domingo, 31 de maio de 2015

Os impasses da democracia espanhola

As recentes eleições autárquicas e regionais espanholas deram uma escassa vitória ao partido Partido Popular (PP) por apenas 27% dos votos. O PP perdeu a larga maioria que detinha e perdeu o poder em algumas regiões importantes, enquanto o PSOE conseguiu sobreviver ao aparecimento do Podemos e do Ciudadanos. O mapa político espanhol alterou-se como consequência da reacção do eleitorado à crise económica e ao desemprego, mas gerou um certo impasse político em muitas situações onde o radicalismo pré-eleitoral dificulta agora a obtenção de acordos pós-eleitorais.
O caso da Comunidade Autónoma da Extremadura é ilustrativo dessa situação. Com uma área de cerca de 41 mil quilómetros quadrados (quase metade de Portugal) e um pouco mais de um milhão de habitantes, tem a sua capital em Mérida e inclui 387 municípios nas províncias de Badajoz (165) e Cáceres (222). Nas eleições autárquicas de 24 de Maio registou-se uma participação de 73% de eleitores, tendo havido uma bipolarização em torno do PSOE (42,08%) e do PP (36,75%). Dos 3350 mandatos que estavam em disputa, o PSOE obteve 1642 e o PP conseguiu 1295, enquanto os outros partidos e coligações obtiveram 413 mandatos.
Porém, uma semana depois das eleições, o jornal Hoy de Badajoz, revela que há 70 municípios ou alcaldias, que correspondem a 18% do total da comunidade estremenha, que estão pendentes de acordos entre os diversos partidos políticos para terem governo municipal. São 70 impasses da democracia espanhola. As combinações não são fáceis. O PP defende que deve governar o partido mais votado, enquanto o PSOE está disposto a coligar-se à esquerda. Veremos… e, sobretudo, aprendamos.

A insólita reeleição de Joseph Blatter

Apesar da tempestade que atingiu a FIFA, na passada sexta-feira Joseph Blatter foi reeleito para fazer o seu quinto mandato como presidente da organização que governa o futebol mundial, depois de ter ocupado o cargo durante 17 anos, de não ter evitado a enorme corrupção que agora foi denunciada e de já ter 79 anos de idade. A imprensa internacional continuou a ocupar-se desta estranha e surpreendente eleição e, no dia seguinte, a capa do Der Spiegel é apenas um exemplo da atenção que o tema mereceu. Mesmo no meio da tempestade que criou ou que não foi capaz de dominar, Joseph Blatter venceu com facilidade. As 209 federações nacionais inscritas na FIFA ainda tiveram que realizar uma segunda volta do escrutínio pois Blatter não conseguiu os dois terços de votos necessários para assegurar a vitória na primeira ronda. O apoio da generalidade das federações europeias, dos Estados Unidos, do Canadá e da Nova Zelândia ao príncipe jordano Ali bin Hussein não foram suficientes para derrotar Blatter.
O mundo admirou-se pelo facto de 133 federações nacionais terem apoiado Blatter, depois do que se passou nos últimos dias. Porém, o presidente da FIFA soubera conquistar esses apoios ao longo dos anos com a oferta de frequentes viagens a Zurique para reuniões e worshops, com alojamento nos mais luxuosos hotéis da cidade, com o pagamento de prémios por presença nessas reuniões, além de outras quase irresistíveis mordomias.    
Em comunicado enviado à imprensa a Federação Portuguesa de Futebol condenou a recondução de Blatter na presidência da FIFA que, segundo ela, deveria ter sido adiada e é uma prova de que Luís Figo tinha razão quando desistiu da sua candidatura por não querer caucionar este processo. Às vezes, no meio das tempestades, sabemos tomar as atitudes correctas.

sexta-feira, 29 de maio de 2015

O vendaval na FIFA e outros escândalos

É uma grande notícia, daquelas de que a comunicação social tanto gosta, mas que muita cumplicidade calou durante muitos anos, sabe-se lá porquê. Por todo o mundo não se fala noutra coisa e até foram esquecidos os grandes problemas com que se debate a Humanidade. Os jornais internacionais e as cadeias de televisão a que temos acesso não param de nos informar, de nos explicar e de nos descrever o que se está a passar na Fédération Internationale de Football Association, a organização que governa o futebol mundial e que é conhecida pela sigla FIFA. Ontem, no seu telejornal das 20 horas, a RTP dedicou-lhe os primeiros 16 minutos! Há uma guerra aberta de contornos políticos e económicos à volta deste vendaval e, entre outros, até Putin e Cameron já tomaram posição, enquanto os grandes patrocinadores como a Coca Cola, a Visa e a Adidas ameaçam desligar-se do futebol. 
Hoje o Le Monde fala do escândalo e da risco de implosão da FIFA. Aconteceu que, a pedido das autoridades americanas e na sequência de uma investigação que decorria há 12 anos, a polícia de Zurique deteve sete dirigentes da FIFA acusados de participar numa rede de corrupção instalada no mundo do futebol e dela beneficiar directamente, através de subornos, chantagens, fraude fiscal e lavagem de dinheiro. Esta rede terá actuado ao longo de mais de duas dezenas de anos e o valor calculado da fraude poderá atingir 150 milhões de dólares.
O Presidente da FIFA está, até agora, ilibado neste processo. É um cidadão suíço de 79 anos de idade chamado Joseph Blatter, que governa a organização desde 1998 e que hoje mesmo se apresenta para ser eleito para um 5º mandato. O homem não sabia de nada, mas já disse que não podia controlar tudo e que está certo de que se seguirão outras más notícias. É bem curiosa esta nova moda em que aqueles que mandam não assumem as suas responsabilidades pelo que se passa nas organizações ou serviços que tutelam, seja aqui seja lá fora, seja na nossa Autoridade Tributária, seja na FIFA. Antigamente, as pessoas eram mais verticais, tinham vergonha e demitiam-se. 

