segunda-feira, 31 de agosto de 2015

O pequeno caceteiro que veio de Bruxelas

O licenciado Paulo Rangel nasceu em 1968 e, segundo reza a sua biografia, entrou na política aos 33 anos de idade quando em 2001 lhe confiaram a redacção do programa de candidatura de Rui Rio à Câmara Municipal do Porto. Gostou da experiência, encostou-se aos amigos e, em vez de escolher uma carreira académica, optou por ocupar alguns bons tachos, misturando funções públicas com funções privadas. Em 2010 já se sentia alguém e decidiu disputar a liderança do PSD, mas como perdeu o confronto com Passos Coelho foi compensado com um tacho de eurodeputado muito bem remunerado em Bruxelas. Foi nessa condição que foi convidado para essa magna reunião de escoteiros sociais-democratas a que, pomposamente, chamam a universidade de verão do PSD.
Pois foi esta figurinha menor, este pateta e este verdadeiro caceteiro que nos veio dizer que foi o actual governo que tratou de confrontar um ex-primeiro-ministro e um banqueiro com a Justiça, ao afirmar com os dedos no ar que estes dois casos só estão a acontecer porque o PSD e o CDS estão no governo. Nestas condições e, ainda segundo o caceteiro-pateta Rangel, a acção da Justiça tem sido encaminhada e interpretada à luz dos desejos do PSD e do CDS, porque ninguém “acredita que se os socialistas estivessem no poder haveria um primeiro-ministro sob investigação”, isto é, a Justiça só investiga políticos quando os seus partidos não estão no governo e, portanto, a Justiça não passa de uma qualquer coisa comandada pelo governo. É triste vermos um jurista e eurodeputado, alucinado e fanático, a dizer isto. É um ignorante. É uma vergonha da nossa Democracia.
Assim, ainda segundo o referido caceteiro-pateta, temos Sócrates a ser investigado porque é do PS; temos Passos a não ser investigado no caso Tecnoforma e nas dívidas à Segurança Social porque é do PSD que está no governo; temos Portas a não ser investigado no “caso dos submarinos” porque o CDS também está no governo; temos Vara condenado no processo “Face Oculta” porque é do PS; temos Miguel Macedo a não ser constituído arguido no caso “vistos gold” porque é do PSD; temos Marco António Costa que ainda não foi constituído arguido no “caso Câmara de Gaia” porque o PSD está no governo ; e temos Dias Loureiro e toda a malta do BPN a circularem livremente por aí sem investigação, porque são do PSD. Das declarações do eurodeputado Rangel não se pode concluir outra coisa e, portanto, como diria o treinador Manuel Machado, “um imbecil é sempre um imbecil”.

Gibraltar e tanta economia paralela

Gibraltar é uma península situada a sul da península Ibérica e um rochedo a que os espanhóis chamam el Peñón, é um território britânico ultramarino e, também, um paraíso fiscal. Foi ocupado em 1704 por uma força anglo-holandesa durante a Guerra da Sucessão Espanhola e, no Tratado de Utrecht assinado em 1713, o território foi cedido à Inglaterra com a "a total propriedade da cidade e castelo de Gibraltar, junto com o porto, fortificações e fortes [...] para sempre, sem qualquer exceção ou impedimento”.
Está com este estatuto desde há 300 anos. Porém, as cedências ou as ocupações territoriais resultantes das guerras ou dos respectivos tratados de paz, mais tarde ou mais cedo geram processos de contestação, sobretudo quando não se verifica uma autêntica integração ou quando as correlações de forças se alteram. A Espanha tem reivindicado continuamente a devolução de Gibraltar e essa contestação até tem dado origem a alguma tensão diplomática. O Reino Unido já promoveu referendos em 1967 e em 2002, para que os cerca de 30 mil gibraltinos decidam do seu futuro, mas estes têm declarado quase unanimemente que querem ser colónia britânica. Parece um paradoxo, mas não é.
Gibraltar perdeu o valor estratégico de outros tempos, mas é um gigantesco shopping center, um verdadeiro mundo da economia paralela e a verdadeira capital do jogo on line, que é um dos seus grandes negócios.  Hoje o jornal ABC tenta mostrar o que Gibraltar esconde e afirma que “como todos los paraísos fiscales, Gibraltar está lleno de secretos”. Assim é de facto. Não se sabe quantos estrangeiros lá trabalham, mas estima-se que esse número se situe entre 3500 e 10 mil, sobretudo espanhóis residentes em Espanha. Porém, só 120 espanhóis têm emprego legal declarado pois os outros milhares que entram e saem todos os dias preferem ser “clandestinos e precários”, podendo ter outro emprego em Espanha ou receber qualquer tipo de subsídio, eventualmente de desemprego. As autoridades fiscais espanholas estão em vias de “cercar” esses milhares de espanhóis empregados nas companhias de jogo, nas empresas financeiras e de entretenimento, mas também os inúmeros profissionais liberais, sobretudo da área da saúde, que defraudam o fisco espanhol. Enquanto isto, como refere o ABC, os “colonialistas” gibraltinos exploram os seus “colonos” espanhóis.

