativamente ao GES, ao BES e ao homem que pagou 3 milhões de euros de caução para não ficar detido. Perante a indiferença, o sensacionalismo e o vira-casaquismo dominantes na imprensa portuguesa, não posso deixar de elogiar dois jornalistas, ambos Directores-Adjuntos daquele jornal, pelo que escreveram.
Escreveu Nicolau Santos: “A esta actuação aliava uma outra: o convite a jornalistas para irem a conferências de uma semana em estâncias de neve na Suiça ou em França, onde de manhã se ministravam cursos de esqui na neve e à tarde se ouviam especialistas na área económica e financeira. E no Verão repetia-se a dose: uma semana num barco algures no Mediterrâneo, acompanhando a Regata do Rei, até que num dos dias se subia a bordo do veleiro (ou será iate?) onde estava Ricardo Salgado para uma conversa descontraída sobre o banco”.
Escreveu João Vieira Pereira: “Por mais que agora venham dizer que sempre avisaram, é mentira. Ninguém teve coragem de o fazer. Ninguém com o poder de acabar com a vergonha. A vergonha de haver um poder económico que não trouxe prosperidade. E que ajuda a explicar por que razão continuamos na cauda da Europa. O valor criado era apropriado por alguns, os eleitos. E foram muitos os que ganharam no jogo”.
Era assim que eram tratados os jornalistas e era desta forrma que silenciavam o que deveriam ter denunciado, preferindo alinhar com os poderosos sem qualquer pudor e ampliando a teoria de que temos vivido acima das nossas possibilidades, não deixando de ser muito curioso que sejam os próprios jornalistas a denunciar esta vergonhosa promiscuidade de muitos deles com o poder, com todo e qualquer tipo de poder.
Assim, também podemos compreender algumas das formas usadas pelo maior banco privado português para construir uma poderosa rede de influências que, naturalmente, também incluia políticos e governantes, como atesta o facto de ter havido 34 Ministros e Secretários de Estado que em 16 dos 19  governos constitucionais se cruzaram com os destinos e os interesses do BES.
E você, ainda confia em todos os nossos jornalistas?

sexta-feira, 25 de julho de 2014

Que soco! Que mais nos irá acontecer?

Desde há cerca de um mês que se têm acentuado as notícias sobre as dificuldades por que passa o Grupo Espírito Santo (GES) que, por ignorância ou encomenda, os jornais portugueses sempre trataram como uma questão de rivalidade familiar entre tios e primos, que se transformou numa luta pelo poder. Apesar de aparecerem de vez em quando algumas insinuações a respeito dos seus negócios menos claros, a solidez do GES e do seu banco eram glorificadas pelos jornais e pelos jornalistas, constituindo um marco de absoluta confiança para o cidadão comum. O que corria mal no país era a dimensão exagerada do Estado social, o peso da despesa pública e a legislação laboral demasiado permissiva, para além dos portugueses viverem acima das suas possibilidades. O que corria bem eram os lucrativos grupos financeiros, a venda da dívida pública, as exportações do portas e a partilha de favores e de interesses entre os políticos e a banca. Os poderes públicos instalados em Belém e São Bento alinharam nessa teoria que não era verdadeira e a presença da troika a humilhar-nos e a sua caricata saída limpa que tão celebrada foi pelo coro juvenil do portas, são episódios bem tristes da nossa vida recente.
Afinal, a história parece ser bem diferente daquela que tem sido contada, porque nos últimos dias temos sido surpreendidos com notícias que nos deixam estupefactos e que ainda não entendemos. Os portugueses não têm vivido acima das suas possiblidades, mas alguns portugueses têm acumulado milhões fraudulentamente. Essa é a verdade. Depois das falências do BPN e do BPP, depois das imensas ajudas canalizadas para a banca, depois da vigilância da troika e da maior atenção do regulador, podíamos ter pensado que a ganância da banca arrefecera. Porém, somos agora confrontados com suspeitas de burla, abuso de confiança, falsificação e branqueamento de capitais que envolvem um grupo de referência nacional que era o símbolo da solidez e da confiança. Como é possível ter-se chegado a este ponto de declínio civilizacional em que, para além da promiscuidade entre políticos e banqueiros  e da cobardia e do silêncio da generalidade dos jornalistas, todos os dias somos confrontados e desmoralizados com mais episódios deste impensável abandalhamento. Que mais nos irá acontecer?

