segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

MRS: personalidade portuguesa do ano

Como é habitual, a comunicação social está a fazer um balanço do ano que hoje termina, escolhendo os acontecimentos internos e internacionais mais relevantes e elegendo as personalidades que no seu entendimento mais se destacaram. São coisas subjectivas, mas no que respeita à personalidade portuguesa do ano parece haver uma unanimidade em torno da figura de Marcelo Rebelo de Sousa.
O jornal i fez um curioso estudo que intitulou “por onde andou Marcelo em 2018” e publicou-o com uma infografia apropriada e sugestiva.
O actual Presidente da República é conhecido por estar em todo o lado e, de facto, ele tem sido uma presença assídua e frenética nos locais e circunstâncias mais ou menos difíceis, como na tragédia de Borba, nos incêndios de Monchique ou nos funerais das vítimas do acidente com o helicóptero do INEM. Fala com Trump e com Putin, recebe Xi Jimping e abraça João Lourenço e Filipe VI. Visita escolas, hospitais e centros de terceira idade, vai a concertos, passa férias no interior do país e é uma presença diária na televisão, onde fala de tudo como se ainda fosse comentador. Está-lhe no sangue e não consegue resistir quando vê um microfone à sua frente, mas por vezes fala demais e embaraça o governo, com o qual deveria ser solidário. É certo que Marcelo Rebelo de Sousa diz sempre o que o povo gosta de ouvir e que é cada vez mais o seu provedor, mas também é verdade que com as selfies, os abraços e os beijos que distribui por todos, é cada vez mais um caso raro de popularidade ou talvez mesmo de populismo, sobretudo quando as câmaras e os microfones estão por perto. 
Se em relação à nomeação da procuradora-geral da República ou no caso de Tancos conseguiu vencer a ondulação social e os ventos que sopravam, a sua recente espécie de veto ao orçamento do Estado, por causa das reivindicações dos professores, é um desafio ao governo. Esperemos que “o caldo não se entorne” porque, no nosso sistema constitucional, o governo e o presidente não têm que estar de acordo... mas não podem estar em desacordo.  
Em suma, eu também elejo Marcelo Rebelo de Sousa como personalidade portuguesa do ano e até lhe dou uma boa nota, não só por mérito dele, mas também por contraste com o traste que o antecedeu.

As televisões são as gazetas das aldeias

Na próxima noite o nosso calendário vai deixar cair o ano de 2018 e abre a página do novo ano de 2019. Como sempre, as nossas televisões irão mostrar o fogo de artifício em Sydney, mais algumas corridas de São Silvestre e tratarão de mandar os seus estagiários para a porta do Hospital de São José para saber o nome da primeira criança que vai nascer no novo ano. Há dias, esses mesmos estagiários ao serviço das suas televisões, andaram pela estação de Santa Apolónia a entrevistar emigrantes que tinham vindo passar o Natal a Portugal para saber das suas emoções ou andaram pelas ruas de Coimbra a interrogar os transeuntes que tinham deixado as compras de Natal para a última hora. Tudo notícias bem dignas de uma renascida Gazeta das Aldeias, desta vez em formato televisivo.
É realmente lamentável o estado de decadência a que, no campo da sua função noticiosa, chegaram as nossas televisões, porque simplesmente não dão notícias e estão instrumentalizadas pela mediocridade e pelo provincianismo. Todas, sem excepção, alinham no mesmo grau de vulgaridade e ninguém percebe o que fazem aqueles que nas redacções se dizem jornalistas. Os directos são fantasias de estagiários sem qualquer interesse, em que não há respeito pela privacidade de ninguém e vale tudo em nome do espectáculo. As discussões sobre futebol são uma verdadeira obscenidade televisiva, tal como as ridículas conferências de imprensa dos treinadores de futebol. Os debates políticos com os comentadores residentes parecem combinados e são uma tortura para o telespectador. Os comissários políticos estão cada vez mais infiltrados na programação televisiva, por vezes disfarçados de pivots de telejornais. O noticiário internacional quase não existe ou aparece como informação marginal, enquanto o noticiário cultural ou científico desapareceu. É triste e desmoralizante ver e ouvir os longos noticiários destas gazetas das aldeias e o seu rol de banalidades, alimentadas por redacções que não querem investigar, em que as pseudo-notícias são repetidas dezenas de vezes ao longo do dia e que são lidas por papagaios como se fossem novidade. As nossas televisões são, cada vez mais, uma tragédia cultural. E, como dizia o outro, mais não digo...

domingo, 30 de dezembro de 2018

Greves, protagonismos e acção política

O actual governo, que foi constituído através de uma coligação que acabou com aquela coisa sectária e anti-democrática que era o arco da governação, já está em funções há mais de três anos e nunca precisou de orçamentos rectificativos para manter o equilíbrio das Finanças Públicas, nem para reduzir o défice público e recuperar o rendimento dos trabalhadores ou para criar as condições de confiança necessárias à criação de emprego.
Enquanto alguns países da Europa vivem situações de grande instabilidade política e social, neste canto ocidental da Europa parecia reinar a calma, a harmonia e o progresso. Costa e Marcelo pareciam um dupla feliz.
Porém, como vamos ter eleições em 2019, os partidos, os sindicatos e outras forças sociais começaram a perder a cabeça e a criar uma das maiores crises da história da democracia portuguesa, recorrendo a inúmeras greves que não são feitas contra o patrão explorador na lógica sindicalista, mas apenas numa lógica do bota-abaixismo contra o governo, que representa o Estado ou que somos todos nós. Os directórios partidários e sindicais não olham a meios para atingir os seus fins e decidiram que vale tudo. Querem poder. Então, temos enfermeiros, professores, bombeiros, guardas prisionais, juízes, funcionários judiciais, tecnicos de diagnóstico e por aí adiante, a mostrar ter mais olhos que barriga e a revelar que têm uma ganância e um egoísmo ilimitados, tornando-se facilmente instrumentalizados para estas situações. Querem dinheiro.
Aí temos uma aliança entre os que querem poder e e os que querem dinheiro, em que esquerdas e direitas se aliam. Há motivos para alarme quando a paz social é perturbada por protagonistas como Jaime Marta Soares, António Ventinhas, Ana Rita Cavaco, Mário Nogeira, Arménio Carlos e outros dirigentes, que tudo põem em risco por causa dos seus interesses pessoais, corporativos ou eleitorais. Há motivos para alarme quando os grevistas são pagos por fundos anónimos. Há motivos para alarme quando são os utentes dos serviços públicos os mais prejudicados com as greves. Há motivos para alarme quando as hostes fundamentalistas da Cristas se aliam a tudo o que mexe contra o governo, inclusive aos coletes amarelos portugueses. Naturalmente, o governo terá que dar respostas a esta gente, uns com razão e outros sem razão, esperando-se que não decida ir até Belém para entalar muita gente e entregar as soluções ao voto do povo.