quinta-feira, 28 de maio de 2015

As festas do Divino Espírito Santo

São Roque do Pico, Julho, 2013
Pico, 2015 - As festas em honra do Divino Espírito Santo na ilha do Pico são um caso de religiosidade, mas também um exemplo do culto da tradição e da preservação da cultura popular açoriana, celebrando-se entre o Domingo de Pentecostes e o Domingo da Trindade. No corrente ano as festividades decorrem em 34 localidades, entre os dias 24 e 31 de Maio, estando assinaladas 53 festas, cada uma delas organizada pelos seus mordomos ou pelas suas Irmandades. Cada localidade tem rituais próprios mas, no essencial, constam de um cortejo encabeçado por crianças que se desloca desde a casa do mordomo ou da Irmandade até à igreja, ao longo de um percurso embandeirado e florido, em que são tranportados a coroa do Espírito Santo, o estandarte da Irmandade e as oferendas, acompanhados pela filarmónica e pelos foliões para dar solenidade ao cortejo. A influência da diáspora é cada vez mais acentuada e, em muitos casos, há uma crescente americanização da festa.
Segue-se a missa em que são entronizados os mordomos. Após a missa fazem-se leilões de oferendas no adro da igreja, enquanto se prepara o início do solene e compassado cortejo em direcção ao salão onde será servido o tradicional almoço de sopas do Espírito Santo – carne de vaca cozida, couve cozida e pão embebido em caldo de carne. O número de participantes em cada almoço ultrapassa as largas centenas, pelo que a preparação e distribuição do almoço também envolve muitas dezenas de voluntários da própria comunidade. Segundo revelou a última edição do Jornal do Pico, estão convidadas cerca de 25 mil pessoas para as 53 festas e respectivos almoços a realizar em 34 localidades da ilha do Pico. Uma vez que há localidades onde se realiza mais do que uma festa, o número de convidados quase duplica a população total da ilha. Festas assim são cada vez mais raras.

terça-feira, 26 de maio de 2015

Lisboa capital mundial da vela oceânica

Volvo Ocean Race, Lisboa, 2012
Nas próximas horas chegam a Lisboa e atracarão na doca de Pedrouços os seis iates que ainda estão a disputar a Volvo Ocean Race, que é a maior competição de vela oceânica e que também é considerada um dos cinco maiores acontecimentos desportivos do mundo.
Esta sétima etapa que liga Newport a Lisboa tem uma extensão de 2.800 milhas, assinala o regresso à Europa e conclui as etapas-maratona que, até agora, fizeram com que os participantes já tivessem navegado mais de 36 mil milhas. Durante cerca de duas semanas, o porto de Lisboa e os portugueses vão ter a possibilidade de conviver com um evento de grande prestígio internacional que vai levar o nosso país às televisões de todo o mundo e que é um contributo para a nossa afirmação como um país marítimo e Lisboa como uma capital do mar, coisa que muitos dos nossos dirigentes políticos continuam sem perceber.
A Câmara Municipal de Lisboa está de parabéns por ter assegurado que esta competição escalasse Lisboa não só nesta edição, mas também na que se realizará em 2017-2018. Houve quem discordasse do “enorme custo” deste apoio, calculado em 4 milhões de euros repartidos por diversas entidades, mas o facto é que se trata de uma decisão muito feliz. Em 2012 este evento e a animação que lhe está associada – concertos, exposições, feiras, passatempos e actividades diversas – foram visitados por 220 mil pessoas e terá gerado um volume de negócios da ordem dos 30 milhões de euros. Este ano espera-se muito mais. Portanto, que ninguém perca esta oportunidade de ver estes fórmula 1 dos mares, não só na doca de Pedrouços mas também nas provas pro-am que servem de treino à frota em competição e podem ser vistas a partir do “anfiteatro natural que são as margens do Tejo”.

domingo, 24 de maio de 2015

Uma espécie de jornalismo desportivo

A equipa do Sport Lisboa e Benfica venceu o Campeonato Nacional de Futebol da 1ª Divisão, agora chamado Liga NOS e, como muitas vezes se afirma, houve “6 milhões de portugueses” que ficaram satisfeitos e felizes. Foi a vitória de uma equipa com demasiados jogadores estrangeiros sobre outras equipas, também com demasiados jogadores estrangeiros e essa desnacionalização do nosso futebol é tão significativa como a desnacionalização do nosso tecido empresarial, como sucedeu com a Cimpor, a PT, a REN, a EDP, a ANA, os Correios e, agora, a TAP. Os novos tempos são assim e não adianta que nos queixemos. O que realmente interessa é que haja tantos portugueses satisfeitos e  felizes, mesmo que seja por uma vitória num campeonato de futebol, esquecendo por uns dias o sombrio panorama que nos cerca e que nos revela enormes incertezas quanto ao futuro.
A festa começou no passado fim de semana em Guimarães e estendeu-se à capital com grandes festejos na Praça Marquês de Pombal, que ontem chegaram até ao Estádio da Luz. Houve alguns problemas, mais ou menos esperados. O futebol sempre foi um escape emocional para o povo e, por isso, é natural que depois de muitas semanas de ansiedade, de muitos jogos e de off-sides, de golos e de penaltis, de lesões e de cartões, de boas e más arbitragens, de entrevistas e de comentários, aconteça esta enorme onda de alegria que envolveu os tais “6 milhões de portugueses”. Porém, para aqueles que realmente gostam de futebol e das imagens que aquele espectáculo proporciona, a forma como a comunicação social – imprensa, rádio e televisão – tratou este assunto foi absolutamente desproporcionada e abusiva. O Sport Lisboa e Benfica e a sua justa vitória desportiva não mereciam ser instrumentalizados como foram por uma espécie de jornalistas do futebolez e pela sua manifesta mediocridade e subserviência.

