sexta-feira, 3 de novembro de 2017

O independentismo catalão não cede

A Catalunha é uma das 17 comunidades autónomas de Espanha, tem língua, história e cultura próprias e, também, tem a aspiração de se tornar um estado independente. É uma história que tem alguns séculos e que terá começado quando, na segunda metade do século XVI, o rei Fernando de Aragão casou com a rainha Isabel de Castela, levando à unificação da Espanha, que passou a integrar a Catalunha. Mais tarde, com a guerra da Sucessão em que a Europa e a Espanha se dividiram, aconteceu o cerco de Barcelona e a sua rendição no dia 11 de Setembro de 1714. A soberania catalã foi então abolida e foram impostos a língua e os costumes castelhanos, fazendo da Catalunha uma “província espanhola” tutelada por Madrid. Quando em 1931 a Espanha se tornou uma república, a Catalunha voltou a conquistar a autonomia, mas perdeu-a com a ditadura franquista. A restauração da democracia trouxe a autonomia de novo à Catalunha em 1979.
A Catalunha tem, portanto, um arreigado e secular sentimento independentista e as aspirações catalãs não podem ser ignoradas. Porém, como não estamos no tempo de libertadores nem de caudilhos, tudo tem que cumprir certos preceitos, designadamente o da legalidade interna e a da aceitação internacional.
Acontece que o governo da Catalunha foi longe de mais e no dia 1 de Outubro avançou para um pseudo-referendo e inventou algumas centenas de feridos resultantes da violência policial castelhana. Só acreditou quem quis, mas a escalada da tensão entre Madrid e Barcelona acentuou-se. No dia 27 de Outubro, um grupo de 70 dos 135 deputados do Parlamento da Catalunha votou a Declaração Unilateral de Independência. Ninguém a reconheceu externamente. A resposta de Madrid foi dura ao anular aquela declaração, demitir o governo e suspender a autonomia catalã. Alguns responsáveis políticos foram presos, mas Carles Puigdemont está ausente em Bruxelas, numa atitude de grande cobardia e, eventualmente, de traição à causa catalã. Entretanto, a imprensa catalã colocou-se abertamente contra a repressão das autoridades de Madrid e tem-se mobilizado na defesa da autonomia e dos governantes catalães e, na sua edição de hoje, o diário catalão EL Punt Avui publica o cartaz que exige a libertação dos presos políticos.  
Como aqui escrevemos no dia 29 de Setembro a “aspiração independentista catalã vai provavelmente sair reforçada deste processo, mas vai exigir que no futuro seja conduzida por gente mais capaz que os Puigdemont e os Oriol Junqueras”.

1 comentário:

  1. Reflexão de um ingénuo: Será tão complicado ouvir a voz da população, com eleições livremente aceites e aceite o resultado qualquer que ele seja? Quem tem medo delas?
    A teimosia arrogante e centralista de um lado e o voluntarismo extremista do outro não têm ajudado nada. Ambos julgarão que o tempo joga a seu favor?
    Deixar-se-á que a razão da força se imponha à força da razão?

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