domingo, 31 de dezembro de 2017

MRS foi o “Homem do Ano” de 2017

Quando termina um ano, a generalidade dos orgãos de comunicação social faz análises retrospectivas sobre o que de bom e de menos bom se passou durante o ano e escolhe as personalidades que mais se distinguiram. Este ano também tem sido assim e, embora António Guterres, Cristiano Ronaldo ou Mário Centeno sejam apontados como figuras marcantes de 2017 e estejam no grupo de portugueses que mais se destacaram, há uma verdadeira unanimidade a considerar Marcelo Rebelo de Sousa como o Homem do Ano.
Embora não goste muito de unanimidades, neste caso não me custa nada a aceitá-la e a alinhar ao lado dela, embora eu tenha algumas reservas quanto ao concubinato que se está a verificar entre a comunicação social e os serviços da Presidência, ou mesmo do próprio Presidente. De manhã, à tarde e à noite, sempre rodeado de microfones e de câmaras que naturalmente foram convidadas para fazer parte da cena, vemos MRS a distribuir afectos, beijos e abraços, a plantar árvores, a estender roupa, a comer com os sem-abrigo, a andar de carrocel nas feiras e, principalmente, a falar de orçamentos, de centenos, de legionellas, de raríssimas, de tudo. Tem sido um exagero. Se o outro deixou Boliqueime mas Boloqueime nunca o deixou, este deixou a TVI mas não consegue deixar a pele de comentador.
Agora que apareceu a inoportuna hérnia umbilical que o levou ao Hospital Curry Cabral e às mãos do seu amigo Barroso, que por acaso até nem gosta de aparecer na televisão, deixamos por uns dias de ouvir MRS a comentar tudo. Tem sido um descanso.
Portanto, há que felicitar o Homem do Ano pelo seu desempenho e desejar-lhe uma rápida recuperação. Porém, não posso deixar de lhe desejar um bom ano de 2018 no cumprimento da missão para que foi eleito, mas que se liberte dos estagiários do microfone que o acompanham por todo o lado e que, na sua ânsia de lhe agradar, o deixam muitas vezes à porta do ridículo e nós não queremos que isso aconteça.

quarta-feira, 27 de dezembro de 2017

Sydney previne-se da ameaça terrorista

A edição do diário australiano The Daily Telegraph que se publica em Sydney destaca hoje na sua primeira página uma imagem do chamado Sydney central business district, ou Sydney CBD, ou The Town, que é o maior centro económico e financeiro australiano e a principal área comercial de Sydney, a capital do estado de New South Wales e a a mais populosa cidade da Austrália.
A imagem mostra uma rua ocupada por vários veículos pesados e semi-reboques que formam um “anel de aço” para proteger as pessoas no local e no dia de maior movimento comercial do ano que é o Boxing Day. O título principal da notícia é esclarecedor: “Fortress Sydney”.
Trata-se, portanto, de uma decisão preventiva das autoridades para evitar quaisquer acções terroristas semelhantes às que se verificaram em algumas cidades europeias onde o terrorismo atacou os grandes ajuntamentos de pessoas, mas também é um dispositivo de segurança que descaracteriza e desumaniza a parte mais atraente da cidade. Contudo, é o preço que tem que ser pago para garantir a segurança das pessoas.
As ameaças terroristas têm alterado as nossas vidas nos últimos tempos e essa mudança era mais evidente com as medidas de segurança que são adoptadas nos aeroportos, nas estações dos metropolitanos e no acesso a alguns espectáculos. Porém, a notícia e a fotografia do CBD de Sydney mostra um novo aspecto da prevenção das acções terroristas que altera substancialmente a paisagem urbana em nome da segurança das pessoas.

A tradição do Boxing Day está bem viva

Ontem celebrou-se o Boxing Day, o dia seguinte ao Natal, não só no Reino Unido, mas também em vários outros países que por diversos motivos históricos adoptaram essa celebração. Porém, o Boxing Day é uma tradição ou uma instituição britânica peculiar e manifesta-se em muitas actividades.
A sua origem parece situar-se na Idade Média quando, no dia seguinte aos festejos do Natal, os senhores feudais deixavam aos servos as sobras dos seus manjares natalícios numa caixa (box). A tradição evoluiu e fez com que, para além da comida, as Christmas boxes também incluissem roupa e brinquedos. Depois, foram as igrejas que passaram a colocar caixas para recolher ofertas dos seus paroquianos, para serem distribuidas aos mais pobres. O Boxing Day tornou-se uma festa comunitária, sobretudo no campo e nas pequenas aldeias britânicas, embora tivesse assumido um carácter diferente nas cidades onde se tornou o dia da troca de presentes, que o comércio tem aproveitado nos últimos tempos para fazer promoções e desfazer-se de stocks acumulados. No entanto, o Boxing Day é cada vez mais a festa do futebol britânico e uma maratona desgastante com centenas de jogos disputados debaixo de chuva ou de neve, mas a que não faltam muitos milhares de entusiasmados espectadores nos estádios.
A caça é também uma actividade característica do Boxing Day, sobretudo a caça aos patos e aos faisões, mas a mais apreciada de todas é a tradicional caça à raposa, que foi proibida em 2005, mas que hoje é lembrada na edição londrina do The Times, porque continua a ser uma forte tradição, só que agora as matilhas de cães seguem um rasto falso que é indicado pelo odor artificial das raposas.
A tradição do Boxing Day está, realmente, bem viva para os britânicos.