O Brasil, a recessão e os dias cinzentos

O Brasil que é o país da alegria e do sol tropical, vive dias cinzentos, depois de ter sido anunciado que no 2º trimestre de 2015 o seu PIB caiu 1,9% e, como no 1º trimestre tinha caido 0,7%, em termos económicos o país entrou em recessão pois registou dois trimestres consecutivos em queda. Todos os jornais brasileiros destacaram esta notícia que é preocupante para a sociedade brasileira que, actualmente, passa por grandes dificuldades económicas e por alguma convulsão política, com muitas manifestações e muitos dos seus dirigentes a contas com a Justiça. O Correio Braziliense exagera e até diz que o Brasil está em queda livre! Porém, para quem está longe e não conhece as especificidades brasileiras, esta recessão (económica) também parece corresponder a uma depressão (psicológica), pois o país não é apenas afectado pela queda do PIB, pelo desemprego e pela inflação, mas também pela insatisfação política e pela corrupção.
Em relação ao PIB há que pensar no chamado ciclo económico, isto é, nas flutuações da actividade económica, em que aos períodos de crescimento se sucedem os períodos de estagnação ou mesmo de declínio. Esses ciclos são tão normais que foram teorizados e até receberam nomes - o ciclo de Kondratiev, o ciclo de Kitchin, o ciclo de Kuznets – consoante as suas características e a sua duração. Portanto, o Brasil está numa baixa a que se irá suceder, embora não se saiba quando, uma alta. É a lei da vida. Porém, o Brasil também vive um período político que não foi satisfatoriamente resolvido nas eleições presidenciais de 2014, porque a vitória de Dilma Rousseff sobre Aécio Neves foi escassa (51,29%), o que faz com que os brasileiros já levem mais de uma dúzia de anos de governo do Partido dos Trabalhadores (PT) e isso, provavelmente, cansa-os. Isto tudo acontece quando a China treme, quando a Europa se revela incapaz de resolver os seus problemas e quando o preço do petróleo cai e o comércio internacional desacelera. Finalmente, há a questão da corrupção e temos a Transparency International a classificar o Brasil como o 69º país mais corrupto do mundo, entre os 175 países avaliados. Mas, segundo a mesma agência a corrupção é muito maior, por exemplo, na Argentina, na Rússia, na Índia e na China e em mais de uma centena de outros países. Por tudo isso, se deseja que os brasileiros resistam aos títulos dos seus jornais que, por razões que só eles conhecem, estão a tender para o dramático. Vá-se lá saber porquê. Força Brasil!

sábado, 29 de agosto de 2015

A brutal destruição da memória do mundo

Embora alguns canais de televisão tivessem mostrado breves imagens da destruição do campo arqueológico de Palmyra ou de parte dele, poucos jornais destacaram esse episódio que a UNESCO já classificou como “crime de guerra” e como uma imensa perda para o povo sírio e para a Humanidade. Além disso, um dos mais importantes arqueólogos sírios responsável pelo campo de Palmyra foi assassinado porque não terá revelado os locais onde terá escondido algumas das mais valiosas relíquias históricas da cidade. Esta acção dos jihadistas do Estado Islâmico é mais um dos seus criminosos ataques a locais históricos e arqueológicos, com o fim de privar os povos das suas memórias históricas e da sua identidade, o que tem sido feito por este e por outros grupos radicais no Afeganistão, no Iraque e, agora, na Síria.
Trata-se de mais um exemplo da catástrofe e da desagregação que se verifica em diversas regiões bem próximas da Europa, não só mas também como resultado da ignorância ocidental e das suas intervenções punitivas, das suas alianças e das suas mesquinhas vinganças contra quem garantia estabilidade,  dos seus interesses menores e da sua hipocrisia.
A antiga cidade de Palmyra está classificada pela UNESCO como Património Cultural da Humanidade e era um símbolo bem preservado da herança cultural greco-romana. A edição de ontem do jornal hojemacau destaca em primeira página e com grande relevância a destruição dessa memória do mundo que é o campo arqueológico de Palmyra, não deixando de ser curioso o facto de, aparentemente, nenhum outro jornal internacional ter dado semelhante destaque a essa notícia, como o fez um jornal macaense escrito em português.

quarta-feira, 26 de agosto de 2015

As grandes pontes ibéricas

Uma etapa da Vuelta a España ontem disputada entre Estepona e Vejer de la Frontera, na Andaluzia, levou os ciclistas a passar pela Puente de La Constituición de 1812, conhecida por Puente de la Pepa, que atravessa a baía de Cadiz e liga Puerto Real a Cadiz. A imponente ponte que será a maior de Espanha ainda não está concluida, mas foi ontem utilizada pela primeira vez como regista La Voz de Cadiz na sua edição de hoje. A imprensa espanhola, que muitas vezes trata o seu país como se não houvera mais países e mais mundo, tratou de destacar esta pré-inauguração, classificando esta ponte como uma das maiores do mundo, com os seus 3.082 metros de comprimento e com uma largura do tabuleiro variável entre 31 e 33 metros.
Acontece que a nossa Ponte Vasco da Gama tem 17,3 km de comprimento, dos quais 12 km sobre o estuário do rio Tejo, tendo uma largura de 30 metros que suporta 6 vias de rodagem. É reconhecida como a ponte mais longa da Europa e a nona mais extensa do mundo. Por isso, nesta matéria, ganhamos a Espanha e verificamos como eles são uns exagerados e quase tão chauvinistas como os franceses. Porém, o nosso problema não é o comprimento das pontes que é um tema menor e muito desinteressante. O nosso problema é não sabermos os exactos contornos financeiros que envolveram a construção da nossa ponte, isto é, quanto foi recebido do Fundo de Coesão da União Europeia, quanto foi emprestado pelo Banco Europeu de Investimentos e qual foi a participação do consórcio Lusoponte, que ficou com a concessão por 40 anos das portagens das duas pontes sobre o Tejo. Já passaram 17 anos sobre a inauguração desta tão importante obra, mas continua a haver uma densa neblina sobre o assunto, sem que saibamos a verdade sobre os negócios que lhe estão associados.