sexta-feira, 22 de maio de 2015

É lamentável que façam tanta propaganda

Daqui a cerca de quatro meses irão realizar-se eleições legislativas e a longa caminhada eleitoral já começou. Isso é visível nos debates parlamentares e nos debates televisivos, com cada um dos partidos a querer afirmar as suas posições e a pretender desvalorizar as intenções dos seus adversários. Goste-se ou não deste jogo, o facto é que tem sido assim. Porém, este modelo de luta eleitoral apresenta duas “inovações” curiosas.
A primeira é o facto do Partido Socialista (PS) ter encomendado a um grupo de reputados economistas a elaboração de um cenário macroeconómico para analisar e discutir o futuro e para servir de base a um programa eleitoral a apresentar ao eleitorado que, entretanto, foi aprovado nas suas linhas gerais.
A segunda “inovação” refere-se à atitude do governo e dos ministros, que existindo para nos governar e para garantir a paz social, o progresso económico e o bem-estar dos portugueses, parece terem deixado de nos governar e passado a fazer uma descarada e condenável propaganda, que deveria ficar reservada para os seus deputados, militantes e simpatizantes. Porque  não vale tudo. Não pode valer tudo! E o que lemos ou ouvimos?
Passos Coelho em entrevista aos seus amigos do jornal "Observador", diz que a Taxa Social Única (TSU) proposta pelo PS põe em causa o pagamento das pensões e afirma que o programa socialista é incompatível com a União Europeia. Em visita oficial à Trofa, ouvimos Paulo Portas dizer que o programa do PS contém propostas “perigosas” em matéria de Segurança Social e salientar que esse documento tem “sofrido algum zigzague”. Navegando nas mesmas águas, o privatizador Pires de Lima veio dizer que as propostas do PS em matéria de TSU eram contraditórias com toda a oposição que o PS tem feito e são muito “perigosas” do ponto de vista financeiro para a sustentabilidade da Segurança Social". Na Figueira da Foz falou Poiares Maduro para dizer que o programa eleitoral do PS aposta num crescimento que nunca será sustentável, porque é baseado no consumo interno. Também Nuno Crato afirmou em Lisboa que não acredita que o PS seja “o próximo governo” e considerou um "erro gravíssimo" suspender a prova de avaliação de professores, como consta da proposta de programa eleitoral socialista. Aguiar-Branco, em plena Base Naval de Lisboa e no seu já habitual registo de insensatez, acusou o PS de querer um modelo de governação “muito à engenheiro Sócrates” e disse que “é mais uma sondagem de ideias”, tal como já foi feito com o cenário macroeconómico. Apesar da sua pequenez académica, Maria Albuquerque criticou o cenário macroeconómico do PS e disse que “com a mesma receita e os mesmos protagonistas” de 2009, não é possível esperar um resultado diferente. Enquanto admite a possibilidade de avançar para a liderança do seu partido, Assunção Cristas também critica o PS e acusa-o por nunca ter feito o balanço da era Sócrates, mostrando-se perplexa por aquele partido se apresentar aos portugueses.
São assim. Falam, falam, falam. Em vez de governar, actuam na esfera político-partidária. Todos a falar, esquecendo a dignidade mínima das suas obrigações ministeriais, usando a função de Estado e o tempo de antena para atacarem o adversário. Devem estar assustados.

segunda-feira, 18 de maio de 2015

Políticos pobres… com esposas ricas

A transparência política é cada vez mais uma exigência das sociedades democráticas e obriga os governos, os governantes e os políticos em geral a prestar contas pelos actos que praticam, especialmente o cumprimento da lei, o uso de dinheiros públicos e a prevenção de fenómenos de corrupção sob as suas diversas formas. Os cidadãos exigem conhecer com detalhe os fundamentos das decisões governamentais, das administrações públicas e das autarquias e querem conhecer as motivações para a escolha de uma determinada decisão face a outras alternativas, bem como a “origem” dos fundos e a forma da sua “aplicação”. No entanto, nos tempos de sensacionalismo informativo que a sociedade atravessa, é preciso que haja um equilíbrio entre o que deve ser informado e o que não deve ser informado publicamente mas, no caso dos agentes políticos, também entre o dever de informar o público sobre as actividades dos políticos, que não pode ultrapassar o seu direito à privacidade e bom nome.
Estas considerações são válidas para Portugal, mas também para outros países, como por exemplo para o México, países onde os detentores de cargos públicos fazem declarações de interesses e de rendimentos. O diário Excelsior revela hoje que, de acordo com as declarações patrimoniais de 230 políticos mexicanos oficialmente divulgadas na internet, a maioria dos políticos mexicanos são pobres mas que, em contrapartida, as suas cônjuges são donas de avultadas fortunas familiares, com muitas propriedades rústicas e urbanas, aviões e casas nos Estados Unidos, mas que embora não tenham trabalho nem rendimento, se dedicam frequentemente a actividades altruistas. Temos que reconhecer que os políticos mexicanos têm sorte com os casamentos... 
Era curioso saber se, nestes assuntos, somos ou não somos parecidos com o México, se somos ou não somos transparentes ou, então, saber porque andam tão distraídos os jornalistas e os operadores da justiça.