terça-feira, 26 de dezembro de 2017

A desunião que reina na União Europeia

Ao anunciar o reconhecimento de Jerusalém como capital do Estado de Israel e a transferência da embaixada americana de Telavive para a cidade santa, o presidente Donald Trump criou uma perturbadora situação no Médio Oriente, que a ilustração da capa da última edição do Courrier International bem expressa.
Como aqui escrevemos no passado dia 23 de Dezembro, o Donald lançou gasolina para a fogueira e até o Papa Francisco, na sua mensagem de Natal, veio apelar à paz para Jerusalém e para toda a Terra Santa, lembrando a necessidade de respeitar o actual estatuto da cidade que é reconhecido pelas Nações Unidas e que estabelece que Jerusalém “pertence” a dois estados e a três religiões.
Na votação do dia 21 de Dezembro da Assembleia Geral das Nações Unidas que analisou a decisão americana é interessante analisar quem votou a favor (9 votos), quem votou contra (128 votos), quem se absteve (35 países) e até quem não compareceu à votação (21 países).
No que respeita aos actuais 28 membros da União Europeia que, supostamente deveriam ter uma posição comum a ser expressa por Federica Mogherini, a Alta Representante da UE para a Política Externa e Segurança, reinou a desunião. Se essa desunião é normal acontecer nas questões económicas e sociais em que o interesse nacional se sobrepõe muitas vezes ao interesse comunitário, pode compreender-se, mas nas questões de política internacional em que “a união faz a força”, o que se passou é muito preocupante. Na votação realizada em Nova Iorque houve um país que faltou à votação (Lituânia), houve 21 países que votaram contra a decisão americana e verificaram-se 6 abstenções (Croácia, Hungria, Letónia, Polónia, República Checa e Roménia). Estas abstenções revelam uma evidente falta de unidade no seio da União Europeia e até parecem ressuscitar o velho conceito da “cortina de ferro”, mostrando alinhamentos ou desejos de alinhamentos que só servem para diminuir o peso político da União Europeia de que quiseram fazer parte. Por isso, era desejável que o Conselho Europeu procurasse clarificar rapidamente estas posições. 

domingo, 24 de dezembro de 2017

A Catalunha está partida em dois blocos

Passadas as primeiras horas sobre as eleições do dia 21 de Dezembro e depois de todas as forças políticas catalãs terem declarado vitória, como é costume nestes casos, é tempo de analisar a situação criada na Catalunha que, como hoje salienta o El País, se partiu em dois bocados.
O bloco independentista conseguiu 70 deputados e teve 2.062.760 votos e o bloco constitucionalista elegeu 65 deputados e teve 2.211.655 votos, o que mostra que há uma lei eleitoral que não traduz a verdadeira vontade popular pois dá mais deputados a quem tem menos votos. Nessas circunstâncias há um bloco que diz que tem mais deputados e outro bloco que diz que tem mais votos. São duas verdades que até parecem irreconciliáveis, tal como parecem estar Rajoy e Puigdemont.
Mariano Rajoy é um perdedor porque a sua estratégia fracassou e Carles Puigdemont é um derrotado não só porque abandonou as suas tropas e fugiu, mas também porque perdeu a condição de líder do partido mais votado. Dificilmente dois derrotados poderão fazer outra coisa que não seja procurarem esconder os seus fracassos nesta problemática catalã. Com os resultados das eleições, nem uns podem invocar maiorias silenciosas, nem outros podem continuar com as pressões populares e a ocupação das ruas.
Há que descobrir outros protagonistas para dialogar. A situação é mais complexa do que antes e há que procurar a pacificação e a reconciliação pelo diálogo, evitando a continuação das confrontações verbais que, como a história mostra, podem degenerar noutro tipo de confrontações.

sábado, 23 de dezembro de 2017

Trump de asneira em asneira até quando?

A Assembleia Geral das Nações Unidas aprovou com ampla maioria na passada quinta-feira uma resolução que se opõe ao reconhecimento de Jerusalém como capital do Estado de Israel, que tinha sido anunciada por Donald Trump.
O texto foi aprovado por 128 estados, entre os quais Portugal (com 35 abstenções e 9 votos contra, tendo havido 21 países que não compareceram à votação) e considera que a decisão tomada em relação a Jerusalém “é nula e sem efeito”, mas não é vinculativo. Esperando este resultado, o Donald ameaçou cortar as ajudas financeiras americanas aos países que apoiassem a resolução e por várias vezes referiu que os países que votassem favoravelmente a resolução fariam com que os Estados Unidos poupassem muito dinheiro, numa clara alusão aos cortes que se propõe fazer nas ajudas financeiras.
Realmente, o Donald é um caso sério e, em menos de um ano na Casa Branca, já acumulou demasiados erros e é cada vez mais rejeitado pelos próprios americanos, como ontem sugeria o Daily News de Nova Iorque. A soberania de Israel sobre Jerusalém nunca foi internacionalmente reconhecida e todos os países mantêm as suas embaixadas em Telavive, mas o Donald já deu ordens para que a embaixada americana fosse transferida para Jerusalém. Acontece que os palestinianos reivindicam a zona oriental da cidade como a capital do seu futuro estado e defendem que o estatuto da cidade deva ser discutido nas negociações de paz. O mundo também pensa assim, mas o Donald contrariou tudo e quis lançar mais gasolina na fogueira.

sexta-feira, 22 de dezembro de 2017

Na Catalunha ficou tudo na mesma

Na Catalunha ficou tudo na mesma e, quando assim é, o tempo torna tudo mais difícil ou mesmo muito sombrio para os catalães. Não houve grande surpresa porque as sondagens já apontavam para um resultado deste tipo.
As eleições ontem realizadas deram 70 deputados aos independentistas e 65 deputados aos constitucionalistas, mas enquanto os primeiros obtiveram 2.062.760 votos, os segundos conseguiram 2.211.655 votos, aqui surgindo um primeiro problema em relação à lei eleitoral que dá mais deputados a quem tem menos votos.
O Cyudadanos tornou-se a força mais votada na Catalunha, sendo a primeira vez que uma força constitucionalista ganha as eleições autonómicas. Essa é a única novidade. O partido de Inês Arrimadas venceu em três das quatro grandes cidades catalãs, isto é, Barcelona, Tarragona e Lleida, só não ganhando em Girona. Porém, os seus 37 deputados e os seus possíveis aliados são insuficientes para formar governo, porque o bloco independentista assegurou a maioria absoluta no Parlamento.
Em segundo lugar ficou o exilado Carles Puigdemont que conseguiu 34 deputados e que, com os seus aliados, poderá vir a formar governo. Porém, nesse caso voltaria tudo à situação de grande conflitualidade que se verificou e que levou à aplicação do artigo 155 da Constituição e, certamente, lá teriam que ser marcadas novas eleições.
A imprensa espanhola traça os mais diferentes e improváveis cenários para ultrapassar esta delicada situação, mas há um ponto em que todos estão de acordo: a estratégia de Mariano Rajoy não resultou e foi um desastre. Assim, agora tudo parece passar pela retirada de Rajoy deste processo e a sua substituição por alguém que possa reconciliar e abrir o diálogo na Catalunha, com uma revisão constitucional e uma nova lei eleitoral.
Significa, portanto, que Rajoy se tornou o elo mais fraco desta situação e que o problema da Catalunha passou definitivamente a ser também, mais do antes, um problema da Espanha. Vêm aí tempos muito difíceis para os catalães, para os espanhóis e até para os europeus.

quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Escudo português é brazão de Ceuta

O jornal El Pueblo de Ceuta destaca na sua edição de hoje as declarações de Juan Vivas, o actual alcaide-presidente da Cidade Autónoma de Ceuta, a propósito da criação de um Observatório do Comércio.
Na fotografia que ilustra a reportagem ressalta o escudo português da cidade que, entre 1415 e 1640, esteve integrada no reino de Portugal.
A cidade foi conquistada pelos portugueses no dia 22 de Agosto de 1415 e, mesmo durante os sessenta anos do período filipino (1580-1640), foi governada pelos portugueses a partir de Lisboa, tal como sucedeu com as cidades vizinhas de Tânger e de Mazagão na costa marroquina.
Quando em 1640 ocorreu a restauração da independência portuguesa, a cidade de Ceuta não aclamou o Duque de Btragança como Rei de Portugal e optou por se manter ligada a Espanha, o que veio a ser reconhecido através do Tratado de Lisboa de 1668 que terminou com a guerra da Restauração. Ceuta desligou-se de Portugal mas conservou os seus símbolos, isto é, a bandeira de Lisboa e o brasão de armas português.
Foram 225 anos de ligação a Portugal e, por isso, há diversas memórias portuguesas que perduram em Ceuta, designadamente muralhas e igrejas, embora o escudo e a bandeira da cidade sejam, porventura, os mais simbólicos.

Eleições e o futuro incerto na Catalunha

Hoje vão a votos os 5 milhões e meio de eleitores catalães e o que se deseja é que o façam com opções serenas e sem o peso da carga emocional dos últimos tempos. O passado histórico e a grandeza cultural da Catalunha e da Espanha, ou da Espanha e da Catalunha, exigem essa serenidade.
Segundo as sondagens está tudo em aberto, isto é, verifica-se um empate técnico entre os constitucionalistas e os independentistas ou entre a legalidade autonómica e a tensão soberanista. Da mesma forma, também a escolha da força política mais votada, que em princípio governará a Catalunha, entra no campo das incertezas. Perante esta situação que revela uma enorme fractura social, vão ser o milhão de eleitores indecisos, correspondentes a 20% do eleitorado, que irão decidir hoje o futuro da Catalunha, que só pode passar pela reconciliação e pelo diálogo. Não há alternativa, como se viu quando Puigdemont quis dar uma passada maior do que a perna, trouxe os seus ideais para a rua e acabou quase escondido em Bruxelas.
Além disso, é desejável que as eleições tragam estabilidade às mais de três mil empresas que deixaram a Catalunha perante a ameaça independentista, para que regressem para assegurar a prosperidade e o bem estar dos catalães. Por isso, hoje também se joga o destino económico da Catalunha.
Desejavelmente, o resultado terá que proporcionar condições de diálogo e de reconciliação, que conduzam à satisfação dos catalães que querem ser independentes e dos que não querem ser independentes. Saberemos hoje se Puigdemont e Oriol-Junqueras continuarão a ser as vozes dominantes para continuar com o processo independentista e a sua conflitualidade, ou se surgirão Arrimadas e Iceta como protagonistas de um comportamento mais dialogante, mais construtivo e mais democrático.

quarta-feira, 20 de dezembro de 2017

New Bedford, os Açores e os baleeiros

Em 18548 o cidadão Benjamin Russell exibiu na cidade de New Bedford uma grande pintura feita para um inovador espectáculo que circulava de cidade em cidade e que contava a história da baleação e dos baleeiros. Era um tela com 2,5 metros de altura por 388 metros de comprimento, que era estendida nas paredes interiores de um edifício circular para ser vista pelo público sentado na sala, enquanto girava muito devagar. A apresentação durava duas horas, era companhada musicalmente e tinha uma narração. Estas apresentações eram conhecidas por panoramas e foram verdadeiros precursores do cinema e das experiências tridimensionais.
A tela de Benjamin Russell chamava-se o Grande Panorama de uma Viagem de Baleeiro à Volta do Mundo e mostra um veleiro a sair de New Bedford, a atravessar o Atlântico e a visitar quatro ilhas do grupo central dos Açores (Faial, Pico, S. Jorge e Graciosa), onde os americanos recrutavam pessoal para integrar as suas tripulações e de que resultou a transformação de New Bedford num dos principais polos de atracção da emigração açoriana para os Estados Unidos. A história contada naquele panorama prossegue depois por Cabo Verde, pelo Brasil e pelas estações baleeiras do Índico e do Pacífico Sul, contando muitas histórias que mostravam o desconhecido e o exótico. Foi um grande sucesso e foi exibido durante muitos anos, a última das quais em 1969.
Desde 1918 que este panorama está no New Bedford Whaling Museum, onde é um dos destaques da sua exposição permanente, até porque é provavelmente a maior pintura original do mundo. Porém, a enorme tela sofreu ao longo do tempo o natural desgaste das viagens, quase sempre de comboio, bem como os efeitos de cerca de 120 anos a ser enrolada e desenrolada. Assim, foi agora restaurada e digitalizada, o que vai permitir a sua apreciação e o seu “regresso à estrada”, como aconteceu desde meados do século XIX, se assim for entendido.
A edição de hoje do Diário de Notícias conta toda a história deste panorama e reproduz o trecho da tela que retrata as ilhas do Faial e do Pico. São ilustrações tão simbólicas que não tardará que o Governo Regional dos Açores venha a adquirir uma cópia desse trecho para enriquecer o Museu do Pico e, em especial, a sua extensão nas Lajes do Pico que é o Museu dos Baleeiros.