terça-feira, 25 de agosto de 2015

A TAP e a teimosia das privatizações

A Comissão Europeia lançou um balde de água fria sobre os privatizadores portugueses, ao declarar que não tinha jurisdição para avaliar o negócio da venda da TAP ao abrigo das regras europeias para as fusões, pelo que o processo deverá ser avaliado pelas autoridades nacionais competentes que, neste caso, é a Autoridade da Concorrência (AdC). Os nossos privatizadores não esperavam essa decisão e pensavam poder encostar-se a Bruxelas para se justificarem desta operação que vai contra o interesse nacional e o sentimento dos portugueses. Assim, a velha desculpa das imposições comunitárias foi desmascarada e a montanha pariu um rato. De facto, depois da troika ter imposto a privatização total ou parcial da TAP no Memorando que foi negociado com a participação activa de Catroga e Moedas – como bem vimos através da televisão - e depois de dois concursos internacionais realizados, esta decisão é ridícula, lamentável e deixa os privatizadores portugueses entregues à sua obcecada cruzada. Seria a altura adequada, embora tardia, para cancelar todo o processo, em vez de o entregar à AdC, cujo órgão máximo de decisão é um Conselho constituído por um presidente e dois vogais, todos escolhidos pelo actual governo, o que pode suscitar ainda mais dúvidas quanto à transparência das suas decisões.
A obcessão pela privatização da TAP é uma questão ideológica e uma farsa conduzida por fanáticos.
A TAP é uma das nossas “jóias da coroa” e não tem de passar por estes processos, contra a vontade da opinião pública e o interesse nacional. Depois de tantos elogios da Europa ao bom aluno lusitano e depois de ter sido dito que os nossos cofres estavam cheios, pergunta-se para quê e porquê esta teimosia privatizadora quando estamos a 5 semanas das eleições legislativas? A continuar esta operação, ainda irá correr muita tinta... 

O vendaval chinês pode chegar a Portugal

Desde há muitos anos que as bolsas deixaram de ser um instrumento de financiamento das empresas, para passarem a ser verdadeiras catedrais da especulação financeira e autênticos campos de batalha entre os grandes interesses capitalistas, onde se jogam as grandes variáveis económicas do comércio internacional, como o valor da moeda e o preço das exportações. É assim em todo o mundo.
Ontem foi uma “segunda-feira negra”, quando as bolsas chinesas entraram em queda, perderam 8,46% e arrastaram consigo as bolsas mundiais, isto é, a China tossiu e os mercados financeiros mundiais tremeram com as bolsas europeias a perder cerca de 5%. Desde 2008 que não se assistira a semelhante turbulência. Houve um pânico generalizado e a economia mundial viu serem ressuscitados os seus cenários mais negros. Afinal, tal como tinha acontecido em muitos outros países, também havia uma bolha chinesa.
Em Portugal, segundo informa o Público, a bolsa portuguesa desvalorizou 3 mil milhões, o índice PSI-20 registou uma queda de 5,8% que foi a pior desde Outubro de 2008 e o petróleo caiu para o preço mais baixo dos últimos seis anos. Acontece que este pânico tem pouco impacto directo em Portugal, que é uma economia pequena e periférica, sendo a sua bolsa ainda mais pequena e mais periférica, embora haja quem prometa “colocá-lo entre as dez economias mais competitivas do mundo”. Porém, houve tanto investimento chinês em Portugal e os nossos dirigentes fizeram tantas “visitas de Estado” à China que, por essas vias, até podemos estar à mercê de um qualquer vendaval que sopre daqueles lados, onde haverá muitos dos “nossos amigos” que mostraram uma pujança financeira que não corresponderá à realidade económica e que, agora, estarão a ser vítimas da sua própria especulação. Ou então, sou eu que não percebo nada disto e o que aconteceu em Xangai foi uma simples brisa. Como sabiamente disse o Papa Francisco, "esta economia mata".

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

O ‘boom’ turístico e a desgraça alheia

Numa altura em que alguns países europeus, sobretudo a França, a Espanha e Portugal, vivem em clima de grande euforia com a verdadeira avalanche de turistas que neles passam as suas férias de Verão, o jornal DNA – Dernières Nouvelles d’Alsace de Strasbourg, publica hoje uma reportagem sobre a “ruine du tourisme” na Tunisía. Nesse país, tal como se verifica em todo o Magrebe, na Turquia e no Egipto, a instabilidade e a ameaça terrorista têm afastado o turismo europeu que prefere os destinos turísticos mais seguros. Como consequência, naquelas regiões da margem sul e oriental do Mediterrâneo, o sector turístico está absolutamente arruinado e muitos milhares de turistas cancelaram as suas reservas nestas regiões, escolhendo o sudoeste da Europa como destino de férias.
No caso da Tunísia, onde houve os atentados do Museu Nacional do Bardo na capital tunisina (24 mortos) e na praia de Port El Kantaoui (38 mortos), os turistas europeus desapareceram das praias e dos hotéis, onde apenas se vêem alguns tunisinos e argelinos de baixo poder económico, o que causa um grave problema económico e social ao sector do turismo que assegura 450 mil empregos e representa 7% do PIB.
Porém, enquanto os franceses e os espanhóis registam este boom turístico como resultado da situação de desgraça que está a passar pela orla sul e oriental do Mediterrâneo, nós temos a lamentável e mentirosa mensagem sublimar do irrevogável e dos seus seguidores, a insinuar que o crescimento do nosso turismo foi obra do governo. Para essa gente, sem pudor e sem vergonha, vale tudo! Gostam do poder e, por ele, fazem tudo.

sábado, 22 de agosto de 2015

Se nunca viu uma festa, vá a Campo Maior

Começam hoje em Campo Maior as mais famosas festas das ruas floridas que se realizam em Portugal, com mais de uma centena de ruas decoradas com flores de papel e outros ornamentos feitos pelos moradores de cada rua com papel e cartão. Para além da sua afirmação como símbolo maior da arte popular portuguesa, as Festas do Povo de Campo Maior representam o resultado de um enorme esforço colectivo e de um dedicado envolvimento dos campomaiorenses durante muitos meses de trabalho, de que resulta sempre um surpreendente espectáculo de arte, de cor e de imaginação. As festas não têm peridiocidade regular e realizam-se “quando o povo decide”, pelo que a festa de 2015 acontece depois das festas de 2004 e 2011, sendo sempre um acontecimento imperdível que, apenas numa semana, fará convergir para a pequena vila de Campo Maior cerca de um milhão de visitantes de ambos os lados da fronteira. Por isso, se nunca viu uma festa das flores das várias que se realizam no Alentejo, decida-se e vá a Campo Maior.
Porém, uma deslocação a Campo Maior durante as festas obriga a um planeamento muito rigoroso da visita para evitar as horas das grandes enchentes e do excesso de calor, mas há ter "coragem" e ter presente que nunca se sabe quando é que as festas se voltam a realizar e que, nessas condições, a oportunidade deste ano não pode ser desperdiçada. Por vezes, as visitas complicam-se, pois há algumas “personalidades” que gostam de se exibir nestes dias e nestes locais, entopindo a vila com os seus carros, as suas comitivas e os seus seguranças protectores, o que perturba seriamente o visitante comum. Não há bela sem senão, como diria a minha avó...
Pela sua estética artística e forte tradição popular os campomaiorenses têm a legítima aspiração de ver consagradas as suas Festas do Povo como Património Cultural Imaterial da Humanidade. A candidatura a ser apresentada à UNESCO já está em preparação e os mais optimistas apostam que a classificação ocorrerá até 2017. Se eu tivesse direito a voto, obviamente que votava sim.