domingo, 17 de maio de 2015

A insegurança nos submarinos nucleares

Embora de maneira diversa em função da sua orientação editorial, a imprensa britânica de hoje destaca um relatório de 18 páginas intitulado “The Secret Nuclear Threat”, que foi “postado” na internet por William McNeilly.
McNeilly é um Engineering Technician Submariner for the UK’s Trident II D5 Strategic Weapons System, que foi tripulante do HMS Victorious, um dos quatro submarinos nucleares britânicos da classe Vanguard.
Segundo se lê nesse relatório há um extenso rol de graves infracções às regras de segurança a bordo dos submarinos nucleares britânicos e nele se afirma que eles são insecure, unsafe e que a disaster waiting to happen, que foi o título escolhido pela edição do The Herald de Edimburgh para o divulgar. As muitas falhas de segurança denunciadas por McNeilly vão desde os sistemas de mísseis balísticos até à possibilidade de infiltração de terroristas ou psicopatas entre a sua centena e meia de tripulantes. As ameaças são sérias, avisa o relatório.
Os submarinos nucleares têm a sua base em Faslane, no Clyde, pelo que o Partido Nacional Escocês já veio apoiar o relatório McNeilly e exigir a verificação das condições de segurança nuclear dos submarinos. Por sua vez, um porta-voz da Royal Navy afirmou que a Marinha rejeita em absoluto as acusações de William McNeilly, alegando que o relatório apenas contém opiniões pessoais e muito subjectivas de alguém que é muito jovem e pouco experiente, mas anunciou que vai investigar. Além disso, assegurou que os submarinos só saem para o mar quando estão garantidas todas as normas de segurança. De qualquer forma, a pergunta formulada por McNeilly - Do you have any idea how close you are to a nuclear disaster every single minute? - alertou a imprensa britânica e obriga-nos a ter cada vez mais atenção às questões da segurança. Porém, fica a pergunta: como é possível que gente com tanta responsabilidade como McNeilly possa divulgar na internet estas matérias? Ou será McNeilly um dos psicopatas de que ele próprio falara?

sexta-feira, 15 de maio de 2015

Património da Humanidade sob ameaça

Alguns jornais europeus, como aconteceu por exemplo com o The Times, dedicaram hoje algum espaço à ofensiva jihadista em curso no território sírio, cujas forças estarão apenas a um quilómetro do centro do sítio arqueológico de Palmyra, cujas ruínas foram inscritas em 1980 na lista de Património da Humanidade da UNESCO, em reconhecimento da sua história e do seu património, em que se destaca o seu grandioso e belo teatro romano, as suas colunas romanas, os seus templos e as suas torres funerárias.
Palmyra foi há dois mil anos uma importante cidade-oásis no deserto sírio e uma paragem obrigatória na chamada rota da seda, onde se misturaram influências gregas, romanas, persas e islâmicas. Hoje, a cidade tem um grande valor estratégico pois nos seus arredores há aquartelamentos militares, depósitos de armas e um aeroporto militar, mas é também um elemento essencial para dominar os campos de exploração de gás natural e de petróleo que se situam naquela região. A hipótese dos combatentes do Estado Islâmico atingirem o centro histórico de Palmyra está a assustar a UNESCO  e o mundo civilizado. Depois do que sucedeu nas cidades iraquianas de Hatra, Nimrud e Mossul, mas também em algumas localidades sírias, como por exemplo em Damasco e Aleppo, com os bulldozers e os irracionais golpes de marreta a destruir o milenar património artístico da antiga Mesopotâmia, há enormes preocupações sobre o que possa acontecer em Palmyra. Por outro lado, os jihadistas do Estado Islâmico também têm conduzido pilhagens nos sítios arqueológicos para venderem clandestinamente os objectos mais pequenos e assim financiarem as suas actividades e a guerra contra o regime de Bashar al-Assad. Estão referenciados combates muito intensos entre as forças governamentais sírias e as forças jihadistas e os próximos dias ou horas são decisivos para salvar ou perder Palmyra e o seu milenar património.

O desporto náutico em festa na Bretanha

Esta semana está a decorrer no golfo de Morbihan, nas costas francesas da Bretanha, a Semaine du Golfe, um evento que é hoje destacado pelo diário Le Télégramme de Lorient. 
O golfo de Morbihan fica localizado nas proximidades da cidade de Vannes e a cerca de 68 km da cidade de Lorient. É um pequeno mar interior com um comprimento de 20 km por 15 km de largura, muito recortado e com muitas ilhas e ilhotas, dizendo-se na Bretanha que “o golfo tem tantas ilhas como dias tem o ano”. No seu interior ocorrem marés de grande amplitude e fortes correntes, o que exige muito cuidado na navegação, mas a beleza das suas margens e o seu interesse histórico e ambiental tornaram-no uma atracção turística, sobretudo para os desportistas náuticos das cerca de duas dezenas de localidades localizadas na orla do golfo.
Esta semana decorre a oitava Semaine du Golfe que é uma grande festa e que vai reunir mais de mil embarcações dos mais diversos tipos com mais de 4 mil tripulantes, que todos os dias vão navegar de povoação para povoação, de cais para fundeadouro, de espectáculo para concerto, de festa para festa. Cada uma dessas povoações terá o seu programa de animação cultural específico, onde se destacam as ofertas gastronómica e musical marcadamente celtas, até porque se trata de uma importante região da Bretanha.
As características do golfo de Morbihan são excelentes, mas o facto é que também há quem as aproveite para potenciar a dinamização económica e cultural da região.