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Nem todos podem caber na CPLP

Está a decorrer na cidade de Dili a 10ª Cimeira da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), uma organização internacional constituída por países lusófonos que tem por objectivo o "aprofundamento da amizade mútua e da cooperação entre os seus membros". A CPLP  tem sido um projecto entusiasmante que foi criado em 17 de Julho de 1996 por sete países – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. Em 2002, após a sua independência, a CPLP passou a integrar Timor-Leste e, com alguma surpresa, a Guiné Equatorial acaba de ser admitida como seu membro de pleno direito, sob o compromisso de abolir a pena de morte e de promover o uso do português como língua oficial.
Muitas vozes se têm levantado contra esta decisão de integrar na CPLP um país que vive em regime de ditadura, que não respeita os direitos humanos, que mantém níveis de desigualdade extremos e onde nem sequer se fala o português, o que significa um grave e inaceitável desvio dos princípios que estiveram na base da criação desta organização lusófona. Porém, por incompreensível consenso entre todos os membros da CPLP, a Guiné Equatorial foi admitida na organização. Nem Dilma Roussef nem Eduardo dos Santos se quiseram comprometer directamente com esta decisão que levanta demasiadas suspeitas de envolver negociatas e interesses obscuros. Outros deram a cara. Desta maneira, a língua portuguesa deixou de ser o elemento de união entre todos os membros da CPLP que, em vez de ser uma comunidade linguística, parece transformada num clube de negócios, no qual o regime e o petróleo de Teodoro Obiang têm muito dinheiro para distribuir. Esperava-se da delegação portuguesa uma atitude de não aceitação deste golpe de ilusionismo, mas o que aconteceu foi uma evidente incapacidade para contrariar o vento dominante. Precisávamos de velejadores mais hábeis, mais competentes e mais inconformados para contrariar o vento dominante e levar a nau a bom porto. Em nome não se sabe de quê, os nossos velejadores atemorizaram-se, calaram-se e o nosso orgulho e a nosssa dignidade levaram mais uma cacetada. O que é que os nossos velejadores lá estiveram a fazer?
Ao fim de 18 anos, o projecto CPLP foi vítima de um grave enviesamento, mas como não fui a Dili fico-me por aqui...

terça-feira, 22 de julho de 2014

Os nossos governantes são globetrotters

Sunset numa praia do Sri Lanka
Os tempos estivais despertam desejos irresistíveis na generalidade dos portugueses, empurrando-os para férias mais ou menos merecidas, em destinos mais ou menos exóticos. Assim, os nossos aeroportos enchem-se de portugueses que escolheram os cruzeiros de luxo mediterrânicos ou nórdicos, que querem pacatamente conhecer os circuitos das capitais europeias, que aspiram às areias douradas das praias caboverdeanas ou brasileiras e, para os menos abonados ou menos exigentes, que realizam o sonho de conhecer Cancún, Punta Cana, Varadero, Santo Domingo e destinos similares. O gosto por férias em lugares exóticos enraizou-se nos portugueses.
Logicamente, porque são portugueses, os nossos governantes alinham pela mesma lógica. Gostam de viajar e viajam muito. Não falham uma. Vão a todo o lado e mais algum, deslumbrados por voarem em 1ª classe e ficarem instalados em hotéis de 5 estrelas. Levam sempre consigo uma comitiva cortesã e gostam de ser recebidos com muitos salamaleques, incluindo carro de luxo com motorista fardado. Obviamente, viajam pelo interesse nacional. Umas vezes porque vão assinar um protocolo. Outras vezes porque vão visitar uma exposição. Outras vezes porque vão conhecer os portugueses da diáspora. Outras, ainda, porque vão participar numa conferência. Sempre no interesse nacional. Sempre a aumentar o défice e a dívida pública. Sempre, sem que se saibam os resultados dessas viagens.
Nos últimos dias tivemos o Presidente da República na Coreia do Sul e o Primeiro Ministro no Sri Lanka, ambos a caminho de Timor Leste. O irrevogável vice-primeiro ministro foi, pela terceira vez consecutiva,  a uma feira em Luanda. Há alguns ministros, secretários de Estado e deputados a voar, naturalmente para tratar do interesse nacional. Sempre a gastar dos meus impostos.
Então, eu não posso deixar de perguntar: quem é que tem vivido e continua a viver acima das suas possibilidades?
Tenham vergonha!
 