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

A evocação histórica da tomada de Ceuta

Foi há 600 anos. O dia 21 de Agosto de 1415 foi “o dia em que Portugal saiu à descoberta do mundo” como hoje escreve o Público na sua primeira página, que é ilustrada com o famoso painel de azulejos de Jorge Colaço existente na Estação de São Bento no Porto.
Nesse dia, os portugueses entraram em Ceuta pela força das armas e em poucas horas tomaram a cidade. No dia seguinte, os filhos mais velhos de D. João I foram armados cavaleiros e, segundo relata Gomes Eanes de Zurara na Crónica da Tomada de Ceuta, o cavaleiro João Vaz de Almada “foi pôr a bandeira da cidade de Lisboa sobre as torres do castelo”. Passados seis séculos, a cidade autónoma de Ceuta ainda mantém como símbolo a mesma bandeira gironada de preto e branco e, sobre ela, o escudo português.
A tomada de Ceuta foi uma aventura militar bem sucedida em que participaram cerca de 20 mil cavaleiros e soldados que haviam sido transportados desde a costa portuguesa em mais de duzentas embarcações, mas tinha um sentido que hoje seria classificado de visão estratégica.
Os historiadores que se têm debruçado sobre esse feito de armas, não são unânimes quanto às motivações que estiveram na base da decisão do rei de Portugal, embora seja dominante a tese que considera ter-se tratado de uma acção de guerra para que os “altos infantes” fossem armados cavaleiros, embora também tenha havido outras motivações como o acesso aos cereais de Marrocos, a reforma do comércio com o norte de África, a dissuasão da pirataria moura que atacava a costa algarvia, a criação de uma base para controlo da navegação no Mediterrâneo oriental e até a expansão da fé cristã em Marrocos. Em 1640 os ceitis não aceitaram a Restauração e o novo Rei D. João IV, mantendo-se sob a soberania do Rei Filipe IV de Espanha. Os portugueses tinham administrado Ceuta durante 225 anos.
Ceuta representa o ponto de partida dos portugueses para a expansão marítima, a maior epopeia da sua história. Em menos de um século e muito antes de qualquer outra nação europeia, as naus portuguesas acharam o Brasil, contornaram a África e chegaram à Índia, à China e às ilhas da Insulíndia. Lembrar estas coisas não é saudosismo. É uma realidade que deve merecer o respeito da Europa, mas também é um estímulo para enfrentarmos as dificuldades do presente e os desafios do futuro.

quarta-feira, 19 de agosto de 2015

O irrevogável e o récord das exportações

O irrevogável vem fazendo uma triste figura desde que se vendeu por um lugar de vice-primeiro ministro, o qual lhe tem proporcionado passeatas que nem O Independente nem a Universidade Moderna alguma vez lhe podiam proporcionar. Não sei se houve alguma vez em Portugal alguém que tanto tivesse viajado à custa do erário público e dos meus impostos. Além disso, porque não quer parecer a figura secundária que realmente é, tratou de arranjar uma corte de bajuladores, seguidistas e sem ideias próprias, a quem arranja uns lugares no governo e fora dele. Para compor a caricata cena, até os levou à festa do PSD onde os sentou como figuras decorativas, tal como acontecia nas festas medievais em que os senhores tementes a Deus, por vezes sentavam a criadagem à sua mesa.
Um dia o irrevogável falou nas exportações como o porta-aviões da economia portuguesa e logo a sua corte bajuladora passou a badalar a necessidade de as aumentarmos. De facto, as exportações aumentaram e logo o irrevogável e os seus amigos trataram de capitalizar esse resultado em seu proveito político através de cartazes e de sucessivas entrevistas, como se essa gente tivesse algum mérito nisso. A Espanha que está a crescer a um ritmo que é o dobro do crescimento português anuncia hoje o crescimento das exportações em diversos jornais e o jornal económico Expansión titula “récord exportador”, mas sem associar o governo a esse resultado que, como se sabe, depende sobretudo de factores exógenos.
Porém, por cá, o irrevogável e os seus seguidistas são demasiado atrevidos e continuam a manipular mentirosamente o que de bom se passa no turismo e nas exportações, como se isso resultasse da acção do governo e, em particular da acção pessoal do irrevogável, enquanto seu coordenador económico. Esta gente repete e repete estas mentiras, sem vergonha e sem pudor e isso recorda-nos o Goebbels de má memória: uma mentira repetida mil vezes torna-se verdade.