quinta-feira, 14 de maio de 2015

O PIB cresce, mas a economia diverge

O Eurostat divulgou ontem o seu news release 84/2015, com a estimativa rápida dos resultados do desempenho económico comunitário no 1º trimestre de 2015, verificando-se que, tanto para a Zona Euro (ZE19), como para a totalidade da União Europeia (UE28), houve um crescimento do produto de 0,4% relativamente ao 4º trimestre de 2014. Em termos homólogos ou anuais, isto é, em comparação com o 1º trimestre de 2014, a economia da ZE19 cresceu 1,0%, enquanto a economia da UE28 cresceu 1,4%. Os comentadores e os analistas atribuiram esta boa evolução ao plano Draghi, à desvalorização do euro e à baixa do preço do petróleo, ao mesmo tempo que contemplam com alguma inveja o crescimento de 3,0% que se verificou nos Estados Unidos. A economia da Europa, tal como muitas outras coisas, não vai bem.
Relativamente a Portugal, os resultados divulgados pelo INE e pelo Eurostat coincidem, isto é, verificou-se um crescimento do produto português de 0,4% no 1º trimestre de 2015 e um crescimento homólogo ou anual de 1,4%. Este resultado é satisfatório e está na chamada média europeia, significando que a nossa economia esteve em linha com as outras economias europeias, mas mostra que continuamos sem convergir com as mais desenvolvidas, que ficamos mais para trás e que este crescimento não é gerador de emprego. O PIB cresce, mas, sem investimento nem emprego a nossa economia não consegue convergir com "o pelotão da frente" e não tira partido do dinamismo espanhol. 
Dos resultados relativos a 19 países que foram divulgados no news release do Eurostat verifica-se que mais de metade tiveram um crescimento do produto superior ao que se verificou em Portugal (1,4%), assim sucedendo por exemplo com a Roménia (4,2%), a Hungria (3,1%), a Eslováquia (2,9%), a Espanha (2,6%), o Reino Unido (2,4%) e a Holanda (2,4%).
Os resultados relativos à economia portuguesa são animadores, até porque actualmente há economias em recessão (Finlândia e Grécia), mas não justificam o delírio e o triunfalismo serôdio e injustificado de algumas vozes que aproveitam estes números para pintar com cores claras aquilo que é uma situação complicada de estagnação e de paralisia económica que todos observamos, com muitas empresas encerradas, muitas lojas falidas, tantos jovens desempregados e tantos idosos sem protecção.

quarta-feira, 13 de maio de 2015

A arte é eterna e Picasso é o maior

Hoje, a edição do jornal Público apresenta com grande destaque na sua primeira página a notícia de um leilão realizado em Nova Iorque pela leiloeira Christie’s, no qual um quadro de Picasso foi vendido por 159,3 milhões de euros. Com este dinheiro compravam-se dois Airbus A320! Nunca uma pintura valera tanto num leilão e, por isso, este valor record justifica a afirmação de que a arte é eterna porque, de facto, o seu valor ultrapassa todas as conjunturas de crise.
Houve cinco interessados que “lutaram” pelo telefone durante 11 minutos pela posse de Les Femmes d’Alger (version O), uma obra de 1955 com 1,14x1,46 metros, que representa um harém e, como acontece sempre nestes leilões, o vencedor ficou-se pelo anonimato. No mesmo leilão foi vendida por 112 milhões de euros L’homme au doigt de Alberto Giacometti, que se tornou na mais valiosa escultura alguma vez leiloada e a terceira obra de arte mais cara de sempre no mercado leiloeiro.
Nesse ranking, a Christie’s bateu o seu próprio record, atingido em Novembro de 2013 quando vendeu o tríptico Três Estudos de Lucien Freud de Francis Bacon por 126 milhões de euros. Na quarta posição desse ranking está a quarta versão de O Grito de Edvard Munch, vendido em 2012 pela Sotheby’s por 89 milhões de euros e, depois, o Nu au plateau de sculteur de Picasso, vendido em Maio de 2010 por 81,3 milhões de euros.
Porém, o que aqui se destaca não é só o estado do mercado mundial da arte, mas o facto de um jornal português não alinhar no sensacionalismo, nem no jornalismo de frete ou no jornalismo de aldeia de muitos dos nossos periódicos de informação geral, optando por um jornalismo de inegável interesse informativo e cultural.