sábado, 19 de julho de 2014

A face exótica das viagens presidenciais

Muito discretamente, foi hoje anunciado que o presidente da República Portuguesa eleito por sufrágio universal em 23 de Janeiro de 2011, tinha chegado a Seul. Fiquei muito surpreendido por mais uma viagem presidencial numa altura em que, para além da nossa enfraquecida situação económica e financeira, conforme nos foi repetidamente dito nos últimos três anos, também passamos por uma preocupante e ainda mal definida situação de um dos maiores grupos financeiros portugueses, senão mesmo do próprio sistema bancário. Apesar disso, dois meses depois de uma grande viagem à China com mais de uma centena de empresários, aí está mais uma viagem presidencial ao Oriente. São demasiadas viagens para destinos exóticos. É gastar acima das nossas possibilidades. Além disso, porque Sua Excelência não gosta de viajar sózinho, leva consigo uma alargada comitiva que integra membros do governo, dirigentes de 17 empresas e alguns representantes de universidades nacionais. Não havia necessidade de, uma vez mais, levar tanta gente para este tipo de viagens que não têm outro efeito prático que não seja o de gastar dinheiro com demasiados acompanhantes, onde se incluem assessores, professores, jornalistas e empresários. O assunto está estudado nas academias e a insistência neste tipo de viagens é um quase insulto aos contribuintes portugueses. Após esta visita à Coreia do Sul o presidente segue para Timor-Leste a convite do presidente Taur Matan Ruak, no âmbito da reunião plenária da CPLP. Curiosamente, foi há dois anos que o presidente visitou Singapura e a Austrália, além de Timor-Leste, o que confirma o seu gosto pelo Oriente e pelo exotismo. Embora se compreenda esta visita institucional a Timor-Leste, seria bom que a comitiva fosse limitada, porque o exibicionismo das grandes comitivas nos ridiculariza e nos custa muito dinheiro.

sexta-feira, 18 de julho de 2014

O trágico voo MH 17

A brutalidade da notícia correu mundo e esta manhã ocupa as manchetes da generalidade dos jornais: um Boeing 777-200 da Malaysia Airways com 298 ocupantes despenhou-se sobre a região oriental da Ucrânia, onde desde há alguns meses se verificam combates entre o exército ucraniano e os separatistas pró-russos. Era o voo MH17 e o avião voava de Amsterdão para Kuala Lumpur.
Ninguém parece ter dúvidas de que o avião foi abatido por um míssil terra-ar, embora cada um dos contendores que se defrontam no terreno acuse o outro por este grave acontecimento que, para além da perda de muitas vítimas inocentes, viola todas as regras da boa convivência internacional e da passagem inofensiva de aeronaves comerciais. O que ainda se está para saber não é apenas quem disparou o míssil, mas também se esse disparo foi acidental ou propositado e, neste caso, porquê. Obviamente que esta tragédia está relacionada com a situação de guerra que se vive na região e que, aparentemente, tem aumentado de intensidade com a maior intervenção das tropas ucranianas, com a maior organização das forças separatistas da auto-proclamada República Popular de Donetsk e com o eventual envolvimento directo de tropas e armamento russos. Embora os dirigentes russos, as autoridades ucranianas e os poderes ocidentais sejam prudentes nas interpretações e acusações que estão a fazer quanto ao que se passou, é evidente que todos eles têm responsabilidades pela situação a que se chegou. Não se compreende porque se encontram e se abraçam ou porque falam ao telefone e sorriem, não sendo depois capazes de resolver estes imbróglios, não só na Ucrânia, mas também noutros países onde não há paz. A Humanidade merecia outros dirigentes.

terça-feira, 15 de julho de 2014

A Copa do Mundo 2014 – comentário IV

A 20ª Copa do Mundo terminou no domingo e, sem qualquer surpresa, a equipa da Alemanha foi a vencedora, o que fez lembrar a adivinha da pescada: qual é a coisa qual é ela, que antes de ser já o era?
A equipa alemã foi a que melhor se prepararou e que melhor se apresentou no Brasil. Os seus jogadores concentraram-se no seu objectivo e não se dispersaram em jogos para angariação de fundos, em cansativas deslocações ou em demoradas sessões publicitárias, tendo parecido adoptar o rigor da tecnologia alemã inspirado na BMW, na Mercedes, na Volkswagen ou na Siemens.
A Argentina bateu-se bem, ficou em segundo lugar e, segundo a FIFA, até contou com o melhor jogador na competição. Assim, se o resultado final lhe foi desfavorável só pode ter sido porque os companheiros de Messi eram muito maus. Como não é isso que acontece, temos que a FIFA insiste em ignorar que fora de Barcelona, sem o apoio de Iniesta e sem a protecção dos árbitros espanhóis, o Messi não é a mesma coisa.
A Holanda brilhou, nunca perdeu e, através de Robin van Persie, marcou o mais espectacular golo de toda a competição, mas a Colômbia também brilhou com os golos de James Rodriguez, que os portugueses bem conhecem.
O Brasil do futebol ficou aquém das expectativas no que respeita aos resultados desportivos, mas o Brasil da competência organizativa ganhou... pois teve a capacidade de gerir com muita eficiência uma organização muito complexa, dando uma excelente imagem para o exterior e recebendo a aprovação de 83% dos estrangeiros que estiveram no Brasil. Para aqueles que não acreditavam que os estádios e outras infraestruturas fossem concluidos a tempo, que temiam que os aeroportos “rebentassem pelas costuras” e que previam que alguma agitação social viesse perturbar a segurança e o quotidiano nas cidades brasileiras, o Brasil deu uma grande lição ao mundo e passou uma imagem de capacidade organizativa, de segurança, de bom acolhimento, de eficiência nas telecomunicações e de elevado desportivismo. É certo que continua a contestação daqueles que ao despesismo da Copa, preferiam mais investimento na educação e na saúde dos brasileiros, mas esse é um problema interno. Daqui, o que nós vimos foi uma realização excelente de uma nação afirmativa e vibrante. 