sábado, 29 de dezembro de 2018

A ascensão da China como marca global

A forma errática como a Administração Trump tem conduzido a sua política externa tem sido aproveitada pela China que, em cada dia, reforça as suas posições como potência económica global. Daí tem nascido uma crescente rivalidade e uma guerra comercial entre as duas potências que prossegue em escalada, com o Donald a aumentar as taxas aduaneiras sobre os produtos chineses e Xi Jimping a retaliar com impostos sobre os produtos americanos. Muitos analistas consideram que a disputa já atingiu níveis perigosos e o Der Spiegel diz mesmo que o conflito com a China já é uma ameaça, enquanto ilustra a sua última edição do ano com uma sugestiva imagem em que a China aparece a tomar o lugar dos Estados Unidos.
O Donald tem-se conduzido com base na ideia de que os Estados Unidos são os donos do mundo e daí as grosseiras polémicas que tem levantado com muitos líderes mundiais e até no seio da sua própria administração. Agora veio declarar que “chegou a hora de fazer frente à China” para que esta permita uma balança comercial mais equilibrada, abra os seus mercados e garanta o respeito pela propriedade intelectual, mas afirma-se com tal arrogância e falsa de senso que a sabedoria chinesa não se assusta.
Noutro plano, o Donald também não vê com bons olhos o protagonismo económico chinês em ascensão e a sua estratégia de investimento estrangeiro. Depois das ondas de investimentos na própria China, na Europa e na América (em que Portugal foi uma das escolhas do dragão chinês) e na África (onde a sua presença em Angola e Moçambique é relevante), a China prepara uma quarta onda de investimentos na América Latina, que faz parte da Nova Rota da Seda chinesa e onde vê um enorme potencial de recursos e de mercado. Além disso, a presença chinesa na América Latina é crescente nos planos científicos e culturais e a generalidade dos países sul-americanos já trocou Taipé por Pequim. A República Popular da China afirma-se cada vez mais como uma marca global e, nem o Donald, nem os americanos, estão a gostar nada disso.

quinta-feira, 27 de dezembro de 2018

Os falsos amigos que traem o Curdistão

A recente declaração de Donald Trump sobre a retirada das tropas americanas da Síria, veio recolocar o problema curdo no primeiro plano da problemática do Médio Oriente.
Os curdos constituem uma nação com cerca de 30 milhões de habitantes que ocupa uma área aproximada de 500 mil km2, distribuída pelo território da Turquia, Síria, Iraque e Irão, mas por circunstâncias históricas diversas nunca possuiram um Estado independente, reconhecido pela comunidade internacional. Dito de outra maneira, o Curdistão é um imenso território ocupado pela Turquia, pela Síria, pelo Iraque e pelo Irão e todas as tentativas que fizeram para unir os vários curdistões foram reprimidas por Sadam Hussein, por Bashar al-Assad, por Recep Tayyip Erdoğan ou pelos ayatollah iranianos.
Na complexa questão que é a guerra na Síria, através das suas Unidades de Protecção Popular ou YPG, os curdos sírios assumiram-se como os principais adversários do Daesh, beneficiando de apoios externos, nomeadamente dos Estados Unidos e da França, mas tiveram sempre a hostilidade da Turquia.
Recentemente, entre o apoio aos curdos e as boas graças do aliado turco, os Estados Unidos escolheram a Turquia. Agora são os franceses que, pressionados pelos turcos, hesitam entre a continuação do apoio a um parceiro que tão bons serviços prestou no terreno contra o Daesh ou o alinhamento com os turcos, cuja intenção não declarada é calar as aspirações independentistas curdas no seu próprio território.
O jornal católico francês La Croix analisa hoje o dilema com que está confrontada a França em relação aos curdos e à Turquia. Se Macron disse de Trump que "um aliado deve ser confiável", que dirá o mundo se o Emmanuel seguir as pisadas do Donald e abandonar os curdos?

quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

A voz do Papa que condena o consumismo

Apesar de todas as controvérsias que nos últimos tempos têm atormentado a Igreja Católica, a voz do Papa continua a ter uma enorme força sobre toda a Humanidade.
Com 82 anos de idade, o cidadão argentino Jorge Mario Bergoglio que é o 266º Papa da Igreja Católica e o actual Presidente da Cidade Estado do Vaticano, tem enfrentado grandes dificuldades internas e externas em relação ao seu pontificado, mas tem procurado governar a Igreja com muita prudência, o que lhe tem permitido manter-se como uma voz que defende os mais desfavorecidos e que ninguém consegue ignorar.
Ontem, durante a missa do Galo, que é celebrada na noite de Natal, o Papa Francisco apelou para que não se caísse no consumismo e no egoísmo e para que “as pessoas reflectissem sobre o que realmente precisam e, assim, possam prescindir do que é supérfluo e partilhar o seu pão com os que não têm”. Depois, na missa do Natal voltou ao mesmo tema e criticou o consumismo e a ganância na época do Natal, bem como a “voracidade insaciável” dos homens. O jornal francês Le Figaro foi um dos periódicos que, na sua edição de hoje, destacou as palavras do Papa Francisco.
Porém, esta visão franciscana e solidária do Papa que os homens de boa vontade aplaudem, confronta-se com a lógica económica que estimula o consumo, que incentiva a produção, que cria emprego e que promove o equilíbrio social. Se houver menos consumo, haverá menos produção, menos emprego e mais instabilidade social. Por isso, a questão do consumo é um verdadeiro dilema.
Nas suas intervenções natalícias, o Papa também pediu para se estabeleça o diálogo para que os grandes conflitos que perturbam a Humanidade tenham soluções justas e citou a Palestina, a Síria, o Iémen, a península coreana, a Venezuela e a África.