terça-feira, 19 de dezembro de 2017

A protecção no mar do interesse nacional

O jornal Faro de Vigo destaca hoje na sua primeira página que o governo britânico encomendou cinco novos navios-patrulha militares para, após o Brexit, impedirem o acesso às áreas de pesca situadas dentro da sua Zona Económica Exclusiva (ZEE) de 200 milhas aos navios estrangeiros que não aceitem as suas exigências, em especial no Gran Sol, situado a oeste das Ilhas Britânicas, e nas Ilhas Falklands, localizadas no Atlântico Sul.
O jornal publica uma ilustração que é uma antevisão daquela frota específica que irá constituir um “muro militar da Royal Navy” e, segundo refere, serão navios de 90 metros de comprimento a guarnecer por 70 tripulantes, que disporão de um helicóptero e de drones, estando o seu custo orçamentado em 400 milhões de euros. Significa que, os britânicos se antecipam e que preparam a protecção no mar dos seus interesses nacionais. A História diz-nos que eles sempre foram assim.
A notícia é curiosa e os galegos parecem assustados e o caso não é para menos, porque nas áreas consideradas pelas autoridades britânicas operam cerca de 140 unidades da sua frota pesqueira.
No entanto, a notícia também é muito interessante para Portugal, porque tem uma ZEE com cerca de 1,7 milhões de quilómetros quadrados, que é a 3ª maior da União Europeia e a 11ª do mundo, tendo requerido às Nações Unidas a extensão da sua plataforma continental. A discussão da proposta portuguesa teve início no passado mês de Agosto e, se vier a ser aprovada, poderá duplicar a área da nossa actual ZEE e dar direitos acrescidos sobre os recursos existentes. 
Todos dizem que é um assunto muito importante, mas é caso para perguntar que meios temos actualmente para proteger a nossa ZEE e a sua futura extensão, mas também que estudos estão feitos no sentido de sustentar uma decisão política sobre este assunto. Há alguém que na nossa esfera política se interesse por estas coisas?

domingo, 17 de dezembro de 2017

O rio Tejo está a secar e a perder caudal

A fotografia hoje publicada com grande destaque pelo jornal La Tribuna de Toledo não pode deixar de causar alarme nos espanhóis e nos portugueses que vivem e que, em maior ou menor escala, dependem da bacia do rio Tejo. O rio tem uma extensão de cerca de mil quilómetros e constitui a segunda maior bacia hidrográfica da península Ibérica, mas está a ficar seco e sem caudal em muitos dos seus troços, enquanto as suas apreciadas praias fluviais desapareceram.
A seca deste ano chamou a atenção para a gravidade da situação. O Tejo tem 14 barragens para a produção de energia eléctrica, contribui para o abastecimento de água potável em muitas povoações, refrigera as centrais nucleares e térmicas espanholas e, sobretudo, alimenta o regadio em muitas regiões espanholas através de transvases que levam as suas águas para as regiões de agricultura intensiva de Múrcia, Alicante e Albacete, a partir do transvase Tejo-Segura, que é a maior obra de engenharia hidráulica da Espanha. A par desta sobreutilização, o Tejo ainda é receptor de descargas poluentes de vária natureza, o que agrava os seus problemas.
A fotografia publicada pelo jornal de Toledo é suficiente para nos alertar para a problemática do Tejo e para os problemas da escassez de caudal, da poluição e da radioactividade, mas também é um sinal que nos mostra que é a altura de pedir explicações ao governo espanhol para que alterem a sua política de transvases que tanto prejudicam Portugal.

sexta-feira, 15 de dezembro de 2017

Os temporais nas costas asturianas

A frente atlântica da costa ocidental da Europa é muito exposta aos temporais trazidos pela circulação geral da atmosfera, sobretudo nas costas das ilhas Britânicas, no golfo da Biscaia e na faixa ocidental da península Ibérica.
Daí resulta que, nos meses de inverno, ocorram ondulações muito fortes e ondas muito alterosas que, ao embaterem nas costas mais escarpadas originam grande rebentação. Essas situações da meteorologia marítima são sempre um desafio para a imaginação dos amantes da fotografia, mas também para a imprensa, porque muitas redacções requerem aos seus fotojornalistas as imagens sempre belas do combate entre o mar e a rocha, o que significa que continuam a seguir, e bem, o velho princípio de que uma imagem vale mais do que mil palavras. Ontem, a costa asturiana esteve sob o efeito de vento e ondulação muito fortes que, em alguns casos, superou os nove metros.
Alguns jornais mantém a tradição de publicar esse tipo de fotografias para ilustrar as suas edições e para informar os seus leitores. Assim aconteceu com o diário asturiano La Voz de Avilés que hoje publicou na sua primeira página uma fotografia captada na costa de Luarca, já próximo da Galiza, em que se observa a rebentação do mar e cuja legenda é um aviso para os homens do mar asturianos: “Asturias en alerta por oleaje”. Por isso, há que ser muito prudente antes de ir para o mar.

quinta-feira, 14 de dezembro de 2017

Valência, a cidade das ciências e das artes

Tal como acontece com muitas cidades espanholas, Valência é um museu a céu aberto e essa realidade é perceptível sobretudo na área da moderna Cidade das Artes e das Ciências, onde se destaca a inconfundível obra do arquitecto valenciano Santiago Calatrava e, em especial, o Museu das Ciências Principe Felipe.
Foi exactamente nos espaços adjacentes ao lago artificial do museu que no passado Verão esteve patente ao público uma exposição de seis monumentais cabeças de grandes dimensões do escultor Manolo Valdés, um artista também valenciano de grande cotação internacional, que vive em Nova Iorque. Nessa altura, a presidente da Fundação Hortensia Herrero decidiu doar à cidade uma das seis obras expostas a escolher por votação popular dos valencianos. Os votantes escolheram La Pamela, uma escultura de grandes dimensões que representa uma cabeça de mulher com um chapéu, pela qual a instituição-mecenas pagará 1,7 milhões de euros. Ontem a obra foi desmontada e cuidadosamente embalada, a fim de ser transportada e instalada na Marina de Valência, onde ficará frente ao mar.
O diário Levante deu hoje grande destaque à operação de desmontagem de La Pamela e ao início da operação que vai enriquecer o património arquitectónico e artístico da cidade de Valência. Esta iniciativa mecenática valenciana é exemplar e bom seria que pudesse contagiar alguns agentes económicos portugueses para iniciativas semelhantes, mas sujeitos a critérios de qualidade, até para contrabalançar a obscura política autárquica de encomenda de mamarachos que têm decorado as rotundas das nossas cidades.