domingo, 16 de agosto de 2015

A nossa economia cresce... mas pouco

Entre outras promessas anunciadas, a coligação de Passos e Portas promete colocar Portugal entre “as dez economias mais competitivas do mundo”.
Muito gente se riu com essa promessa eleitoral demagógica e fantasista, própria de quem não olha a meios para se manter no poder. Agora, até o Eurostat veio pôr a ridículo essa promessa no seu newsrelease 140/2015, anteontem divulgado, ao mostrar que os mais recentes desempenhos económicos portugueses são piores do que a média da União Europeia (UE28), contrariando a ideia subjacente àquela promessa. 
Diz o Eurostat que no final do 2º trimestre de 2015 o crescimento anual da UE28 foi de 1,6%, enquanto em Portugal foi de 1,5%, isto é, Portugal cresceu menos do que a média europeia e, portanto, aconteceu o contrário que diz a propaganda. Nós não convergimos, mas continuamos a divergir da UE28! Entre os 22 países com resultados já divulgados para o crescimento do Produto, verifica-se que Portugal é o 8º pior de entre todos eles. Além disso, ficamos a saber que a Espanha cresceu 3,1% e que alguns dos nossos concorrentes no campo da atracção do investimento estrangeiro cresceram mais do que nós, casos da República Checa (4,4%), Roménia (3,7%), Polónia (3,6%) e Eslováquia (3,1%). Se observarmos apenas o crescimento verificado no 2º trimestre de 2015, verificamos que Portugal cresceu 0,4%, enquanto a Espanha cresceu 1,0% e até a Grécia nos superou com 0,8%. Com estes números, como é possível semear ilusões, enganar as pessoas e prometer “colocar Portugal entre as dez economias mais competitivas do mundo”?
Embora estes números mostrem que a economia portuguesa já deixou de bater no fundo, não há nenhumas razões para as euforias eleitorais que por aí andam, muitas vezes envolvidas nas mais descaradas manipulações estatísticas e mentiras. De resto, o mesmo Eurostat informava-nos recentemente que os nossos 12,4% de desemprego eram o 6º pior resultado do UE28 (média de 9,6%), enquanto a nossa dívida pública se situava nos 129,6% do PIB que é o 3º pior resultado da UE28 (média 88,2%).
Lamentavelmente,  os jornais e os jornalistas portugueses não entenderam que esta informação do Eurostat fosse importante para o público e ficaram calados. Até parecem os músicos do Titanic...

quinta-feira, 13 de agosto de 2015

Os excessos do turismo de massa


Numa altura em que em Portugal se utiliza o “crescimento do turismo” como argumento eleitoral, é bem curiosa a reportagem hoje publicada pelo La Dépêche du Midi, um diário que se publica em Toulouse e que trata do excesso de turistas em Barcelona, o que é cada vez pior suportado pelos habitantes da cidade, que é um dos destinos turísticos preferidos pelos franceses do sul.
Barcelona é o pulmão económico da Catalunha e é uma cidade cheia de atracções turísticas – praias, porto de cruzeiro, marinas, clima mediterrânico, património histórico, cultura, gastronomia e futebol, entre muitas outras coisas que fazem convergir 27 milhões de turistas para a cidade em cada ano. O turismo é importante para a cidade e representa cerca de 14% do seu produto. Porém, os efeitos perversos desta “invasão” são preocupantes, nomeadamente a falta de civismo e a perturbação da ordem pública. Nos bairros históricos de Barceloneta e Bario Gotico, os habitantes já não suportam ver grupos de ingleses, alemães, holandeses e franceses a beber sem controlo nos inúmeros bares, a gritar pela noite dentro, a urinar nas esquinas ou a vomitar nas ruas. No ano passado, até houve italianos que se passeram nus por alguns locais. Como se escreveu, Barcelona vive uma “revolução nas Ramblas”. Também nas praias da cidade se acumulam diariamente mais de duas toneladas de dejectos e de lixo de toda a espécie, incluindo latas, garrafas e papéis.
A situação é muito preocupante e Ada Colau, a presidente da municipalidade, decidiu tomar algumas medidas para melhor gerir um fluxo turístico que é vital para a economia da cidade, mas que utiliza milhares de alojamentos ilegais, que gera uma incontrolável especulação financeira e que perturba gravemente uma boa parte dos habitantes da cidade. Por isso, Ada Colau decidiu actuar e começou por suspender três dezenas de novos projectos turísticos “antes que o turismo mate o turismo”. No entanto, Ada Colau sabe que esta “invasão” resulta do livre desenvolvimento do mercado turístico e, por isso, nem ela nem ninguém na Catalunha veio reivindicar o mérito do “crescimento do turismo”, como aqui têm insinuado esses especialistas da propaganda que são Portas, Lima e os seus comentadores-papagaios. Nunca se viu tanto auto-elogio e, como se sabe, só os medíocres e os fracos se auto-elogiam.
 

O turismo sobe à custa da desgraça alheia

Com a aproximação das eleições legislativas a guerra dos cartazes já começou e tem sido centrada na origem das fotografias que ilustram os cartazes para saber se são de militantes, de gente que trabalha numa qualquer junta de freguesia ou se são compradas a um banco de imagens. Isso interessa pouco. Nos cartazes o que interessa é transmitir uma mensagem que seja perceptível e provoque a adesão do receptor, mas tem que ser verdadeira. Nem sempre assim acontece.
Uma das mensagens que o governo está a difundir centra-se no “crescimento do turismo”, sendo irrelevante saber-se quem é a menina que sorri. O que importa é que com essa mensagem nos estão a querer vender gato por lebre. O crescimento do turismo é bom para a economia nacional mas não tem nada a ver com o governo. Ao associar-se a esse crescimento o governo engana-nos. Com uma lata infinita e sem vergonha nenhuma! O crescimento do turismo em Portugal, tal como na Espanha, apenas resulta da instabilidade e da desgraça que atinge os países receptores da orla sul e oriental do Mediterrâneo.
Por acaso, a imprensa espanhola noticia hoje o crescimento do turismo em Espanha, mas ninguém o associa ao governo. O ABC diz que “Sevilla levanta el vuelo” e refere que “San Pablo es, tras Barajas, el aeropuerto de España que mas há mejorado su ratio de pasajeros durante o presente año”; o El Periódico de Barcelona diz que “el avión se multiplica” e que “el tráfico aéreo batió récords en el mês de Julio”; o La Verdad de Alicante diz que “el aeropuerto de El Altet registra en Julio el mejor mês de sus 49 años de historia”; até o La Dépêche du Midi de Toulouse trata do excesso de turismo na Catalunha e titula “Barcelone: stop au tout tourisme”, acrescentando que “la mairie veut en finir avec les incivilités et les excès du tourisme de masse”. Toda esta euforia é destacada em primeira página, mas nenhum destes jornais a associa ao governo. Aqui com um oportunismo desonesto, o irrevogável Portas e os seus meninos de coro usam o turismo para nos enganar.