terça-feira, 25 de dezembro de 2018

A tradição do Natal já não é o que era

Hoje foi o Dia de Natal e, segundo a tradição cristã, celebrou-se por todo o mundo o nascimento de Jesus Cristo. Trata-se de uma das mais importantes datas da liturgia da Igreja Católica, mas nas últimas décadas a festa religiosa tem-se transformado numa festa profana em que os tradicionais símbolos do presépio e do Menino Jesus foram acrescentados ou substituídos pelas luminosas árvores de Natal “made in China”, pelo Pai Natal que viaja de trenó e já não desce pela chaminé, assim como por outros símbolos natalícios, sobretudo gastronómicos, que têm alterado o significado do Natal. 
No entanto, o Natal ainda permanece como a festa das famílias e dos amigos, dos votos pela paz no mundo e da solidariedade para com os mais desfavorecidos, embora venha derivando cada vez mais para um sentido consumista e mercantil, de que a troca de presentes muito bem embrulhados, muitas vezes sem que satisfaçam qualquer necessidade dos presenteados, seja o seu aspecto mais visível. Criou-se uma verdadeira indústria do Natal com base no culto do desperdício e da inutilidade, em que as pessoas cedem aos mais primários instintos consumistas sob a capa da festa do Natal e, sobre a pressão dos interesses comerciais, deixou de ser uma festa eminentemente religiosa. Hoje, o Natal é celebrado pelos cristãos e pelas outras religiões, porque a lógica consumista é realmente um fenómeno global.
Por tradição, no Dia de Natal não são publicados jornais, mas a generalidade da imprensa americana e francesa não segue esta regra e aproveita este dia para saudar os seus leitores com os seus votos de Boas Festas. Porém, o que é curioso é o que acontece na Malásia que, sendo um país muçulmano, também adoptou o Natal do consumo e do desperdício com grande intensidade. Assim, a edição de hoje do jornal Star que se publica em Kuala Lumpur, publica a fotografia de animados Pais Natais malaios a toda a largura da sua primeira página. Até parece um paradoxo.
Efectivamente, a tradição do Natal já não é o que era.

segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Os tsunamis que perseguem a Indonésia

No passado sábado ocorreu um tsunami no estreito de Sunda que separa a ilha de Samatra da ilha de Java e, segundo os dados já apurados, registaram-se 373 mortos e mais de 1400 feridos, havendo ainda mais de uma centena de desaparecidos. Uma vez mais a Indonésia está de luto. Na memória do mundo ainda está a grande catástrofe de 2004, quando um sismo na região de Aceh, na ilha de Samatra, gerou um tsumani que afectou todo o oceano Índico e matou cerca de 230 mil pessoas.
A Indonésia fica situada sobre o chamado anel de fogo do Pacífico, uma extensa área em forma de ferradura de cerca de 40 mil quilómetros onde se regista intensa actividade geológica, que dá origem a sismos e vulcões e, por vezes, a tsunamis. Nenhum outro país tem sido vítima dos tsunamis como a Indonésia.
Habitualmente um tsunami está associado a um sismo, mas neste caso resultou da erupção do Anak Krakatoa, uma ilha-vulcão cujo historial inclui algumas das mais mortíferas erupções que se conhecem, designadamente a que ocorreu em 1883 e que foi a mais dramática de todas. Nessa altura a ilha de 882 metros de altitude desapareceu e deu lugar a uma cratera de 16 quilómetros de comprimento, onde se formou um lago. Depois, nessa cratera e nesse lago nasceu uma formação rochosa chamada Anak Krakatau, o filho de Krakatoa, que actualmente já possui mais de 324 metros de altitude e que cada ano aumenta cerca de cinco  metros.
Foi exactamente no Anak Krakatoa que ocorreu a erupção que provocou o tsunami. Curiosamente, apenas alguns jornais espanhóis, caso do El Corréo de Bilbau, publicaram a impressionante fotografia do Anak Krakatoa em erupção.

domingo, 23 de dezembro de 2018

"El Gordo" fez feliz toda a Espanha

Costuma dizer-se em Espanha que sem El Gordo não há Natal e, de facto, há um enorme entusiasmo sobre tudo o que se relaciona com a maior lotaria do mundo que se realiza no país vizinho desde 1812 e cujo primeiro prémio é conhecido por El Gordo, embora esse termo também designe a própria lotaria do Natal.
Neste ano os espanhóis terão gasto cerca de 3400 milhões na compra da lotaria do Natal, o que significa que cada um gastou em média 67,56 euros na lotaria.
Ontem, a Lotería y Apuestas del Estado fez o sorteio em directo pela televisão e distribuiu 70% do dinheiro arrecadado com a venda dos bilhetes, o que corresponde a 2380 milhões de euros, que vão ser entregues a 14.008 premiados. É mesmo uma grande festa para muita gente.
O primeiro prémio de 680 milhões de euros coube ao número 03347, que vai ser dividido por 170 vencedores dispersos por todo o país, que irão receber quatro milhões de euros cada um. Como titula o jornal ABC, foi “un Gordo que hace feliz a toda España”. Não há memória de El Gordo ter tido uma tão grande dispersão geográfica pois beneficiou quase todas as províncias espanholas e só deixou de fora Ceuta, Melilla, Álava, Palencia, Guadalajara e Castellón.
A imprensa deu eco do entusiasmo em volta do El Gordo e os jornais regionais anunciaram os prémios que contemplaram as suas regiões, enquanto o ABC destacou fotograficamente os festejos que aconteceram em várias cidades espanholas.

sábado, 22 de dezembro de 2018

O solstício e o banho de mar nocturno

Ontem, dia 21 de Dezembro, aconteceu o solstício, isto é, o momento em que durante o seu movimento aparente, o Sol mais se afasta do Equador ou, como se diz em astronomia, tem a sua máxima declinação.
Com o solstício, no hemisfério norte começou o Inverno e tivemos a maior noite do ano, enquanto no hemisfério sul começou o Verão e, por exemplo, os brasileiros tiveram o maior dia do ano. No hemisfério norte, independentemente das alterações climáticas, nós temos o frio e a neve. No hemisfério sul, eles têm o calor e a atracção pelo mar e pelas praias.
O jornal O Globo, que se publica no Rio de Janeiro, destacou a ocorrência do solstício e a chegada do Verão, tendo publicado uma interessante fotografia da praia de Copacabana, na qual se pode observar uma multidão de banhistas a aproveitar uma noite de luar para usufruir dos 25 graus de temperatura das águas, sem ter que suportar o calor tórrido que ocorre durante o dia.
Parece que estes banhos, que sempre aconteceram, se estão a tornar uma nova moda nas praias do Rio de Janeiro, sobretudo nas noites de luar. São, naturalmente, a nossa inveja.