A ameaça ao processo de paz na Palestina

Aqui há dias ele acordou com a glicémia muito alta, com a visão embaciada e com tonturas e, sem se cuidar, fez asneira da grossa. Refiro-me ao Donald que decidiu reconhecer a cidade de Jerusalém como a capital de Israel. A decisão, para além de ser contrária às decisões do Conselho de Segurança das Nações Unidas e de perturbar os esforços de paz para o Médio Oriente, foi uma provocação para a Palestina e para o mundo.
As reacções não demoraram, isto é, o primeiro-ministro israelita Benjamin Netanyahu desdobrou-se em manifestações de contentamento e de arrogância, enquanto o presidente Mahmoud Abbas, os palestinianos e o mundo árabe reagiram com protestos e com os primeiros ensaios de contestação violenta à infeliz decisão do Donald, com destaque para o Egipto, a Turquia e o Irão. Num outro patamar de crítica à decisão do presidente americano colocou-se a União Europeia, a Rússia e a China, mas também alguns dos mais próximos colaboradores do Donald.
A imprensa mundial tem dedicado muita atenção aos protestos, em que são queimadas bandeiras americanas e em que se podem observar as primeiras acções de uma anunciada intifada.  Nos países árabes os jornais parecem apelar à contestação e à revolta, mas muitos jornais dos  países ocidentais também parecem seguir o mesmo caminho, como fez o jornal canadiano National Post que se publica em Toronto.
Os países árabes que já condenaram a decisão da administração americana e reuniram em Istambul a sua organização de cooperação, tendo declarado "irresponsável, ilegal e unilateral" a decisão do Donald Trump e considerado que a mesma é "nula e sem efeito", ao mesmo tempo que decidiram reconhecer Jerusalém Oriental como a capital ocupada da Palestina e apelaram ao mundo para que adoptasse a mesma medida.
O que vai seguir-se é mesmo uma incógnita, mas o processo de paz parece que naufragou ou, pelo menos, está encalhado.

quarta-feira, 13 de dezembro de 2017

O jornalismo de sarjeta em Portugal

De vez em quando acontece em Portugal a denúncia pública feita por um qualquer jornal ou estação de televisão de irregularidades ou anomalias que são detectadas, sobretudo quando há dinheiros públicos envolvidos e a suspeita de corrupção. Quando isso sucede, o que é raro, temos o jornalismo numa das suas mais nobres missões, isto é, como um exercício do dever deontológico e social de informar com verdade e com objectividade. Esse jornalismo, que é conhecido como jornalismo de investigação, procura esclarecer situações desconhecidas e escondidas do público e é desejável para detectar desvios à legalidade, mas tem que ser feito com regras precisas e não como uma prática de quase perseguição policial, como aquelas a que por vezes se assiste para iludir as audiências, para servir interesses pouco claros ou para exercer vinganças. Depois de um jornal ou de uma estação de televisão denunciar um caso, deverão ser outras instâncias, designadamente judiciais, a entrar em acção para averiguações e não poderá ser o jornalismo a fazer exercícios de julgamento ou de linchamento. O que está a acontecer com muita frequência na nossa sociedade é a condenação na praça pública de culpados ou de inocentes, que é feita pelos mass media através da desonesta manipulação da opinião pública e com o objectivo de conquistar audiências. Isso não é próprio de um Estado de Direito.
Acontece que os mass media se têm transformado em verdadeiros centros de produção de conteúdos e consumíveis mediáticos destinados a um mercado/audiência que procura sensacionalismo, em que o lucro é o valor essencial, em detrimento da ética, da deontologia e da função social dos jornalistas que, tantas vezes, se apresentam escandalosamente servis e submissos ou, inversamente, com excessos de agressividade. Escolhida a vítima, todos se comportam como um bando de abutres esfomeados para manter o caso em agenda. Servem o dono e alimentam o sensacionalismo. Seguram o seu emprego. Não percebem onde acaba a sua nobre missão de informar. São um perigo para a sociedade.
O caso da associação Raríssimas é mais um bom exemplo. Denunciado o caso, que aparenta ter muita gravidade,  é altura de uma averiguação rápida e objectiva a fazer por quem tem essa obrigação. Não são toleráveis os excessos dos jornalistas que geram alarme social, nem são necessários mais detalhes, nem mais tempo a intoxicar as audiências. Já todos percebemos. O linchamento na praça pública que é feito antes de uma acusação fundamentada e de uma condenação por quem o deve fazer, já não é jornalismo de investigação. É jornalismo de sarjeta.

terça-feira, 12 de dezembro de 2017

A guerra do Brasil é contra a violência

Na sua edição de hoje, o jornal O Globo que se publica no Rio de Janeiro, inicia uma reportagem sobre “a guerra do Brasil”, que ilustra na sua edição online com um expressivo documentário de cerca de 14 minutos sobre a violência no país.
A partir da triste realidade de terem sido assassinadas 786 mil pessoas no Brasil entre 2001 e 2015, significando que nesse período se registou um homicídio em cada 10 minutos, a reportagem aborda este drama brasileiro ou esta guerra em que o Brasil está envolvido.
Assim, a reportagem considera que o número total de mortos na guerra da Síria (331 mil) e na guerra do Iraque (268 mil), é inferior ao número de mortes por homicídio ocorridos no Brasil nos últimos 15 anos, o que mostra que a violência mata mais do que a guerra.
A violência no Brasil tem crescido nos últimos anos a um ritmo mais intenso do que o próprio crescimento da população e, em cada ano, já se contabilizam mais de 60 mil homicídios, sendo no Estado do Rio de Janeiro que a situação é mais grave. Mesmo nos países mais populosos do mundo, como a China ou a Índia, este drama não tem a gravidade que está a ter no Brasil.
Embora esta situação resulte de factores sociais muito diversos, incluindo a pobreza e a desigual distribuição do rendimento nacional, a reportagem sugere que o fenómeno está relacionado com a ausência de políticas públicas que tratem o problema da segurança em articulação com as questões sociais da pobreza e da exclusão.
Porém, a instabilidade política no Brasil tem sido tão grande que é difícil imaginar o desenvolvimento de uma estratégia nacional contra a violência, tal como contra a pobreza, a fome ou a corrupção, porque todas essas estratégias obrigam a atacar as raízes dos problemas e, naturalmente, a atacar muitos interesses instalados.