domingo, 13 de julho de 2014

A função social dos jornais e os jornalistas

O gabinete oficial de estatísticas da EU (Eurostat) divulgou no passado dia 10 a newsrelease 108/2014, na qual anuncia as primeiras estimativas sobre a população europeia relativas a 1 de Janeiro de 2014. Assim, no primeiro dia do ano a população da União Europeia (UE28) era estimada em 507,4 milhões de pessoas, ligeiramente superior aos 505,7 milhões que se verificavam no dia 1 de Janeiro de 2013, sendo esta alteração justificado por um aumento natural de 80 mil pessoas e por um acréscimo de 700 mil novos imigrantes.
No que se refere a Portugal a informação do Eurostat é bem precisa: no ano de 2013 a população portuguesa baixou de 10,48 para 10,42 milhões de pessoas, tendo havido 82,8 mil nascimentos e 106,5 mil óbitos. A este crescimento negativo de -23,8 mil pessoas há a acrescentar um saldo migratório negativo de -36,2 mil habitantes, pelo que o país perdeu cerca de 60 mil habitantes no último ano. A situação de envelhecimento demográfico é muito grave e é bem conhecida, mas o governo não parece dar-lhe a importância que merece com medidas incentivadoras da natalidade. Portugal registou em 2013 a mais baixa taxa bruta de natalidade na UE28 (7,9‰), enquanto na Espanha essa taxa se situou nos 9,1‰. Relativamente aos óbitos, em Portugal verificaram-se 10,2 óbitos por mil habitantes, enquanto na Espanha aconteceram 8,3 óbitos por mil habitantes. Significa, portanto, que em Portugal houve menos nascimentos e mais óbitos do que em Espanha e que a alteração demográfica natural foi mais grave em Portugal do que em Espanha.
Porém, enquanto o diário ABC fala hoje do “suicídio demográfico espanhol”, os nossos jornais não consideram este tema merecedor de destaque nas suas primeiras páginas. É lamentável que os nossos jornais e a generalidade dos nossos jornalistas se percam com assuntos menores e que ignorem o seu papel na construção da nossa realidade social e que não cumpram a sua função de alertar e de pressionar os poderes públicos democráticos presentes na sociedade.

Aproxima-se o futuro da Escócia

Será já no próximo dia 18 de Setembro que se realizará o referendo em que os escoceses irão decidir se querem continuar integrados na Grã-Bretanha ou se preferem ser independentes.
O resultado dessa consulta popular não vai ser apenas importante para os escoceses, pois vai ter grande repercussão internacional, sobretudo se optarem pela sua saída da Grã-Bretanha. Depois de uma união que dura há 307 anos e que “governou um terço da Humanidade” e que ainda serve de modelo e de inspiração para muita gente, a hipótese de dissolução do Reino Unido está a assustar. Naturalmente, há factores favoráveis e factores desfavoráveis à independência escocesa, que são valorizados por cada um dos lados em confronto mas, para a generalidade da população, a principal questão é saber se ficam melhor ou pior com a separação do Reino Unido.
O conceituado The Economist tomou posição e é claramente favorável à permanência da Escócia na Grã-Bretanha, embora reconhecendo que Londres deva ceder mais poder a Edimburgo  e sintetiza: a Escócia pode ser independenter, mas não deve. A independência é uma questão que tem tanto de emocional como de racional. Neste aspecto, os nacionalistas asseguram que uma Escócia independente será mais próspera, mais democrática e beneficiará dos rendimentos do petróleo do Mar do Norte, mas os seus adversários avisam que a população escocesa está envelhecida, que a exploração do petróleo se aproxima do fim, que a produtividade global é baixa e que a Escócia independente passará por dificuldades semelhantes às da Irlanda. Os escoceses decidirão, mas é evidente que se optarem pela independência abrirão uma caixa de Pandora e darão força à ideia de uma Europa das Pátrias, com repercussões em muitas outras regiões europeias, nomeadamente na Catalunha, mas não só. Por outro lado, se os escoceses vierem a sair do Reino Unido, o amor-próprio dos britânicos sairá muito fragilizado e perderão muita influência no mundo e no Conselho de Segurança das Nações Unidas, na União Europeia, no G7, no FMI e na Commonwealth.