Madrid e Barcelona voltam ao diálogo

A questão catalã teve alguns desenvolvimentos nos últimos dias, com destaque para o encontro entre Pedro Sánchez e Quim Torra, isto é, o presidente do governo de Madrid e o presidente da Generalitat de Barcelona, como resultado de um convite feito por Pedro Sánchez, aproveitando a realização de um Conselho de Ministros em Barcelona. Neste encontro, que Madrid classificou como encontro informal e Barcelona considerou uma reunião bilateral, os dois políticos e as suas equipas conversaram sobre um plano para melhorar os canais de diálogo entre as duas partes no sentido de minimizar o radicalismo independentista e levá-lo para um patamar de discussão democrática.
Como se esperava, pouca coisa saíu deste encontro para além do reconhecimento de que existe realmente um conflito com diferentes perspectivas sobre a sua origem e sobre as vias de solução. Porém, a vontade de continuar a conversar ficou bem expressa e isso abriu um novo capítulo deste processo, que tinha sido encerrado com Rajoy e Puigdemont. Isso é muito positivo.
O encontro teve reacções bem diversas e extremadas: para uns foi início de um processo de diálogo democrático sobre o futuro da Catalunha e a unidade da Espanha, mas para outros foi uma cedência e uma humilhação perante “um fascista e um golpista como é Torra”. Daí que, Albert Rivera e Pablo Casado, os líderes dos Ciudadanos e do Partido Popular se tivessem unido contra “este acto de traição à Espanha”.
A fotografia de Sánchez e Torra ilustrou a imprensa espanhola, nomeadamente o conservador ABC, e ficará a marcar o futuro do processo catalão. No entanto, Pedro Sánchez "invadiu" o território da Catalunha e até lá realizou uma reunião do Conselho de Ministros, coisa que Mariano Rajoy nunca ousara fazer.

quinta-feira, 20 de dezembro de 2018

Os americanos retiram tropas da Síria

Com alguma solenidade e muita demagogia, pudemos ver ontem Donald Trump a anunciar que os cerca de dois mil militares americanos que se encontram na Síria iriam regressar a casa, porque o Daesh tinha sido derrotado e não havia razões para que lá se mantivessem. O jornal USA Today foi um dos jornais americanos que destacou essa notícia, com a qual o Donald espera melhorar a sua reputação interna.
A surpresa por esta declaração foi enorme e provocou reacções do Pentágono e de alguns aliados dos Estados Unidos, que a consideram irrealista e prematura. Não é preciso conhecer a actual situação política e militar na Síria - um tema que foi abandonado pela imprensa ocidental - para saber que o Daesh ainda não foi derrotado, nem militar nem ideologicamente. Ao anunciar a derrota do Daesh no território sírio, o Donald mentiu aos americanos e, seguramente, tem qualquer coisa "escondida na manga". De facto, num país onde se cruzam tantos e tão divergentes interesses, em que Bashar al-Assad resistiu a oito anos de guerra e em que os russos têm sido decisivos, a decisão do Donald é enigmática e terá resultado de um acordo com o presidente turco Recep Tayyip Erdogan. A ser assim, em vez de tensão no terreno entre turcos e americanos, a retirada americana pode ser uma jogada de reaproximação à Turquia e, ao mesmo tempo, um apoio claro para que os turcos lancem uma ofensiva contra os curdos. Como tantas vezes aconteceu ao longo do processo histórico, parece que estamos em presença de uma situação em que o interesse do mais forte sacrifica e deixa à sua sorte o interesse do mais fraco. Parece, de facto, que o Donald escolheu trair os curdos. Veremos o que vai acontecer.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2018

A dura vida de um treinador de futebol...

José Mourinho tornou-se aos 55 anos de idade, por mérito próprio e por circunstâncias dos tempos mediáticos em que vive o nosso planeta, numa das grandes figuras do futebol mundial. Porém, hoje está desempregado.
A sua carreira no mundo do futebol foi meteórica. Depois de ter tido um papel secundário como preparador físico, adjunto do treinador principal e tradutor, tornou-se treinador da equipa do Benfica no ano 2000. Desde então, trabalhou como treinador principal e foi campeão em Portugal, Inglaterra, Itália e Espanha, tendo conquistado 25 títulos, entre os quais duas Ligas dos Campeões e duas Ligas da Europa. Actualmente treinava a equipa do Manchester United, uma das mais importantes equipas de futebol do mundo, mas as coisas não estavam a correr bem. Muitas derrotas, muitos empates e poucas vitórias. Foi despedido ontem. A notícia correu mundo e o L’Équipe dedicou-lhe a sua primeira página. Os jornais portugueses não ficaram indiferentes ao despedimento de Mourinho e um jornal anunciou que o seu despedimento lhe dá direito a uma indemnização de 27 milhões de euros, enquanto outro jornal destaca que, enquanto treinador, Mourinho já arrecadou 55 milhões de euros em indemnizações.
Ao mesmo tempo que divulgam estes números, alguns jornais revelam preocupações com a situação de desemprego de Mourinho e parecem querer sossegar os portugueses ao anunciar que o Real Madrid e o Benfica o querem de volta. Não sei se é verdade, nem sei se Mourinho percebe muito ou pouco de futebol, mas é óbvio que é um homem muito inteligente e que a sorte o tem acompanhado. Agora, no desemprego, vai ter a dura vida de gerir mais 27 milhões de euros.

sábado, 15 de dezembro de 2018

Submarino moderniza Marinha do Brasil

No Complexo Naval de Itaguaí, situado no litoral sul do Rio de Janeiro, realizou-se ontem a cerimónia de lançamento à água do novo submarino Riachuelo, a que assistiram o Presidente da República em exercício e o Presidente recém eleito, para além de muitas outras individualidades. O acontecimento foi enaltecido na imprensa, nomeadamente na Folha de S.Paulo, pois como afirmou Michel Temer, “o dia 14 de dezembro de 2018 é uma data que ficará marcada em nossa história, pois o lançamento ao mar do primeiro submarino de fabricação nacional é motivo de imenso orgulho para todos os brasileiros”. O novo submarino faz parte do Programa de Desenvolvimento de Submarinos que foi negociado em 2008 entre os Presidentes Lula da Silva e Nicolas Sarkozy e, de acordo com a Marinha, já foram investidos 3,9 mil milhões de euros no programa que, até 2029, se estima venha a exigir 35 mil milhões de reais que, ao câmbio actual, correspondem a 7,9 mil milhões de euros.
Trata-se de uma parceria resultante de um acordo de defesa e transferência de tecnologia entre as indústrias francesa e brasileira, de que resultou a criação da Itaguaí Construções Navais, que é a única empresa que fabrica submarinos no hemisfério sul.
O Riachuelo é o primeiro de uma série de quatro submarinos convencionais da classe Scorpène e de um submarino nuclear que estão a ser construídos no âmbito do programa franco-brasileiro, mas enquanto os submarinos convencionais já começaram a ser construídos e ficarão prontos até o final de 2022, o submarino nuclear só ficará pronto em 2029. De acordo com a Marinha do Brasil, o novo submarino tem autonomia para mais de 70 dias e será usado na fiscalização de cerca de 7 mil quilômetros do litoral brasileiro, também chamado de Amazónia Azul.