domingo, 10 de dezembro de 2017

A incerteza das eleições da Catalunha

Aproxima-se o dia 21 de Dezembro, o dia em que os catalães vão a votos para escolher um novo quadro político que possa contribuir para a resolução do conflito nascido nos últimos meses e que se agravou nas últimas semanas, quando o parlamento catalão proclamou a independência unilateral da Catalunha. Como resposta, o governo de Mariano Rajoy accionou o artigo 155 da Constituição, suspendeu a autonomia catalã, demitiu o governo de Carles Puigdemont e marcou novas eleições autonómicas para o dia 21 de Dezembro. Entretanto, os principais dirigentes soberanistas foram presos, ou estão em liberdade condicional depois de terem pago cauções, ou ainda, estão exilados em Bruxelas.
Ao fim da primeira semana de campanha eleitoral, começam a ser divulgadas algumas sondagens e as projecções apontam para um empate técnico entre soberanistas e unionistas. No campo independentista as sondagens apontam para 66 ou 67 dos 135 deputados (31 ou 32 da ERC, 30 da Coligação Junts pel Si e 5 da CUP), enquanto nas forças unionistas apontam para 68 ou 69 deputados (30 ou 31 dos Cyudadanos, 22 do PSC, 8 do PP e 8 do Podemos).
Para além da incerteza quanto ao bloco que vai obter a maioria parlamentar, também há uma grande incerteza quanto ao partido que vai ser mais votado, isto é, a ERC, o JxCat ou o Cys, pelo que, neste quadro de incerteza, o diário catalão elPeriódico alerta para uma possível Catalunha ingovernável.
Associadas às sondagens foram colocadas questões aos eleitores catalães e verificou-se que 70% admite que a economia catalã se ressentiu da Declaração Unilateral de Independência, que 57% confia em que se abra uma negociação com Madrid e que 46% acredita que o processo independentista continuará depois de 21 de Dezembro. Portanto, parece que depois de 21 de Dezembro, continuaremos com a Catalunha nas primeiras áginas dos jornais e como notícia de abertura dos telejornais das boas televisões se as houver.

sexta-feira, 8 de dezembro de 2017

Trump já ultrapassou a linha vermelha?

A decisão de Donald Trump de reconhecer a cidade de Jerusalém como a capital do Estado de Israel e de para lá transferir a Embaixada dos Estados Unidos chocou o mundo e provocou reacções políticas e religiosas muito críticas e muito preocupadas.
O problema da coexistência entre Israel e a Palestina é, porventura, um dos maiores casos de conflitualidade que o mundo conhece e uma situação de potencial confronto generalizado, porque o estatuto de Jerusalém constitui uma questão central no conflito israelo-palestino.
Jerusalém é uma das mais antigas cidades do mundo e é considerada uma cidade sagrada por três das principais religiões, respectivamente o judaismo, o cristianismo e o islamismo. Por isso, no plano das Nações Unidas que levou à criação do Estado de Israel em 1948, a cidade de Jerusalém ficou com o estatuto de cidade internacional. Porém, nesse ano e na sequência da 1ª guerra israelo-árabe, a cidade foi ocupada por israelitas (Jerusalém Ocidental) e por jordanos (Jerusalém Oriental), mas em 1967 os israelitas ocuparam toda a cidade durante a Guerra dos Seis Dias. Israel tratou então de ocupar efectivamente a cidade e fazer dela a sua capital, mas a comunidade internacional rejeitou a anexação de Jerusalém Oriental e considerou essa parte como território palestiniano ocupado ilegalmente por Israel. Nesse sentido, em 1980 o Conselho de Segurança das Nações Unidas, através da sua Resolução 478, convidou todos os países a retirar as suas embaixadas de Jerusalém para Telavive. E assim aconteceu, pelo que não há quaisquer embaixadas em Jerusalém, que é a cidade onde a Palestina espera instalar a sua capital, o que mostra como é muito sensível este problema.
A decisão de Donald Trump parece ter resultado de problemas internos e de uma tentativa de recuperar o apoio do seu eleitorado mais radical, sobretudo os evangélicos conservadores mas também, embora em menor número, os judeus americanos.
As negociações de paz entre Israel e a Palestina estão seriamente comprometidas e o diário Gulf News que se publica no Dubai, ilustrou a sua primeira página com uma fotografia da cidade de Jerusalém, na qual aparece em plano destacado a cúpula dourada do milenar Domo da Rocha na cidade velha, que é um dos mais sagrados locais do Islão e um aviso que é esclarecedor: Trump ultrapassou a linha vermelha.
O mundo árabe está revoltado e já reagiu. Será que o Donald ultrapassou mesmo a linha vermelha?