terça-feira, 12 de maio de 2015

A400M – um grande projecto ameaçado

O acidente acontecido no passado sábado em Sevilha com o A400M, o avião militar produzido pelo consórcio Airbus Defence and Space, para além de ter vitimado quatro dos seus seis ocupantes espanhóis, foi um duro golpe naquele projecto aeronáutico, não só pelos seus aspectos emocionais, mas também pelos seus aspectos económicos, na medida em que pode afectar um programa que sustenta milhares de postos de trabalho na Andaluzia, uma região altamente afectada pelo desemprego.
O avião sinistrado fazia o seu primeiro voo e a sua entrega à Turquia seria feita em Junho. Segundo se refere nalguma imprensa, este acidente gerou uma crise de confiança nos investidores e nos clientes. A cotação bolsista das acções do consórcio caiu imediatamente, enquanto as autoridades do Reino Unido, Alemanha, Turquia e Malásia decidiram cessar temporariamente a operação dos 12 aviões que já tinham recebido, até que a tragédia de Sevilha seja esclarecida. No entanto, a Airbus vai retomar os seus voos de ensaio e a França já decidiu que vai continuar a voar com as suas 6 unidades, mas somente em voos operacionais prioritários.
O Airbus A400M é um avião equipado com 4 motores turbohélice destinado ao transporte aéreo de longa distância, mas o seu sucesso comercial nunca esteve garantido e, agora, está mesmo seriamente ameaçado. O projecto nasceu em 2003 depois de um acordo em que sete países europeus concordaram na compra de 180 unidades e a sua produção industrial começou em 2011. O primeiro avião foi entregue à França em Sevilha no dia 30 de Setembro de 2013 e, actualmente, já estão entregues cerca de duas dezenas de aviões, havendo 174 aviões encomendados pela Alemanha (53), França (50), Espanha (27), Reino Unido (22), Turquia (10), Bélgica (7), Luxemburgo (1) e Malásia (4).
O preço de cada avião é de cerca de 135 milhões de euros...

domingo, 10 de maio de 2015

O orgulho russo está a renascer

A edição de hoje do South China Morning Post que se publica em Hong Kong, assinala as celebrações do 70º aniversário da derrota da Alemanha nazi e destaca a presença do Presidente Xi Jinping na Praça Vermelha de Moscovo, a chefiar uma delegação do PLA (People’s Liberation Army), ao lado de Vladimir Putin, durante a gigantesca parada militar que se realizou.
O mundo viu as imagens na televisão e não pode ter deixado de ficar impressionado com esta exibição de poder, que ressuscita o orgulho russo depois da humilhação que foi a implosão da União Soviética. Esta iniciativa ultrapassa os limites da própria Rússia e, simbolicamente, parece fazer renascer um mundo bipolar, ao aproximar a China e a Rússia, mas também outros países como a Índia, o Vietname, a Mongólia, a Sérvia, Cuba e a Venezuela, entre outros, mas significa também o apoio chinês à Rússia, quando esta está a sofrer um boicote ocidental devido ao seu envolvimento na Ucrânia. Os representantes ocidentais faltaram à “festa russa”, mas Putin mostrou que tem muitos e bons amigos. Foi uma parada militar “à moda antiga” e como há muitos anos não se via, com 16 mil soldados, incluindo uma representação do Exército Popular Chinês, com um desfile de sofisticado equipamento militar, onde se incluiam tanques e mísseis balísticos intercontinentais, enquanto a mais moderna aviação russa sobrevoava o desfile. O Presidente Vladimir Putin discursou e apelou para que não seja esquecido “o património comum de valores” dos vencedores da guerra, mas também disse que “a História pede-nos que sejamos de novo vigilantes”. Assim se vê, como uma atrevida intervenção ocidental nos tumultos de Kiev degenerou, se agravou e provocou a Rússia que já está a acordar o seu orgulho e a suscitar muito mais preocupações no ocidente.

sábado, 9 de maio de 2015

O porta-voz Monteiro

Durante muitos anos habituei-me a ver na televisão um tal António Monteiro como porta-voz da TAP. Era ele que "dava a cara" e que falava das greves, dos atrasos e dos problemas que por vezes apareciam na companhia e que afectavam o público. Nos últimos tempos, com a teimosia governamental em privatizar a TAP e com a prolongada greve dos pilotos, o porta-voz Monteiro que é um funcionário da TAP, parece ter sido substituido pelo porta-voz Monteiro que é, nada mais nada menos que o licenciado Sérgio Monteiro, o Secretário de Estado das Obras Públicas, Transportes e Comunicações.
Este porta-voz Monteiro, que também é Secretário de Estado, é um homem de quem se conhece pouco, embora se saiba que é militante partidário e que, por isso, rapidamente se encaixou e chegou ao conselho de administração do CaixaBI, isto é, o Banco de Investimento do Grupo Caixa Geral de Depósitos. Segundo se lê, foi no exercício dessas funções que, no tempo do governo socialista, “desenhou, geriu ou cofinanciou todas as PPP ruinosas contratualizadas em Portugal nos últimos anos”. Um dia, o famoso Miguel Relvas veio dizer que "as PPP do sector rodoviário são uma verdadeira ruína para o país” e são exactamente essas PPP, que valem 5,5 mil milhões de euros, que hoje são tuteladas pelo mesmo Sérgio Monteiro. O homem serve para tudo e para o seu contrário! Nas suas actuais funções, coube-lhe renegociar essas PPP que antes tinha negociado e, além disso, gerir as privatizações da ANA, CTT, CP Carga e TAP. Será possível fazer tudo isto sem afectar o interesse nacional? Há quem lhe chame o Senhor Privatizações pela forma empenhada e obcecada como se comporta, sobretudo quando se deslumbra com os microfones à sua frente. No caso da TAP, tem sido ele a substituir a administração da companhia e a informar sobre o”insucesso da greve”, sobre o número de voos realizados, sobre os prejuízos acumulados, sobre tudo. Afinal, ele é que é o porta-voz da TAP, calando o outro Monteiro, o presidente Pinto e até o ministro Lima.