sexta-feira, 14 de dezembro de 2018

Macau preserva o seu património cultural

O jornal Tribuna de Macau aborda na sua edição de hoje o património de Macau, cuja preservação é apontada como uma história de sucesso, ilustrando-a com as imagens da ermida e do farol da Guia, que foi construído pelos portugueses em 1865 e é o mais antigo farol da costa sul da China.
Apesar do desenvolvimento e da modernização do território, bem como da pressão imobiliária e da contínua alteração da linha de costa original por via dos aterros que têm acontecido nas últimas décadas, tem sido possível preservar alguns dos testemunhos materiais da passagem dos portugueses por Macau e da interacção entre as culturas chinesa e portuguesa. Daí que em 2005, a UNESCO tenha incluído o centro histórico de Macau na World Heritage List, reconhecendo o valor simbólico do monte da Guia e do seu farol, do templo de A-Ma, da Fortaleza do Monte, da colina da Penha ou das ruínas de S. Paulo, mas também a forma como foi conciliada a “zona histórica” da antiga cidade de Macau, com a modernidade da sua arquitectura contemporânea.
Havia algumas dúvidas quanto à capacidade e sensibilidade dos macaenses para preservarem o seu património classificado, sobretudo porque ocupa espaços comercialmente muito valiosos que atraem interesses imobiliários muito poderosos, mas a Lei de Salvaguarda do Património Cultural aprovada em 2013 e o crescente interesse das autoridades e da população, parecem dar garantias de que a preservação do património cultural de Macau é uma história de sucesso e que os 450 anos de presença portuguesa não são para esquecer.

Construção naval para animar a economia

A imprensa galega dá grande destaque à reunião do governo espanhol que hoje vai aprovar a construção de cinco fragatas F-110, que irão substituir as cinco fragatas da classe Santa Maria, que estão baseadas em Rota e que se aproximam dos 35 anos de vida.
Os estaleiros da Navantia e a cidade de Ferrol estão em festa, bem como a Marinha espanhola. Depois de alguns anos de séria crise económica e social no sector da construção naval galego, esta notícia, segundo um governante galego, "es el mejor regalo de Reyes que podríamos recibir, un regalo de Reyes por adelantado que hará felices a muchas familias gallegas" e o jornal El Correo Gallego diz que se trata de um balão de oxigénio para a comarca de Ferrol.
A indústria da construção naval na Galiza passou por um período muito negro entre 2011 e 2014, com uma grande baixa de salários e muito desemprego, o que levou muitos trabalhadores a mudaram de sector ou a emigrar. O impacto na demografia e no tecido social da região foi enorme, com a perda de cerca de mil habitantes por ano. O anúncio da construção das fragatas F-110 para a Marinha espanhola representa uma mudança de rumo para os estaleiros e para a região, pois serão criados 7000 empregos durante dez anos, dos quais 1300 directos pela Navantia e 2200 directos por empresas associadas, acrescidos de cerca de 3500 empregos indirectos. Segundo foi divulgado, o projecto representa um investimento de 4.325 milhões de euros, mas tão decisivo quanto a modernização da Marinha espanhola é a animação da economia galega e a recuperação dos estaleiros da Navantia.

terça-feira, 11 de dezembro de 2018

As pesadas derrotas de May e de Macron

O Brexit de Theresa May e os coletes amarelos de Emmanuel Macron têm provocado muita instabilidade no Reino Unido e na França, embora de contornos diferentes. Ontem, quer Theresa May quer Emmanuel Macron, vieram assumir o revés das suas políticas e declarar-se derrotados, mas a derrota do Reino Unido e da França não são nada boas para a Europa...
May surpreendeu ao decidir suspender a discussão e votação do acordo sobre o Brexit celebrado com a União Europeia que deveria realizar-se hoje e esse adiamento significa que o governo britânico percebeu que ia ser derrotado, lançando mais incertezas e mais dúvidas quanto ao futuro. Assim, ao empurrar a discussão do problema para mais tarde, a sua derrota vai aprofundar-se e tudo se conjuga para que haja eleições antecipadas e que o Brexit venha a cair no caixote do lixo, embora todo o cenário político britânico seja cada vez mais imprevisível e incerto.
Quanto a Macron, que ontem falou aos franceses numa declaração que muito o enfraqueceu, tratou de lhes pedir desculpa, de prometer várias coisas e de satisfazer várias reivindicações dos coletes amarelos, sobretudo a redução dos impostos e o aumento do salário mínimo, numa tentativa de travar a sua cólera. Dizem os analistas que falou tarde demais e que a revolta popular, agora contra a desigualdade e a injustiça, não vai parar, o que é bem preocupante. Há mesmo quem lhe chame a Revolução Francesa de 2018.
Na sua edição de hoje, o americano The Wall Street Journal associa as duas situações porque, tanto num caso como no outro, o poder político está a ser fortemente contestado e vê-se obrigado a ceder à voz da opinião pública ou ao poder da rua. Embora sujeitos a ventos diferentes, o Reino Unido e a França tremem e, se esses países tremem, a Europa corre sérios riscos de também tremer porque, para o bem ou para o mal, a globalização já não deixa ninguém isolado. Lá longe e no meio de tanta incerteza na velha Europa, o Donald parece satisfeito.