Mais um troféu para Cristiano Ronaldo

Cristiano Ronaldo ganhou ontem pela 5ª vez o Ballon d’Or atribuido pela revista France Football e igualou o talentoso argentino Lionel Messi que antes conquistara cinco troféus. Os jornais desportivos portugueses e espanhóis destacaram a notícia e a fotografia de Cristiano Ronaldo encheu várias primeiras páginas, como por exemplo no diário madrileno as.
A atribuição de prémios de prestígio internacional a Cristiano Ronaldo transformou-se numa rotina que se sucede anualmente, não tanto por ser o melhor do mundo – uma coisa que não pode ser comprovada – mas por recolher simpatias e votos da comunidade futebolística mundial, como aconteceu agora ao recolher mais pontos numa votação exclusiva a  jornalistas de todo o mundo. Os 173 votantes deram 946 pontos a Cristiano Ronaldo, enquanto os seus rivais Messi e Neymar somaram 670 e 361 pontos, respectivamente.
É cada vez mais difícil contabilizar os prémios que o artista-futebolista do Funchal já recebeu entre Bolas e Botas vindas da FIFA, da UEFA e de outras organizações. É notável! O facto  indesmentível é que Cristiano Ronaldo é o português mais famoso que o mundo conhece e que ontem, num espectacular cenário, apareceu no centro da Torre Eiffel em Paris com o seu quinto Ballon d’Or. Foi isso o que o mundo viu.
Milhões de pessoas assistiram a um grande espectáculo televisivo e o prestígio de Portugal subiu mais uns pontos a reboque de Cristiano Ronaldo. O meu aplauso!

quinta-feira, 7 de dezembro de 2017

Os bonecos de Estremoz são património

A 12ª Reunião do Comité da UNESCO para a Salvaguarda do Património Cultural Imaterial que está a decorrer na Coreia do Sul, classificou hoje a produção dos “Bonecos de Estremoz”, como Património Cultural Imaterial da Humanidade.
Os “Bonecos de Estremoz” são parte de uma arte de carácter popular com mais de três séculos de história documentada, tendo sido o primeiro figurado do mundo a receber a aquela classificação, na sequência da candidatura apresentada pela Câmara Municipal de Estremoz.
A técnica de fabrico consiste na modelação manual de figuras em barro cozido e policromado, sendo conhecidas mais de uma centena de diferentes figuras que estão inventariadas. Segundo foi indicado pelos promotores da candidatura, dedicam-se a esta arte mais de uma dezena de artesãos do concelho de Estremoz. Depois da classificação do fado, da dieta mediterrânica, do cante alentejano, do fabrico de chocalhos, do barro preto de Bisalhães e da falcoaria portuguesa, a identidade cultural portuguesa sai reforçada com a decisão tomada pela UNESCO na Coreia do Sul. Seria muito interessante que este tipo de distinções contribuíssem para a valorização do artesanato das regiões do interior e, dessa forma, se tornassem num factor adicional de atracção de pessoas, actividades e recursos  e, consequentemente, de combate à desertificação do nosso território.

quarta-feira, 6 de dezembro de 2017

Iémen: a guerra que todo o mundo ignora

Desde Março de 2015 que está acesa uma guerra civil no Iémen que tem os seus fundamentos próprios e as suas características particulares, mas que se inscreve na chamada Primavera árabe de 2011. A mais recente edição do The Economist aborda esse tema como “the war the world ignores”.
O Iémen situa-se no extremo sudoeste da península arábica, tem 527 mil km2 de superfície o que significa que é maior do que a Espanha, tem 28 milhões de habitantes e controla a entrada do Mar Vermelho no estreito de Bab el Mandeb.
O actual conflito nasceu das divergências entre dois grupos que reivindicam o poder no Iémen, respectivamente as forças leais ao presidente Abd Rabbuh Mansur Hadi que dominam a área de Aden e as forças leais ao ex-presidente Ali Abdullah Saleh, maioritariamente constituídas pelos Houthis. Estas forças serão apoiadas pelo Irão, Eritreia, Rússia e Coreia do Norte, enquanto as forças de Hadi são apoiadas por uma coligação liderada pela Arábia Saudita, em que participam Bahrein, Egipto, Jordânia, Kuwait, Emirados Árabes Unidos, Marrocos, Qatar e Sudão, com o apoio dos Estados Unidos. Os dois grupos ou facções não são mais que uma extensão da conflitualidades entre xiitas e sunitas ou, entre o Irão e a Arábia Saudita.
A situação no terreno não é bem conhecida mas parece que os Houthis controlam a capital Sanaa, enquanto as forças de Hari controlam a cidade de Aden. Embora os Houthis sejam os responsáveis pelo início desta guerra, as forças sauditas, ou apoiadas pelos sauditas, são acusadas de crimes de guerra, sobretudo por bombardeamentos aéreos sobre mercados, escolas, hospitais e mesquitas.
Diz-se que os Houthis são muito fracos para dominar o Iémen, mas que são muito poderosos para serem derrotados pela Arábia Saudita, pelo que a guerra prossegue. As organizações humanitárias internacionais têm denunciado a gravíssima crise que se vive no país e alguns países ocidentais que deveriam promover a paz, estão a ser acusados de entrar nesta guerra para alimentar os seus negócios de armamento com os sauditas e seus aliados, sobretudo com a venda de aviões e de munições. Porém, o mundo parece ignorar esta guerra.

terça-feira, 5 de dezembro de 2017

Uma grande vitória para Mário Centeno

O Ministro Mário Centeno foi ontem eleito para presidir ao Eurogrupo, um grupo informal dos Ministros das Finanças dos Estados-membros da União Europeia cuja moeda oficial é o euro, que se reune mensalmente para ajustarem a coordenação das suas políticas económicas. Assim, a partir do próximo dia 13 de Janeiro, Mário Centeno substituirá o holandês Jeroen Dijsselbloem e desempenhará a função de presidente do Eurogrupo nos próximos dois anos e meio.
É um motivo de satisfação para Portugal e um enorme elogio para a política orçamental portuguesa e, sobretudo, para Mário Centeno. Ele é um dos raros portugueses doutorados em Harvard, por acaso a primeira ou segunda melhor universidade do mundo na área económica e, por isso, tem uma qualidade académica bem diferente da ignorância exibida por outros economistas que por aí circulam. O Finantial Times, em título de primeira página, escreveu que "Centeno wins race to be eurogroup head" e começa a noticia da seguinte maneira: "Harvard educated economist Mario Centeno...". Portanto, a sua eleição é o reconhecimento da credibilidade do governo portugués e da forma como foi preparada a candidatura, mas também da qualidade académica do candidato, um aspecto que por cá tem sido muito pouco salientado.
Muitos políticos e comentadores, provavelmente dominados pela tradicional inveja lusitana, têm posto em causa esta escolha, duvidando da capacidade de se ser, simultaneamente, presidente do Eurogrupo em Bruxelas e ministro das Finanças em Portugal. Porém, Mário Centeno tem respondido a esses profetas, que até parece que gostavam que as coisas corressem mal para por uma vez terem razão, com a sua sobriedade habitual e até garantiu que o seu novo cargo nada muda na relação com os parceiros parlamentares portugueses. A escolha de Centeno é uma valente bofetada em Cavaco Silva, Passos Coelho, Marques Mendes, Carlos Costa e nessas figurinhas menores que são Teodora Cardoso e Maria Albuquerque, porque todos eles desconfiaram da capacidade de Centeno, ao contrário de Merkel e de Macron. Grande Centeno!
Independentemente dessas vozes “que não chegam ao céu”, o facto é que com Mário Centeno a presidir ao Eurogrupo, a imagem e a credibilidade de Portugal no mundo melhoram consideravelmente e o país bem precisa disso, depois de vários anos em que se deixou humilhar.
Wolfgang Schäuble tinha razão: Mário Centeno é mesmo o “Ronaldo do Ecofin”.