O Reino Unido é o exemplo da Democracia

Ontem celebrou-se o 70º aniversário da captura de Berlim pelas tropas soviéticas e polacas e a rendição incondicional da Alemanha, quando os exércitos aliados também já tinham penetrado no território alemão. A efeméride foi comemorada em diversas capitais e, em Londres, teve a presença dos seus líderes políticos, respectivamente David Cameron (Primeiro-ministro e líder dos Conservadores), Nick Clegg (líder dos Liberais Democratas que ainda está coligado com os Conservadores) e Ed Miliband (líder dos Trabalhistas).
Na véspera tinham-se realizado as eleições legislativas no Reino Unido e os resultados surpreenderam a opinião pública, os analistas e até as próprias sondagens. Os Conservadores obtiveram 36,9% dos votos mas elegeram 331 deputados, o que lhes dá a maioria absoluta e torna dispensável a aliança que têm mantido com os Liberais Democratas que apenas elegeram 8 deputados, enquanto os Trabalhistas obtiveram 30,4% dos votos, o que só lhes garantiu 232 deputados.
Entre as diversas consequências destas eleições está o facto do Partido Nacional Escocês ter eleito 56 deputados nas 59 circunscrições eleitorais escocesas, o que de certa forma reabre a questão da independência da Escócia, mas também o facto de David Cameron ter prometido para 2017 um referendo sobre a permanência do Reino Unido na União Europeia, isto, os britânicos ficaram com duas enormes “bombas” que ameaçam explodir.
Uma outra consequência destas eleições foi a demissão dos grandes derrotados do dia 7, respectivamente Ed Miliband e de Nick Clegg. Porém, no dia seguinte, numa postura democrática que no nosso país seria improvável, eles estiveram lado a lado com David Cameron, nas cerimónias da celebração do fim da guerra na Europa. A fotografia que ilustra a edição de hoje do The Times regista esse acontecimento e simboliza o elevado valor da Democracia no Reino Unido.
Era bem bom que aqui também se vivesse uma Democracia como estas.

terça-feira, 5 de maio de 2015

O inacreditável discurso da queijaria

Desde há alguns dias que estou quase em estado de choque, depois daquela intervenção do nosso primeiro na inauguração de uma queijaria em Aguiar da Beira, ao branquear " de forma muito amiga e muito especial" um indivíduo que está ligado às mais negras páginas do nosso passado recente, com perigosíssimas ligações a interesses libaneses, marroquinos e portoriquenhos, para além de ser um dos mais destacados rostos do BPN. Trata-se de alguém que, segundo revelam os jornais, acumulou em poucos anos um património de muitos milhões, mas que o nosso primeiro apresentou como “um empresário bem sucedido e que viu muitas coisas por este mundo fora”.  Em vez de fazer o elogio do mérito, do esforço e da seriedade, o nosso primeiro fez o contrário e fez a apologia de quem andou pela política, a partir da qual criou uma rede de influências poderosas e que “venceu na vida” à custa de favores, esquemas, heranças e negociatas pouco transparentes, muitas delas associadas a buracos de muitos milhões que os contribuintes portugueses estão a pagar, como sucede com a gestão ruinosa e criminalmente suspeita do BPN. É caso para perguntar ao Passos, se se passou.
O que se passou naquela queijaria em Aguiar da Beira quando o nosso primeiro fez o elogio de um tipo de carreira sem princípios de ética nem de responsabilidade social, foi um insulto para os portugueses de bem, que se esforçam e trabalham e que não recorrem à política para se servirem. O discurso da queijaria classifica um homem e vai ficar no mais triste historial da política portuguesa.
Realmente, é verdade: estou quase em estado de choque, porque ainda não quero acreditar que o nosso primeiro quis dizer o que disse.

segunda-feira, 4 de maio de 2015

As sumptuárias viagens presidenciais

A ver navios...
O nosso Presidente da República, que um dia se classificou a si próprio como o homem do leme, partiu para mais uma visita de Estado a juntar às visitas oficiais, às visitas às comunidades, às deslocações para as cimeiras e encontros em que participou e a outras visitas e viagens. Nunca um cidadão de Boliqueime viajou tanto e esse cosmopolitismo deve ser devidamente assinalado, até porque nunca houve um Aníbal tão famoso nos algarves.
Aparentemente, a website da Presidência da República tem muita informação sobre as viagens presidenciais e até parece um exemplo de transparência, mas não é assim. Na realidade, os cidadãos que são eleitores e contribuintes deveriam ter acesso a algo mais do que as reportagens de circunstância que os jornais e as televisões divulgam sem nada questionar sobre o interesse ou o resultado da visita, servindo apenas para promover o homem do leme. Era preciso saber-se, para cada viagem presidencial, qual a constituição detalhada das comitivas, assim como o seu custo total e por rubricas. Num outro plano, igualmente importante, era necessário saber os resultados concretos das viagens presidenciais, isto é, saber, por exemplo, que resultados concretos, económicos ou outros, tiveram as viagens presidenciais de 2007 à Índia e ao Chile. Isto é que é transparência. Isto é que é rigor económico.
Desta vez o destino é a Noruega e, segundo foi divulgado, a comitiva presidencial integra quatro ministros e “dezenas de empresários e investigadores”. É o costume! Não se discute aqui porque viaja tanto o Presidente da República, porque haverá assuntos de Estado que ultrapassam a ignorância dos cidadãos. No entanto, em tempo de austeridade é caso para perguntarmos porque vai uma tão grande comitiva com empresários da energia, cortiça, calçado, vinho, azeite, produtos alimentares, cerâmica, construção e não sei que mais. E o que faz naquela comitiva um advogado que é ministro da Defesa? Não é a embaixada de D. Manuel ao Papa, mas este exibicionismo de pobre armado em rico não se compreende. Alguém julga que estes empresários precisam destas viagens? Mal seria se estivessem à espera delas para tratar dos seus negócios.