terça-feira, 11 de agosto de 2015

A pobreza e a fome existem em Portugal

O Jornal de Notícias destacou hoje na sua primeira página o fenómeno da pobreza em Portugal, ao noticiar que “48 mil comem todos os dias nas cantinas sociais” e, dessa forma, o jornal prestou, como lhe compete, um relevante serviço informativo à comunidade.
Este número envergonha a nossa sociedade e é um murro no estômago dos democratas portugueses. Numa altura em que o governo promove uma intensa campanha de propaganda através de cartazes e das repetidas intervenções televisivas de alguns dos seus servidores mais acéfalos, com despropositados elogios por alguns resultados económicos ainda não consolidados, sobretudo nas exportações e no turismo, esta revelação oriunda do Instituto da Segurança Social ajuda-nos a perceber a nossa realidade social. Perante este quadro de pobreza e fome, o espectáculo da propaganda governamental tem sido lamentável e revela ausência de pudor.  O governo de Passos e Portas mentiu-me antes das eleições, empobreceu-me e achou que eu vivia acima das minhas possibilidades. Depois aumentou a nossa dívida pública, vendeu empresas ao desbarato, mandou uma geração para a emigração, destruiu empresas e postos de trabalho, arruinou a saúde e a educação, desmoralizou as Forças Armadas e revelou sempre uma enorme insensibilidade social.
As estatísticas revelam que há cerca de dois milhões de portugueses na pobreza ou em risco de pobreza, havendo muitos deles que têm fome e que, entre outros locais, recorrem ao apoio das cantinas sociais. Assim, no 1º semestre do corrente ano estavam em vigor 843 protocolos e o total de refeições contratualizadas foi de 47.826 refeições por dia. No ano passado estavam em vigor 845 protocolos para as cantinas sociais em todo o território continental e o total de refeições contratualizadas foi de 49.024 refeições por dia. A pobreza e a fome persistem. Não houve melhoria significativa nos últimos meses apesar do governo ter “os cofres cheios”. A economia melhorou? Claro. Depois de bater no fundo só pode crescer, mas a insensibilidade social do governo continua, tal como a pobreza e a fome.

As touradas e as colhidas dos matadores

Vários jornais generalistas espanhóis, sobretudo de Aragão e da Andaluzia, destacam hoje a gravíssima colhida ontem sofrida por Paquirri na praça de touros de Huesca, durante as Fiestas de San Lorenzo. Os títulos dos jornais são coincidentes: muy grave.
Apesar da chamada festa brava despertar enorme entusiasmo e grandes paixões na Espanha, uma ocorrência deste tipo não costuma ser destacada nas primeiras páginas de tantos jornais, até porque há outras notícias de grande relevância na economia, na sociedade e no desporto espanhóis.
No entanto, a colhida de Paquirri parece ter sido mais mediatizada do que  os incêndios, as eleições catalãs ou a disputa da supertaça europeia entre o Barcelona e o Sevilha. Esse destaque jornalístico resulta, sobretudo, da notoriedade de Francisco Rivera Ordóñez, conhecido no meio tauromáquico por Fran Rivera ou Paquirri, cujo nome está associado a duas das maiores lendas do toureio espanhol: António Ordóñez, seu avô materno, e Francisco Rivera Pérez, “Paquirri”, seu pai, mortalmente colhido em Córdoba em Setembro de 1984.
A colhida de Francisco Rivera Ordóñez emocionou os espanhóis e fez lembrar a morte de seu pai Francisco Rivera Pérez, mas  as notícias de última hora informam que após uma intervenção cirúrgica realizada na própria praça de touros de Huesca, que durou duas horas e meia, o diestro estará livre de perigo. Só não sabemos por quanto mais tempo e em nome da sua identidade cultural, os espanhóis resistirão a este tipo de massacres como aconteceu ontem em Huesca, na Comunidade Autónoma de Aragão.

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Brest festeja o regresso do L’Hermione

O porto de Brest vai receber hoje a fragata L’Hermione, uma réplica do navio que em 1780 transportou o Marquês de La Fayette em socorro dos revolucionários americanos, festejando “son retour en métropole” depois da sua viagem inaugural em que atravessou o Atlântico Norte, visitou 13 portos americanos e recebeu 55 mil visitantes. Foi uma viagem de grande sucesso que foi altamente mediatizada e que serviu para prestigiar a França. Agora, durante uma semana o navio será o testemunho da “velha amizade entre a cidade de Brest e os Estados Unidos” mas, também, um motivo de orgulho da cidade. Segundo o Le Télégramme que se publica na cidade bretã de Lorient e que na sua edição de hoje nos apresenta uma bela fotografia do L’Hermione, foi de Brest, então o maior porto francês, que saíu La Fayette mas também “o corpo expedicionário do general Rochambeau, futuro vencedor da batalha de Yorktown, uma vitória que foi decisiva para os revolucionários americanos e os seus aliados franceses na sua luta pela independência contra o poder colonial britânico”. Acrescenta o jornal que Brest foi o principal porto utilizado pelos americanos durante a I Guerra Mundial, onde a partir de Novembro de 1917 desembarcaram 800 mil soldados americanos, mas também a primeira orquestra de jazz afro-americano do 369º Regimento de Infantaria. Mais recentemente, a cidade foi libertada da ocupação nazi pelo III Exército dos Estados Unidos no dia 19 de Setembro de 1944, depois de um terrível cerco que durou 39 dias. As acções de solidariedade americana para com a cidade mártir de Brest começaram de imediato sob o impulso do general Eisenhower e de sua mulher.
Em 1962 Brest geminou-se com Denver, tendo sido a primeira cidade europeia a assumir esse estatuto com uma cidade americana. Significa que a ligação ao mar da Bretanha se reforça com esta tão profunda relação histórica e “esta velha amizade entre a cidade de Brest e os Estados Unidos”, que a festejada presença do L’Hermione evoca.  