domingo, 9 de dezembro de 2018

Confusão e incerteza ensombram o Brexit

A última edição da revista The Economist trata das enorme dúvidas que estão a turvar o horizonte dos britânicos relativamente ao Brexit e aponta um caminho, ou “a melhor maneira de sair da confusão do Brexit”.
O acordo para a saída do Reino Unido da União Europeia foi negociado durante 17 meses e chegou ao fim num texto de 585 páginas, tendo sido aprovado pelo Conselho Europeu no dia 25 de Novembro, por entre declarações de ser um “dia triste”, ou ser mesmo “uma tragédia”, como disse Jean-Claude Juncker.
Em qualquer acordo há sempre cedências de ambas as partes e, para muitos deputados britânicos, os negociadores de Theresa May cederam demasiado. Na próxima terça-feira, o acordo de 585 páginas vai ser votado no Parlamento britânico e há sérias dúvidas quanto ao resultado, porque há demasiada confusão e muita incerteza quanto ao futuro, o que de resto é retratado na capa que ilustra a última edição do The Economist. A eventual rejeição do acordo de saída do Reino Unido da União Europeia e da declaração sobre as relações futuras entre ambos poderá acontecer como resultado de um consenso inesperado entre eurocépticos e euroentusiastas, unidos à volta do Partido Trabalhista, dos Liberais Democratas, dos nacionalistas escoceses, galeses e de muitos conservadores. O problema continua a dividir os britânicos e, aparentemente, Theresa May não vai conseguir que o acordo seja aprovado. A confusão será ainda maior, com uns a defender a revogação do acordo e outros a sua renegociação, que a União Europeia não parece aceitar. Há uma grande desorientação entre os políticos e aumenta a oposição a Theresa May , assim como a convicção de que o Brexit falhou. A ser assim, a saída deste imbróglio poderá ser um novo referendo ou, mais provavelmente, eleições gerais antecipadas.
O que não há dúvidas é que a votação da próxima terça-feira pode muito bem lançar mais incerteza no futuro do Reino Unido, mas também na União Europeia.

sábado, 8 de dezembro de 2018

Um país com greves, demasiadas greves

De entre os direitos, liberdades e garantias dos trabalhadores, no seu  artigo 57º a Constituição da República Portuguesa garante o direito à greve. Portanto, ninguém pode acusar os grevistas que estão a perturbar a vida dos portugueses nas escolas, nos tribunais, nos hospitais ou nos transportes, de qualquer ilegalidade porque ao fazerem greve eles estarão a defender os seus direitos contra o patronato opressor.
Hoje, o Expresso fala em greves e mais greves, na sua maior parte incompreensíveis para a população. Porém, quando os juízes, os professores, os enfermeiros, os médicos, os bombeiros, os guardas prisionais, os funcionários judiciais, os notários, os estivadores, os farmacêuticos, os técnicos de diagnóstico, os ferroviários e muitas outras organizações profissionais, declaram a greve contra o patrão Estado, ficamos naturalmente apreensivos porque as exigências que esta gente faz, são exactamente a mesma coisa que fazer uma exigência para que os cidadãos paguem mais impostos. Significa, portanto, que os juízes, os professores, os enfermeiros e por aí em diante, querem comer mais do bolo estatal, o que significa que querem que eu e os meus concidadãos paguemos mais impostos.
Os directórios partidários e sindicais lutam pelo poder e em tempo pré-eleitoral iniciaram o seu combate político. É um combate político porque, cada vez menos, esses directórios defendem os cidadãos que supostamente representam. É isso que fazem o Arménio, mais o Nogeira, a Avoila e até o sindicalista Ventinhas. Naturalmente, a adesão dos trabalhadores a estas lutas sindicais com fins político-partidários, revela um comportamento pavloviano, isto é, revela reflexos incondicionados, porque ninguém informado e de bom senso, nomeadamente os juízes, os professores, os enfermeiros e por aí em diante, adere a estas greves que, muitas vezes, estão contra os seus próprios interesses e apenas servem as estratégias de poder dos directórios partidários e sindicais.

sexta-feira, 7 de dezembro de 2018

Nem sempre há mau tempo no Canal

O canal do Faial separa as ilhas do Faial e do Pico e ficou celebrizado nas palavras de Vitorino Nemésio, o autor do romance Mau tempo no canal. Qualquer viajante que atravesse aquelas três milhas do canal, da ilha do Faial para a ilha do Pico ou da ilha do Pico para a ilha do Faial, nem sempre encontra o mar sereno, mas tem sempre uma paisagem marítima deslumbrante: de um lado a montanha do Pico e do outro lado a baía orlada de morros vulcânicos e a graciosidade da cidade da Horta, pequena e bela, com o seu casario branco descendo pela encosta até ao mar.
Recentemente, já próximo do crepúsculo vespertino, estava sentado no internacionalmente famoso Cella Bar - que já é um ex-libris da ilha do Pico - e tratei de fotografar o canal com o meu Samsung, com os ilhéus da Madalena em primeiro plano e com o Monte da Guia e o Monte Queimado em segundo plano. São três cones vulcânicos que, no seu conjunto, constituem um dos mais expressivos quadros da paisagem marítima açoriana. Não sei se é uma fotografia de artista, mas agrada-me e por isso a partilho com os meus leitores nesta Rua dos Navegantes.

Paris é Paris, mas Lisboa é Lisboa

O movimento dos coletes amarelos está a lançar crescentes preocupações, não só na França, mas um pouco também por toda a Europa, porque já ultrapassou a questão de partida que foi o aumento dos combustíveis e se centra agora na contestação ao modelo de sociedade em que vivem os franceses e os outros europeus. O recuo do Presidente Macron não foi suficiente para travar o protesto, talvez porque tivesse chegado tarde demais e quando o radicalismo já tinha tomado conta do movimento.
Hoje os jornais franceses revelam receios pelo que possa acontecer amanhã em Paris e nas outras cidades francesas, mas as imagens televisivas que nos chegam de outras cidades europeias, por exemplo na Espanha e na Grécia, mostram que a contestação "à francesa" já lá chegou. É um momento de grande preocupação para os europeus, porque acontece quando a instabilidade está a ameaçar todo o continente com o Brexit, com a tensão na Ucrânia e a saída de Angela Merkel, a derrota de Macron, as tensões migratórias e as derivas populistas de alguns países. A Europa parece estar a perder o seu rumo.
Aqui nesta periferia ocidental da Europa também algo de instável está a acontecer, embora pareça estar associado às eleições que se aproximam. Com a recuperação do poder de compra dos trabalhadores e a melhoria global da situação económica do país, era de esperar a paz social. Porém, os partidos políticos e os sindicatos têm apoiado inúmeras greves que, embora possam ser justas e defendam os trabalhadores, não são mais do que instrumentos de luta política. Muitas das greves em curso ocorrem em sectores privilegiados da sociedade, nomeadamente no sector público, onde os direitos e as garantias dos trabalhadores são mais protegidos do que em qualquer outro sector. Os portugueses, e em especial os contribuintes, não compreendem este surto grevista e há fundados receios de que as greves e algum radicalismo a elas associado, possam ter graves consequências para o país. Algumas já estão à vista. Ninguém quer ver aqui o que está a acontecer em Paris. Que cada qual assuma as suas responsabilidades.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2018

Os deputados precisam de viajar tanto?