domingo, 3 de maio de 2015

A indústria aeronáutica francesa no topo

Depois do Egipto e da Índia foi o Qatar que se deixou seduzir pelo Rafale e que decidiu encomendar 24 aviões ao fabricante Dassault Aviation, num contrato de 6,3 mil milhões de euros que inclui a formação de pilotos e de mecânicos, segundo informou ontem o diário Le Figaro.
Em tempo de crise da indústria e da economia francesas, o Presidente François Hollande não perdeu tempo a divulgar a notícia e, amanhã, vai pessoalmente ao Qatar assinar o respectivo contrato. Sob diversos pontos de vista é compreensível esta euforia francesa porque o Rafale está a ser não só um sucesso comercial, mas também um estímulo para a renovação da auto-estima e do orgulho nacionais. Depois de "uma década negra" sem que o aparelho conseguisse penetrar no mercado da exportação, no passado mês de Fevereiro a Dassault Aviation assinara um contrato com o Egipto para a venda de 24 aviões e em Abril recebeu da Índia uma encomenda para o fornecimento de 36 aviões.
Entretanto, como a indústria aeronáutica francesa está no topo, decorrem negociações para garantir novos contratos de fornecimento do Rafale à Malásia, Emirados Árabes Unidos, Indonésia e Kuwait.
Estas encomendas até podem sugerir que há um cenário de guerra no horizonte, embora tenha a ver com a instabilidade que existe no Médio Oriente.  Porém, estas encomendas têm principalmente em vista, a afirmação do prestígio e da credibilidade internacional destes países através das suas Forças Armadas e do seu poder militar, porque sem estes dois factores de soberania, não há respeito, nem alianças, nem amigos no domínio das relações internacionais.

sábado, 2 de maio de 2015

Uma gigantesca máquina de propaganda

Hoje é o grande dia em que o americano Floyd Mayweather e o filipino Manny Pacquiao vão medir forças no MGM Grand Garden Arena em Las Vegas, naquele que não é chamado o combate da década, mas que já é considerado o combate do século. É, obviamente, um exagero à americana.
O USA Today diz hoje que o combate desta noite vai eclipsar tudo e, embora se trate de um exagero da máquina de propaganda montada, o facto é que a imprensa americana e inglesa destacam este acontecimento que, mais do que um evento desportivo, é um grande negócio que assegura receitas de muitos milhões de dólares em patrocínios, publicidade e direitos televisivos. Nunca a história do boxe gerou tanta expectativa e nunca tantos milhões de dólares estiveram em jogo, como acontece esta noite em Las Vegas mas, de certa forma, a América e os americanos vivem disto.
Cada um dos pugilistas pesa apenas 67 quilos e as suas estaturas são normais – 1,69 metros de altura para o filipino e 1, 73 metros para o americano – mas ambos já entraram na lenda do boxe ao lado dos mais famosos como Mohamed Ali, George Foreman ou Mike Tyson.
Muitos comentadores consideram que não vai ser um combate entre dois desportistas que procuram a vitória e em que, à boa maneira do boxe, cada um procura “acabar com o adversário”, mas que será uma luta entre dois indivíduos mais preocupados com o dinheiro que poderão ganhar com este combate. Muita gente fala em resultado arranjado porque este combate só tem sentido se criar motivação para novos combates, para novas desforras e para gerar novos negócios neste mundo em que o desporto, a publicidade e o dinheiro se misturam.  Há 150 países vão acompanhar este espectáculo pela televisão, mas o facto é que Floyd Mayweather nunca perdeu.

Educação é a chave do progresso

A economia rege-se por muitas leis naturais e desenvolve-se em ciclos económicos. Um período expansionista ou boom económico não se prolonga indefinidamente e segue-se-lhe sempre um período de recessão mais ou menos longo, que pode chegar à depressão, só depois surgindo a recuperação ou a retoma. Quando chegam os primeiros sinais da recessão, os governos adoptam políticas de austeridade para corrigir as flutuações e os excessos da actividade económica, que são dirigidas frequentemente para os sectores sociais, como a Saúde e a Educação. É assim em todo o lado, embora no caso português se esteja a ir longe de mais, esquecendo-se que “há mais vida para além do défice”.
Ontem o Correio Brasiliense apareceu nas bancas com o título “Triste Pátria que despreza a Educação”, relatando que manifestantes pediram a demissão do director da Escola de Música de Brasília que tem 2400 alunos porque, segundo eles, não representa os interesses de alunos e professores. Também em São Paulo e, sobretudo em Curitiba, houve manifestações contra a degradação da actividade educativa consequente das políticas de austeridade, com mais de duas centenas de feridos devido à acção da polícia.
A Educação é a base do desenvolvimento e do futuro e tem que ser incentivada, com professores que gostem de ensinar e estudantes que gostem de aprender. A Educação transforma a vida das pessoas e da sociedade, proporciona pensamento e análise da realidade, gera inovação e estimula a mudança. A Educação é o factor que contribui para fechar o ciclo do sub-desenvolvimento e da pobreza e para libertar os povos. No Brasil. Em Portugal. Em todo o lado.