domingo, 9 de agosto de 2015

Bombeiros portugueses na Extremadura

O Verão ibérico é um tempo de muito calor e de muitos incêndios em ambos os lados da fronteira. É o que está a acontecer na serra de Gata, situada na Extremadura e nas proximidades da fronteira portuguesa e da serra da Malcata. Devido à conjugação das altas temperaturas e de níveis de humidade relativa muito baixos, a serra está a arder há alguns dias, tendo sido anunciado que o incêndio já devastou cerca de 6,5 mil hectares de floresta e levou à evacuação de 2500 pessoas das localidades de Hoyos, Acebo e Perales del Puerto.
O diário Hoy que se publica em Badajoz diz que “el fuego no da tregua en la Sierra de Gata”. Trata-se de um incêndio florestal de grandes dimensões de consequências catastróficas, em actividade desde há cinco dias e cujo fumo atinge localidades a muitas dezenas de quilómetros de distância. Segundo é referido em alguns relatos, o acidentado do terreno e a direcção desencontrada e a força do vento têm dificultado o combate. Perante esta complexa situação, as autoridades espanholas emitiram um pedido de ajuda internacional e na linha dos acordos bilaterais existentes entre Portugal e Espanha, uma força especial conjunta composta por 32 viaturas e 104 elementos saíu ontem de Castelo Branco para a zona de intervenção, numa demonstração de prontidão e solidariedade que merece ser registada.  Para além dos reforços portugueses, também há bombeiros da Andaluzia e de Castela e Leão a actuar no terreno. Aqui está um bom exemplo do que deveria ser a solidariedade europeia que, como se viu recentemente no caso da Grécia, não funciona quando há abutres financeiros e dirigentes medíocres envolvidos nos problemas.

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

O mundo do nosso futebol enlouqueceu

O assunto não é novo, mas este ano parece estar a ultrapassar todas as marcas, isto é, a contratação milionária de jogadores de futebol parece estar a ultrapasar todos os limites. Chovem reforços, foi o título escolhido por A Bola para caracterizar o que está a acontecer com os maiores clubes de futebol portugueses que, apesar de acumularem dívidas de algumas centenas de milhões de euros, parece terem encontrado uma fonte de financiamento inesgotável que lhes permite estes caprichos e esta irracional competição fora dos estádios. A nossa economia tem enormes restrições ao crédito bancário, mas o futebol tem todo o dinheiro que quer. É um enigma. É um verdadeiro paradoxo. Não faz qualquer sentido que um país que tem tantos jovens ansiosos por uma oportunidade e que recentemente brilhou nos campeonatos do Mundo de sub-20 na Nova Zelândia e da Europa de sub-21 na República Checa, em que apenas foi derrotado na lotaria dos penaltis, faça tantas contratações de jogadores, muitas vezes em fim de carreira. Trata-se de uma opção desportivamente errada e de uma decisão financeiramente catastrófica, embora nos negócios haja sempre quem ganhe. E o futebol é um negócio. O que conta não são apenas os dotes futebolísticos dos artistas, mas o valor dos patrocínios, dos direitos televisivos, dos direitos de imagem e do valor que possam ter futuras transferências, ou seja, as tão citadas cláusulas de rescisão, para além das inúmeras comissões que estes negócios proporcionam. Os chamados jornalistas e comentadores desportivos vivem alienados com tudo isto e deslumbrados por um protagonismo que não esconde toda a sua mediocridade. As televisões aproveitam. O que se está a passar, mesmo para os mais fervorosos adeptos do futebol português, é uma vergonha e é frequente que as nossas grandes equipas entrem em campo sem um único jogador português. Num país com muito desemprego e com muitos milhares de pessoas no limiar da pobreza, tudo isto é um insulto. O meu entusiasmo pelo futebol arrefeceu quase completamente. A loucura tomou conta do futebol.

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

Suez: mais canal, mais comércio mundial

Foi anunciada para hoje a cerimónia da inauguração do novo canal do Suez, a designação que foi adoptada para identificar uma nova via com 37 quilómetros paralela ao anterior canal e, também, o alargamento e aprofundamento de um troço de 35 quilómetros da via original de 72 quilómetros. Com este novo canal, prevê-se que aumente de 49 para 97 o número de navios que possa utilizar diariamente o canal e que o tempo de navegação seja reduzido de cerca de 20 para 11 horas. Dessa forma, vai haver uma melhoria considerável na ligação marítima entre a Europa e a Ásia, mas também uma maior integração da economia mundial.
O canal que liga os portos egípcios de Port Said no mar Mediterrâneo a Suez, no mar Vermelho tem 195 quilómetros de extensão, foi construído pela companhia do Suez de Ferdinand Lesseps e foi inaugurado em 1869. Depois de uma vida atribulada, a companhia do canal que era controlada por capitais franceses e ingleses, foi nacionalizada em 1956 pelo presidente Gamal Abdel Nasser.
Após 145 anos de serviço, o canal teve agora e pela primeira vez uma intervenção de expansão, que se espera venha a criar um milhão de postos de trabalho e a gerar um substancial aumento de receitas para o Estado egípcio.
Hoje, o presidente Abdel Fattah al-Sissi inaugura esta segunda rota do canal numa cerimónia em que estarão presentes alguns chefes de Estado estrangeiros, com destaque para François Hollande, o convidado de honra. Haverá uma grande parada naval que será sobrevoada por três aviões de combate Rafale e oito F16 recentemente entregues pela França e pelos Estados Unidos. Numa altura de muita perturbação regional e de ameaças jihadistas no seu próprio território, as autoridades egípcias dão um incremento ao comércio mundial e um sinal ao mundo de estabilidade e de confiança no futuro.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