Na sua edição de ontem o jornal i anunciou que o Parlamento estava fora de controlo e que era impossível fiscalizar se os pagamentos feitos aos deputados lhes eram devidos, destacando que em 2017 tinham sido feitos pagamentos de viagens no valor de 3 milhões de euros.
Nos últimos tempos os jornais impressos ou televisionados têm-se transformado em verdadeiros panfletos e o primeiro dever de qualquer leitor ou espectador é duvidar de tudo o que eles dizem, que pode ser verdadeiro ou não. Por isso, peguei numa calculadora e fui fazer contas, verificando que aquela despesa correspondia a cerca de 13.040 euros anuais e a cerca de 1086 euros mensais por cada deputado. A ser verdade é um caso escandaloso, porque ninguém percebe as razões pelas quais os deputados viajam tanto. 
Muitos daqueles que nos representam no Parlamento e que tanto têm feito para desacreditar a Democracia, deveriam ser um exemplo de cidadania mas parece que se deslumbram com a facilidade com que acumulam benesses ao seu salário que, não sendo muito elevado, está largamente acima da média dos salários daqueles que os elegeram.
O problema poderá estar nas generosas dotações orçamentais do Parlamento, provavelmente acima das possibilidades dos contribuintes. Repare-se que em 2019 o funcionamento do Parlamento vai custar 83 milhões de euros aos portugueses, dos quais 51 milhões para despesas com pessoal onde, por exemplo, se incluem um subsídio de 14.017 euros para o Grupo Desportivo Parlamentar e um outro subsídio de 46 mil euros para a Associação dos ex-Deputados. Com dinheiro para estas coisas, também não faltará dinheiro para viajar e passa a funcionar a lei da oferta e da procura, isto é, havendo oferta de dinheiro, há mais procura de viagens.
Será que os deputados precisam de viajar tanto?

quarta-feira, 5 de dezembro de 2018

Xi e o agrado pela sua visita a Portugal

Todos os jornais portugueses publicam hoje uma fotografia alusiva à visita oficial do Presidente Xi Jinping a Portugal e o caso não é para menos, mas ainda é mais surpreendente quando o 人民网 - Renmin Ribao, um dos mais importantes jornais de Xangai, noticia esta visita do presidente chinês a este pequeno país do ocidente e lhe dedica quatro fotografias.
Não se imaginava que a imprensa chinesa desse tanto destaque a esta visita mas, certamente, isso é uma prova da admiração chinesa pelos portugueses e da forma como ambos conviveram em Macau durante quase 500 anos.
Ontem o Presidente Xi Jinping foi recebido no Palácio de Belém pelo Presidente Marcelo Rebelo de Sousa, mostrou-se muito agradado com a calorosa recepção e lembrou o contributo português para o progresso da humanidade, com um papel importante nas relações entre Ocidente e Oriente. Entretanto, preparavam-se os 17 acordos de cooperação que vão ser assinados, de âmbito económico, cultural, científico e académico. Como envolvente desta visita, Xi Jinping falou do projecto "Uma faixa, uma rota" que até já foi apelidado de "Plano Marshall" chinês para o mundo, o qual pretende abrir a China ao mundo através da construção de uma malha ferroviária internacional e de novos portos, aeroportos e outras infraestruturas. É uma nova rota da seda. Portugal está interessado nesse projecto e coloca em cima da mesa o porto de águas profundas de Sines, que bem pode fazer a ligação entre a Rota da Seda terrestre e a Rota da Seda marítima.
Xi Jinping ainda vai passar pela Assembleia da República e pelos Palácios da Ajuda e de Queluz. É uma recepção em grande estilo a um dos maiores países do mundo. Perfeito. Porém, seria bom que os nossos responsáveis estivessem à altura das circunstâncias e não se deslumbrassem em afectos e que, em nome do interesse nacional, estivessem atentos à estratégia chinesa.

terça-feira, 4 de dezembro de 2018

Xi em Lisboa: tudo à grande e à chinesa

No seu percurso de nove séculos de história, o nosso Portugal regista dois momentos, entre outros, em que sob a forma de embaixadas ao Papa, mostrou grande exuberância e ostentação. O primeiro foi a faustosa embaixada de D. Manuel ao Papa Leão X em 1514 que até incluia um exótico elefante e, o segundo, foi a embaixada de D. João V ao Papa Clemente XI em 1716, que exibia “uma riqueza nunca vista” segundo os relatos da época.
Só a cidade de Roma viu desfilar essas magníficas embaixadas e, por isso, o povo de Lisboa só veio a saber o que era fausto e ostentação quando em 1807 as tropas de Junot entraram em Lisboa. Jean-Andoche Junot gostava de se passear pela cidade com o seu séquito e o povo deslumbrou-se com aquelas faustosos comitivas em que era tudo “à grande e à francesa”. Os tempos mudaram e esse tipo de embaixadas e de ostentações já são coisas do passado.
Porém, o que se anuncia em relação à visita do Presidente Xi Jinping da República Popular da China que hoje se inicia, não deixa de nos recordar esses episódios da nossa história, pois a comitiva chinesa reservou para si um dos melhores hotéis da cidade por dois mihões de euros e não dispensou as limusinas blindadas que vieram propositadamente da China, segundo anuncia hoje o jornal i. Era à grande e à francesa, agora vai ser à grande e à chinesa...
Xi Jinping parece dar grande importância a esta visita e tem razões para isso, até porque a obra deixada pelos portugueses em Macau terá sido uma agradável surpresa para a China. Por isso, ele já afirmou que Portugal é uma peça importante na estratégia de globalização da economia chinesa, não só pela posição que ocupa na Europa mas também pelas suas relações com os países de língua oficial portuguesa. Mas é preciso cuidado com os afectos porque os chineses não dão ponto sem nó...