O Brexit é mais difícil do que se pensava

Num referendo realizado em Junho de 2016 verificou-se que 51,9% dos britânicos votaram pela saída da União Europeia, pelo que governo iniciou um processo de negociações conhecido por Brexit. Nesse processo, as dificuldades têm sido enormes, não só pela estreita margem de votos que levou à decisão de saída, mas também pelas diferentes opções dos quatro “países constituintes” do Reino Unido, respectivamente a Escócia, Gales, a Inglaterra e a Irlanda do Norte.
Ontem, numa reunião em Bruxelas encontraram-se o presidente da Comissão Europeia Jean-Claude Juncker e a Primeira-Ministra britânica Theresa May, tendo como agenda a discussão do futuro dos cidadãos europeus que vivem no Reino Unido e dos britânicos que vivem na União Europeia, isto é, as questões da livre circulação de pessoas e mercadorias, bem como o futuro do livre comércio.
Porém, acontece que na única fronteira terrestre do Reino Unido, que separa a República da Irlanda da Irlanda do Norte, poderão vir a ser reinstalados os normais controlos fronteiriços, o que altera substancialmente a vida dos cidadãos da Irlanda do Norte, que até votaram maioritariamente contra o Brexit. Daí que se procure um estatuto de excepção para a Irlanda do Norte diferente do resto do Reino Unido, mas essa solução foi vetada pelo DUP (Democratic Unionist Party) que é o quarto maior partido britânico e que suporta o governo de Theresa May, que não aceita qualquer solução que afaste Belfast de Londres. Porém, essa hipótese de estatuto de excepção e de permanência no mercado único agrada aos que estiveram e estão contra o Brexit, sobretudo os escoceses e a cidade de Londres, que votaram maciçamente pela permanência na União Europeia. Com este imbroglio, Theresa May saíu derrotada e humilhada. Não houve acordo e essa foi a notícia do dia da imprensa britânica. Entretanto, muitos britânicos, com Tony Blair à cabeça, pedem um segundo referendo porque "as pessoas têm o direito de mudar de ideias".

segunda-feira, 4 de dezembro de 2017

A super-Lua de que os americanos gostam

Aconteceu ontem que o nosso satélite natural esteve, em simultâneo, em fase de Lua Cheia e no ponto da sua órbita mais próximo da Terra, o chamado perigeu, isto é, a uma distância de 357.492 quilómetros. A coincidência dessas duas situações não é frequente mas suscita muita curiosidade porque a Lua aparenta ser maior do que o habitual, sobretudo quando está próxima do horizonte, mas essa impressão é apenas uma ilusão de óptica.
O fenómeno é conhecido como a super-Lua. As super-Luas não são um fenómeno inédito, podendo acontecer várias vezes por ano e, muito proximamente, nos dias 1 e 31 de Janeiro de 2018, voltarão a acontecer e a Lua aparecerá na esfera celeste e parecerá ser 14% maior e 30% mais brilhante, segundo informam os observatórios astronómicos.
O acontecimento é muito apreciado pelos profissionais e pelos curiosos da fotografia e, embora tivesse sido possível observá-lo em todo o mundo, parece que só os grandes jornais americanos não se dispensaram da publicação de uma fotografia da super-Lua. Assim aconteceu com o The Wall Street Journal, mas também com o The Washigton Post e o USA Today, por exemplo, que nas suas edições de hoje publicaram na sua primeira página uma fotografia da Lua a transitar em Washington sobre o Capitólio. O interesse destes jornais pela super-Lua reflecte apenas o interesse dos seus leitores, isto é, os americanos gostam como ninguém da super-Lua.

sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

A tragédia que tanto enlutou a Argentina

Sem surpresa, a Marinha da Argentina anunciou ontem que dava por terminada a operação de busca e resgate dos 44 tripulantes do submarino ARA San Juan, desaparecido desde há duas semanas no Atlântico Sul, por já ter passado "mais do que o dobro do tempo de busca” recomendado pelas práticas internacionais nestas situações.
Significa que as autoridades argentinas consideram que a guarnição não sobreviveu ao episódio ocorrido no dia 15 de Novembro, quando o submarino navegava de Ushuaia para a sua base em Mar del Plata e que, infelizmente, não há vidas para salvar.
No entanto, as operações de busca prosseguem para que o submarino possa ser localizado e, desde que foi anunciado o seu desaparecimento, têm estado envolvidos navios e aviões de inúmeros países com as mais desenvolvidas tecnologias utilizadas nestas emergências, estando anunciado o envolvimento nesta operação de 28 navios, nove meios aéreos e cerca de quatro mil pessoas. Trata-se, portanto, de uma operação multinacional em larga escala que está em marcha com a solidariedade que caracteriza a comunidade marítima.
Qualquer ocorrência marítima em que se perdem vidas humanas é sempre trágica, mas no caso do desaparecimento do submarino ARA San Juan torna-se dramática, pela longa e dolorosa ansiedade dos familiares dos tripulantes que durante vários dias esperaram por notícias. Ontem a Marinha da Argentina anunciou a má notícia e, hoje, o jornal Crónica que se publica em Buenos Aires, presta homenagem aos 44 submarinistas argentinos e classifica-os como heróis.
A Argentina emocionou-se e está de luto.