Uma tempestade perfeita ameaça o Brasil

O Brasil não é só um grande país, mas é também um familiar que nos é próximo ou mesmo um irmão que o mar oceano mantém separado de nós. Entre o Brasil e Portugal há um passado e uma herança comuns que incluem Cabral e Pero Vaz de Caminha, mas também Estácio de Sá, o Padre António Vieira, o Tiradentes, Pedro de Bragança, José Bonifácio e Machado de Assis. O Brasil tem um destacado lugar na nossa árvore genealógica e na nossa matriz cultural, no nosso imaginário histórico e nos afectos mais profundos da alma lusitana, não só através da língua comum, mas também através de muitos factores de identidade cultural visíveis no património das suas cidades históricas. 1808, 1822 e 1889 não são apenas títulos de livros de Laurentino Gomes, mas são datas importantes da nossa vivência comum.
Há milhares de brasileiros que escolheram esta margem do Atlântico para viver, mas também há milhares de portugueses que se acolhem no grande Brasil. Do Brasil vieram a boa música, o futebol artístico, as novelas, a feijoada e a caipirinha. Se nós somos o Brasil da Europa, o Brasil bem pode ser um Portugal dos trópicos.
Hoje o Brasil vive dias difíceis e os indicadores da sua economia apontam para uma recessão prolongada, com excessos na despesa pública e um enorme descontrolo da inflação. O crescimento económico estagnou e o mesmo acontece com o investimento estrangeiro. A incerteza no futuro é grande e há uma enorme desconfiança nos governantes. Dilma Rousseff e o seu governo têm inacreditáveis índices de popularidade. As desigualdades sociais acentuam-se. Os brasileiros já sentem dificuldades no seu quotidiano com o aumento do custo de vida, o crescente desemprego e o número cada vez maior de empresas e famílias insolventes, mas não vêem saída fácil para este quadro. A somar a todas estas situações, há o mensalão, o petrolão e, agora, o lava-jacto. Como titula a revista Veja, o Brasil enfrenta uma tempestade perfeita. Os países, tal como as pessoas, atravessam bons e maus momentos. É a vida. Aqui em Portugal bem sabemos o que são bons e maus momentos económicos e o que são políticos medíocres e incapazes e, por isso, estamos certos que os brasileiros se saberão defender e que vão ultrapassar a tempestade perfeita que ameaça o seu país.

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Espanha: as touradas estão acima de tudo

Toda a península Ibérica tem estado sob intenso calor que, nalgumas regiões, tem atingido temperaturas da ordem dos 40 graus. É o tempo das férias e da deslocação de muitos milhares de espanhóis para as praias, sobretudo na costa mediterrânica, mas também é o tempo em que os centros urbanos ficam desertos durante as horas de maior calor e da siesta.. Os jornais reflectem esta realidade com notícias que são ilustradas com fotografias das ruas desertas e das praias superlotadas, porque essa é realmente a imagem mais conhecida do Agosto espanhol. Porém, a imprensa espanhola também trata dos temas internacionais e de outros temas nacionais, como as pré-temporadas futebolísticas, o soberanismo e as eleições autonómicas na Catalunha e, em especial, as fiestas. As fiestas fazem parte da identidade espanhola e realizam-se por todo o país, havendo cinco delas que estão classificadas pela UNESCO como Património Imaterial da Humanidade. Duram vários dias com muita gente, muita animação e muitas luzes, concertos, gastronomia, provas desportivas, fogo de artifício e… corridas de touros.
Uma das mais apreciadas festas espanholas é a Fiesta Colombina de Huelva, que celebram Cristóvão Colombo e os seus companheiros, alguns dos quais portugueses, que largaram de Palos de la Frontera no dia 3 de Agosto de 1492 em busca das Índias e acabaram por descobrir um novo mundo. Hoje vários jornais espanhóis, sobretudo na Andaluzia, noticiaram com grande destaque e em primeira página a tourada ontem realizada em Huelva, na Plaza de La Merced, em que os diestros Ponce e Manzanares triunfaram, cortaram duas orelhas cada um e sairam em ombros da praça. O caso também foi notícia noutras regiões e, no caso do  madrileno ABC, uma fotografia ocupou toda a capa do jornal a mostrar a importância que os espanhóis dão às touradas.

domingo, 2 de agosto de 2015

Aí estão as Ruas Floridas do Redondo’15


Redondo, 1 de Agosto de 2015
As mais esperadas festas do Redondo – as Ruas Floridas – foram inauguradas ontem às 16:00 horas, decerto sob um sol abrasador e com cerca de 40 graus de temperatura, pelo que as visitei logo de manhã, quando ainda se davam os últimos retoques na preparação daquelas ornamentações de papel colorido que a imaginação humana consegue idealizar e concretizar. As temperaturas eram ainda relativamente amenas e os milhares de visitantes que haveriam de chegar em autocarros e automóveis só começaram a aparecer mais tarde, ou seja, é muito avisado que se vá cedo para estas coisas e, com certeza, acompanhado por bons amigos. Como sempre, a vila do Redondo estava preparada e mobilizada para a festa, com parques de estacionamento devidamente sinalizados, com as ruas limpas, as casas pintadas e com abundante distribuição de folhetos informativos, tornando muito agradável a circulação pedestre dos visitantes. O elemento central das festas são as suas ruas floridas que nos deslumbram e encantam com uma  ornamentação feita de papéis de muitas cores, laboriosamente transformados em flores pela imaginação dos redondenses. Embora não haja competição entre ruas, o facto é que o visitante acaba por hierarquizá-las em função dos temas, das cores e da criatividade. Como habitualmente, cerca de duas dezenas de pequenos restaurantes anunciam as suas especialidades e, para o verdadeiro gourmet é a oportunidade para juntar ao deslumbramento que são as ruas floridas, o outro deslumbramento que é o festival de sabores da cozinha local com o gaspacho alentejano, a sopa de cação, o cozido de grão, as migas à alentejana, os pézinhos de coentrada, o ensopado de borrego e tantas outras iguarias. Nessas circunstâncias, os amigos são ainda mais desejados.
As Ruas Floridas são, realmente, uma grande festa e um grande evento da cultura popular e vão decorrer até ao dia 9 de Agosto. Como dizem na televisão, é um programa a não perder.