sábado, 12 de julho de 2014

Viver acima das suas possibilidades

Os portugueses têm andado desde há três anos a ouvir repetidos discursos sobre as necessidades e as virtudes de um ajustamento que deveria corrigir o despesismo e os erros da má governação do passado, mas também o discurso laudatório da acção da troika, do programa bem sucedido e da saída limpa.
Tudo foi feito para combater aqueles que se dizia estarem a viver “acima das suas possibilidades”, aumentando-lhe os impostos e reduzindo-lhe os salários e as pensões. Os efeitos do regime de austeridade que o governo quis que fosse “para além da troika” estão a ser devastadores e, para a maioria da população, aumentou a pobreza e a desigualdade, enquanto “os ricos estão cada vez mais ricos”.
Porém, as notícias dos últimos dias a respeito do Grupo Espírito Santo deixaram-nos perplexos. Era gente séria, competente, profissional e sem ponta de pecado. Enriqueceram por mérito. Afinal, sabemos agora que eles é que viveram “acima das suas possibilidades”, muito encostados ao Estado e aos seus negócios, gozando de favores, acumulando prejuízos de vários milhares de milhões de euros e utilizando dinheiros para créditos que não controlam. A gravidade da situação  que irresponsavelmente criaram, alarmou o mundo financeiro e a imprensa financeira mundial colocou Portugal nas suas primeiras páginas por muito más razões.
Ninguém suspeitou daquele respeitável grupo e a regulação esteve, mais uma vez, desatenta. É sabido que nos círculos do poder, onde os políticos e a finança vivem em promiscuidade, tudo continuou na mesma – a mesma gente, a mesma ganância, as mesmas habilidades e as mesmas práticas fraudulentas, em nome da confiança entre amigos que trocam favores e alternam cargos. Ninguém reparou neste novo caso BPN e ninguém aprendeu as lições da crise do sistema financeiro global e dos desmandos da generalidade dos seus gestores que, por todo o lado, se revelam são gente sem escrúpulos e com enorme avidez pela acumulação rápida de fortuna a qualquer preço.  Está muito dinheiro a voar e por mais discurso de confiança que se produza, já ninguém está sossegado. Até aquele que nos governa veio dizer que "os depositantes têm razões para ter toda a confiança quanto à segurança que o Banco Espirito Santo oferece às suas poupanças”. Haverá alguém que, depois de tanta mentira desse governante, confie nesta declaração?  

quarta-feira, 9 de julho de 2014

Allô, Brasil... lembrem-se que há muito mais vida para além do futebol!

Ontem, num jogo das meias-finais do Campeonato do Mundo de Futebol que se disputou em Belo Horizonte, a selecção brasileira perdeu com a selecção alemã por 7-1. Nunca uma coisa dessas tinha acontecido e as imagens que nos chegaram pela televisão foram demasiado expressivas da tristeza que se apoderou de um Brasil que chorava copiosamente, como se uma derrota num jogo de futebol tivesse a gravidade de uma explosão nuclear, a dimensão de um terrível tsunami ou de uma outra qualquer calamidade.
Os jornais brasileiros e outros jornais sul-americanos escolheram as palavras humilhação, vergonha e vexame para definir o que aconteceu, mas também foram eles que ajudaram a criar na população brasileira a ideia de um super-brasil futebolístico e da sua invencibilidade a toda a prova.
Porém, o futebol é apenas um maravilhoso espectáculo que apaixona as multidões e um jogo com 22 jogadores que dura 90 minutos. Não é mais do que isso. Não pode ser mais do que isso. Não há dramatismo quando há uma derrota, nem deve haver demasiada euforia quando há uma vitória.
Veja-se o que aconteceu logo na primeira fase do Campeonato do Mundo, com a eliminação das equipas de Portugal, Espanha, Inglaterra, Itália, Rússia e Uruguai. Veja-se o que aconteceu depois com a eliminação das equipas dos Estados Unidos, do México, do Chile, da Colômbia, da Grécia, da Bélgica, da Suiça e da França. O planeta Terra continuou calmamente no seu movimento de rotação, o Sol nasceu todos os dias e os cidadãos daqueles países já esqueceram aqueles “desastres” futebolísticos. Não houve humilhação, nem vergonha, nem tão pouco "um vexame para a eternidade", como titula a edição de hoje do Correio Braziliense.
Quando há três semanas a equipa alemã goleou a equipa portuguesa por 4-0, também do lado de cá do Atlântico sofremos muito, mas reagimos depressa. Agora no Brasil, também é preciso reagir, mais com a razão e menos com a emoção. O Brasil é bem maior do que aqueles dolorosos sete golos alemães. Há mais vida para além do futebol!

terça-feira, 8 de julho de 2014

O escândalo, a imoralidade e o abuso

Há uma clássica definição para a palavra notícia que a descreve como “o relato de um acontecimento verdadeiro ou não”, mas também há um ditado popular que nos ensina que “não há fumo sem fogo”. Por isso, quando nos aparece uma manchete como a que o Correio da Manhã nos apresenta hoje, embora possamos interrogar-nos sobre a sua veracidade ou sobre o rigor da notícia, não podemos duvidar de que tenha algum fundamento. E ficamos perplexos e indignados.
Nos últimos anos assistimos a um escandaloso, imoral e arrogante comportamento da banca, tão useira e vezeira em práticas fraudulentas e absolutamente cega pela sua desmedida ganância. Os seus gestores têm sido um símbolo de uma enorme ambição, de um novo-riquismo que exibem com os seus automóveis topo de gama e da pressa com que querem enriquecer rapidamente, mas também um exemplo da promiscuidade com o sistema político, empregando muitos dos seus agentes e favorecendo os seus amigos, exactamente como os senhores faziam na cidade feudal. A tradicional função da banca de recolher poupanças dos depositantes e pô-las ao serviço da economia, foi substituída pela especulação e pela fraude. Os banqueiros passaram a “mandar” nos políticos e a ter toda a cobertura para as negociatas com o Estado, beneficiando da dívida, das PPP, dos swaps e de muito mais coisas que os cidadãos não sabem nem compreendem. A fraude do BPN, que nos está a levar milhares de milhões de euros e que ninguém parece querer cobrar a ninguém, é o exemplo mais badalado. Mas não é só o BPN. Afinal temos muitos BPN e muitos Oliveira e Costas. Ninguém é responsabilizado e parece que todos merecem um prémio. Isto é mesmo uma vergonha! Oliveira e Costa não tem património pessoal. Dias Loureiro goza connosco. Jardim Gonçalves não sabe o que fazer a tão choruda reforma. Agora temos o Salgado. Tem sido assim a impunidade e parece que assim vai continuar. O nosso sistema financeiro transformou-se numa fraude, numa imoralidade e num escândalo onde enterramos o nosso dinheiro em resgates e juros. Perante este quadro de pavor, porque se riem o Passos e o Portas a celebrar a saída limpa e o crescimento da economia?

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Privatizar a TAP? Não, obrigado!

Tem havido uma onda privatizadora em Portugal que, por vezes inexplicavelmente, nos tem retirado a posse de recursos e actividades estratégicas que são, ou deveriam ser, garantes de uma verdadeira independência nacional e que têm sido vendidos a capitais privados nacionais ou internacionais. Vender o património  desta maneira é uma violência e uma cedência à ganância e ao fanatismo dos abutres e da passarada que os serve.
Um país que opta por não controlar a produção e a distribuição da electricidade de que necessita, que vende a sua lucrativa exploração aeroportuária ou que se desfaz de uma instituição centenária como são os correios, entre outras empresas ou actividades essenciais, não está a zelar pela sua independência e, inversamente, está a acentuar as suas condições de dependência. Um governo que actua assim tem uma noção distorcida do que é o serviço público e está a ceder a interesses que não são os nossos. A privatização da EDP, da REN, da ANA e dos CTT são exemplos de privatizações de vínculo ideológico, até porque os encaixes realizados não tiveram qualquer significado no quadro das nossas dificuldades financeiras.
No Memorando de Entendimento assinado em 17 de Maio de 2011 estava prevista a privatização da TAP, uma operação que já foi tentada, mas que não resultou. Agora, a TAP anunciou os seus resultados operacionais e verificou-se que, no primeiro semestre de 2014, transportou 5,2 milhões de passageiros o que significa um aumento de 7,2% em relação ao mesmo período do ano anterior e que houve um melhor aproveitamento dos aviões que atingiu 80,1%, isto é, melhorou 3,2% em relação ao mesmo período de 2013. Excelentes resultados. Ao mesmo tempo, a empresa vai receber brevemente novos aviões e anunciou dez novos destinos - Nantes, Hanôver, Gotemburgo, Belgrado, Talim, São Petersburgo, Manaus, Belém, Bogotá e Cidade do Panamá. Excelente dinamismo empresarial.
A TAP é um símbolo da identidade nacional e funciona bem. Deixem a vossa pequenez e não pensem mais na sua privatização.

domingo, 6 de julho de 2014

Uma estranha aliança na ajuda ao Iraque

A vitoriosa campanha militar que tem sido conduzida pelas forças do Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL) levou à proclamação de um califado que abrange uma boa parte do território sírio e mais de um terço do território iraquiano, onde se incluem as cidades de Falluja, Mossul e Tikrit, bem como algumas das áreas-chave da produção petrolífera. As forças  jihadistas aproximam-se agora de Bagdad e há crescentes sinais de desintegração do Estado e das instituições iraquianas, a mostrar que a intervenção americana no Iraque e o derrube de Sadam Hussein não trouxeram estabilidade à região.
A situação começa a ser alarmante e é um complexo enigma, segundo informa a edição de fim de semana do jornal Le Monde. O jornal destaca que está constituída uma "estranha aliança" ou uma inesperada coligação entre o Irão, os Estados Unidos e a Rússia para apoiar as autoridades iraquianas contra os jihadistas radicais e os seus aliados sunitas, materializada em drones e conselheiros americanos, guardas da revolução iranianos e aviões e pilotos russos. Porém, ali ao lado, na guerra da Síria estes países estão em posições opostas. Enquanto o Irão e a Rússia apoiam o regime de Bashar al Assad, os Estados Unidos têm apoiado a oposição síria e, desta estranha atitude ou desta americanice, resulta que o EIIL recebe armas, dinheiro e apoio político americano no território sírio, enquanto do outro lado da fronteira, no território iraquiano, é afrontada por conselheiros militares americanos e por drones Predactor equipados com mísseis Hellfire.
O que está para acontecer no Iraque e na Síria, mas também em toda aquela região, é uma grande interrogação, mas parecem não restar dúvidas de que a política externa americana tem muitas responsabilidades, por acção ou omissão, naquilo que por lá se passa. Muito por amor do petróleo...

O poder naval é um símbolo de prestígio

Anteontem foi um grande dia para a Royal Navy e para a indústria da construção naval britânica pois foi lançado à água nos estaleiros escoceses de Rosyth o maior navio de guerra jamais construído no Reino Unido: o HMS Queen Elizabeth. A Rainha baptizou o novo porta-aviões numa cerimónia cheia de simbolismo, pois em vez do tradicional lançamento de uma garrafa de champanhe contra o costado do novo navio, foi utilizada uma garrafa de whisky em homenagem aos trabalhadores do estaleiro. O navio será a peça principal da capacidade militar britânica do século XXI, juntamente com o HMS Prince of Wales que também está em construção. Com 65.000 toneladas de deslocamento, aqueles navios poderão actuar em todo o mundo, não só em acções militares, mas também em operações de carácter humanitário.
Ontem, o diário The Scotsman não “esqueceu” que a Escócia está apenas a 11 semanas do seu referendo sobre a independência e lembrou que o navio foi "made in Scotland", embora dedicasse toda a sua primeira página ao evento e salientando que era um dia de orgulho para a Royal Navy e para as mais de 10 mil pessoas que têm trabalhado na contrução dos navios, até porque foi um desafio de uma complexidade sem precedentes. Não faltou ninguém a este grande evento: a Rainha e o Príncipe Filipe, o Primeiro Ministro David Cameron, o líder da oposição, muitos deputados e o Primeiro Ministro da Escócia Alex Salmond, que se fez acompanhar pelo pai Robert, que tem 92 anos de idade e que, como sargento, fez parte da guarnição de dois porta-aviões ingleses durante a guerra.
O curioso de tudo isto é a atenção que a Grã-Bretanha dá à sua Defesa e à sua Marinha, bem como a sua vontade de manter um poder naval forte e de “governar os mares”. Aqui, enquanto se gastaram (e continuam a gastar) milhares de milhões de euros em bancos, PPP, swaps e outras fantasias financeiras, ainda há quem critique a aquisição de dois submarinos, ao mesmo tempo que assistimos a uma desastrada actuação de um ministro da Defesa que, objectivamente, visa o desprestígio das Forças Armadas e ainda não percebeu a importância interna e internacional que elas têm para o nosso país. Assim, com estas vistas tão curtas e tão servis, é muito difícil sermos respeitados internacionalmente.

sábado, 5 de julho de 2014

Um prémio e um incompreensível silêncio

Carlos do Carmo foi distinguido com o mais prestigiado prémio da indústria discográfica – o Grammy Lifetime Achievement Awardpela sua carreira, pelo seu estilo “único e definitivo” e pelo seu papel no enriquecimento do património cultural mundial. É uma satisfação para a cultura portuguesa, pois nunca um cidadão português recebera uma tal distinção que apenas é atribuída a figuras reconhecidas mundialmente e que vai contribuir para uma maior internacionalização do fado e de todos os seus cultores.
Carlos do Carmo é um homem inteligente e culto que tem sabido gerir uma carreira de 50 anos e que adquiriu projecção internacional, tendo dado um importante contributo para a afirmação mundial do fado, que culminou com a sua classificação pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade, num processo em que, segundo o Presidente da Câmara Municipal de Lisboa, ele foi “um grande, enérgico, incansável e insubstituível embaixador”. Essa distinção única e prestigiante, mereceu felicitações de três ex-presidentes da República - António Ramalho Eanes, Mário Soares e Jorge Sampaio - mas foi ignorada pelo Presidente da República em exercício, provavelmente por Carlos do Carmo ser um seu assumido crítico.
No entanto, é preciso notar que no dia 23 de Janeiro de 2011 quando foi eleito para o seu segundo mandato com 53,14% dos votos, o cidadão Aníbal Cavaco Silva se tornou o Presidente de todos os Portugueses, isto é, dos que votaram e dos que não votaram nele, dos que gostam e dos que não gostam dele, dos que o elogiam e dos que o criticam. Nessa linha, ele tem o dever institucional de homenagear os portugueses que se destacam no panorama interno e internacional, atribuindo comendas a uns e enviando mensagens de felicitações a outros, sem cuidar de saber se fazem parte do seu grupo de amigos ou de outro qualquer grupo. É assim que se deve comportar o supremo magistrado da Nação, pelo que não se compreende porque saiu da sua linha de rumo e assumiu este incompreensível silêncio em relação ao prémio atribuído a Carlos do Carmo.

quarta-feira, 2 de julho de 2014

Música erudita por todo o país

A última edição do Jornal de Letras, Artes e Ideias (JL) destaca a frase Tempo de Festivais como título de primeira página e, em subtítulo, a frase Música erudita por todo o país. Com a chegada do Verão e do irresistível apelo para usufruir das agradáveis noites estivais, os festivais levam a música a muitos palcos espalhados por todo o país. Nesse aspecto, a música popular e a música pop-rock, mas também o fado, são os tipos de música que mais anima as festas e as romarias, mas o facto é que a música erudita parece ganhar cada vez mais audiências, não só nas cidades do litoral, mas também em zonas do interior.
Neste Verão, segundo informa o JL, estão anunciados festivais de música erudita um pouco por todo o país, muitas vezes com apresentação em espaços patrimoniais de excelência – igrejas, castelos e praças medievais - designadamente em Lisboa, Estoril, Cascais, Sintra, Óbidos, Leiria, Coimbra, Gaia, Espinho, Oliveira do Douro, Póvoa de Varzim, Santarém, Moura, Marvão, Castelo Novo e Alpedrinha, entre outras localidades.
De entre os festivais anunciados destaca-se o Cistermúsica, que decorrerá até 27 de Julho e que “levará a Alcobaça seis séculos de música para ouvir em mais de vinte e cinco espetáculos”. Entre os atrativos do programa alcobacense contam-se, pela primeira vez, dois alaudistas - Hopkinson Smith (num recital de tiorba dedicado a suites de Bach) e Miguel Yisrael (que tocará Beethoven, Britten, Webern e Debussy) - ou a estreia moderna de um requiem do século XVI, conservado na Biblioteca de Coimbra.
Não deixa de ser curioso e merecer justo aplauso, a verificação de uma atitude de crescente interesse e dinamismo das organizações culturais da sociedade civil, dos agentes culturais e dos músicos, das autarquias e dos patrocinadores, para dar resposta a uma maior procura cultural e estética dos novos públicos, em sintonia com a melhoria do nível educacional da nossa população.

Quem enganou as crianças da Esperança?

ESPERANÇA, 28 Março de 2014
Foi há cerca de três meses que o Banco Espírito Santo (BES) decidiu "recuperar a esperança", tendo lançado uma campanha institucional com o duplo objectivo de realizar obras de recuperação numa aldeia alentejana  e de restaurar o sentimento da esperança junto da população portuguesa. Essa aldeia tem 739 habitantes, chama-se Esperança e fica no concelho de Arronches, distrito de Portalegre. Entre outras beneficiações realizadas na aldeia, foi recuperada a Escola Básica da Esperança.
O Presidente da República, a Primeira Dama e o Ministro Crato associaram-se à campanha do BES e visitaram essa escola, fazendo-se fotografar com os seus acompanhantes, mas também com os professores e os alunos da escola. A imprensa noticiou esta iniciativa e descreveu “como uma campanha recupera uma aldeia alentejana” (DN/Dinheiro Vivo, 29-3-2014).
Menos de três meses depois, o Ministro Crato anunciou o encerramento de 311 escolas no âmbito da reorganização da rede escolar, cujos alunos vão ser integrados em distantes centros escolares já no próximo ano lectivo de 2014-2015. Uma dessas escolas é exactamente a EB Esperança, onde o Ministro Crato tinha levado o Venerando Chefe do Estado para a citada acção de propaganda, onde este exibiu um largo sorriso estampado no rosto. Agora, verificamos que as crianças, os professores e as famílias de Esperança foram enganadas!
É sabido que, desde há muitos anos, as assimetrias territoriais têm aumentado em Portugal, mas também é sabido que a nossa desertificação territorial se tem acentuado nos últimos anos com a recessão, o envelhecimento e o desemprego e, sobretudo, com as políticas do actual governo, onde se incluem o encerramento de escolas, centros de saúde, tribunais, repartições de finanças e estações de correios.  
É caso para perguntar: o que foram fazer à Esperança estes altos dignitários da Nação? É assim que se resolve o problema da natalidade?