segunda-feira, 3 de dezembro de 2018

Todo o mundo é composto de mudança

Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, muda-se o ser, muda-se a confiança. Todo o mundo é composto de mudança...
Isto escreveu Luís de Camões, em meados do século XVI, mas foi exactamente isso que aconteceu ontem na Andaluzia, uma comunidade autónoma espanhola com 87 mil km2 e com mais de 8 milhões de habitantes, isto é, uma comunidade aqui ao lado e com quase o mesmo tamanho geográfico e demográfico de Portugal.
O PSOE governava a Andaluzia há 36 anos e ontem, apesar de ter sido o partido mais votado nas eleições regionais, apenas conseguiu eleger 33 dos 109 deputados do parlamento andaluz. Estes deputados, somados com os 17 da coligação de esquerda Adelante Andalucia, somam 50 deputados, o que fica abaixo da maioria absoluta de 55 deputados que é necessária para formar governo. Por outro lado, os partidos e coligações de direita conseguiram uma maioria de 59 deputados (PP com 26 deputados, Ciudadanos com 21 deputados e o novo Vox com 12 deputados). Parece não haver dúvidas sobre o que vai acontecer ao governo da Andaluzia, depois da derrota do PSOE e do PP, isto é, os partidos tradicionais da Espanha e com o aparecimento do Vox, que se declara de extrema-direita.
É, como se costuma dizer nestas circunstâncias, um terramoto político. O problema está em avaliar até que ponto este terramoto terá réplicas, não só no resto da Espanha, mas até mesmo em Portugal, uma vez que sociologicamente há poucas diferenças entre a Andaluzia e Portugal. O facto é que na Andaluzia, tal como em Portugal, o partido mais votado não irá governar.

domingo, 2 de dezembro de 2018

Coletes amarelos puseram Paris a arder

O protesto contra o aumento dos combustíveis começou há algumas semanas em Paris e noutras cidades francesas e, desde logo, os manifestantes se identificaram pelo uso de coletes amarelos. Era, ou parecia ser, um movimento espontâneo, sem a tutela de qualquer sindicato ou partido político. Aconteceu num fim de semana e, no fim de semana seguinte, repetiu-se. Ontem, pela terceira vez, os coletes amarelos vieram para a rua desafiar o governo e exigir a demissão de Emmanuel Macron.
A concentração no Arco do Triunfo deu origem a confrontos violentos com a polícia, houve 270 detenções e 92 feridos, enquanto um edifício e muitos automóveis foram incendiados. Nas ruas que convergem para os Campos Elíseos formaram-se barricadas, incendiaram-se automóveis e foram ateados focos de incêndio em lojas, a lembrar o Maio de 1968 ou o desespero de Hitler em Agosto de 1944 quando perguntou se Paris já estava  a arder.
Embora a dimensão do protesto pareça ser bem pequena e ainda não tenha alterado o quotidiano semanal dos franceses, o que está a inquietar o governo é a enorme popularidade dos coletes amarelos entre a população francesa, porque a sua bandeira já não é apenas a da luta contra o aumento do preço dos combustíveis, mas também a da luta pelo poder de compra dos assalariados, das desigualdades sociais e regionais e de outras reivindicações bem diversas, que vão desde a redução de todos os impostos até a demissão de Macron. O que não se imaginava é que um movimento desta natureza, aparentemente tão genuíno e tão espontâneo, tivesse incendiado Paris. É, portanto, um tema para ser pensado por sociólogos e cientistas políticos.

quinta-feira, 29 de novembro de 2018

A persistência da agitação na Catalunha

Depois da agitação independentista que ele próprio alimentou, o governo da Catalunha e o seu presidente Quim Torra enfrentam agora um Otoño caliente, como diz hoje o jornal elPeriódico de Barcelona. O protesto parece ser generalizado e tem dado origem a grandes manifestações de massas em que as bandeiras da Catalunha foram substituídas pelas bandeiras de diversas cores dos sindicatos e em que se têm registado confrontos e algumas destruições na via pública. Há inúmeros conflitos laborais e greves que duram há vários dias, nomeadamente dos médicos, professores, estudantes e funcionários públicos. Os sindicatos reclamam pela reversão dos cortes remuneratórios aplicados em 2011, pelo pagamento do trabalho extraordinário e de uma forma geral pela reposição do poder de compra dos seus trabalhadores.
Nesta altura do ano, é normal intensificar-se a reivindicação sindical, mas no caso da Catalunha é bem curioso como as manifestações que até há bem pouco tempo eram a favor do independentista Quim Torra, sejam agora contra a sua governação e com algum grau de radicalismo. No seu caso bem se pode dizer que “semeou ventos” e que está a “colher tempestades”, mas também se pode dizer que em tão pouco tempo passou de bestial a besta em, como se fosse um treinador de futebol.
Provavelmente não foi feito o retrato sociológico dos manifestantes catalães, mas talvez sejam os mesmos, aqueles que idolatraram Torra e aqueles que agora o insultam, o que significa simplesmente que as massas são manipuláveis, o que é um facto bem conhecido das teorias da comunicação.

Macau procura preservar a língua patuá

Os portugueses instalaram-se na península de Macau em meados do século XVI e desde então começou a afirmar-se uma língua crioula de base portuguesa, influenciada pelas línguas chinesas, malaias e cingalesas, mas também de inglês, do tailandês, do japonês e de algumas línguas indianas. Essa língua é conhecida como o Patuá macaense, outras vezes como o Papia Cristam di Macau e outras, ainda, como Doci Papiaçam di Macau.
Ao longo do século XX, com o aparecimento de novos meios de comunicação, o Patuá deixou de ser uma língua corrente, entrou em vias de extinção e era conhecido apenas por um número cada vez menor de macaenses. Até que em 1993 surgiu uma associação cultural com o objectivo expresso de salvar e divulgar essa língua crioula, enquanto símbolo identitário, histórico e cultural de Macau. Essa associação é o Grupo de Teatro Dóci Papiaçám di Macau, fundado e dinamizado pelo advogado macaense Miguel de Senna Fernandes, que o jornal Tribuna de Macau destaca na sua última edição.
O Dóci Papiaçám di Macau, tal como outros grupos e associações culturais macaenses, tem procurado proteger o Patuá macaense, apresentando peças teatrais e músicas em Patuá, publicando um Dicionário Português-Patuá e mantendo o objectivo de incluir o Patuá na Lista do Património Oral e Imaterial da Humanidade da Unesco.
O grupo celebra agora 25 anos de vida e a sua actividade é considerada uma referência da cultura macaense por ter feito renascer o interesse pelo Patuá e por agregar pessoas de etnias, classes sociais, idades e sensibilidades diversas, o que de certa forma representa a identidade do território de Macau, isto é, “um lugar comum a muitas pessoas diferentes”.

domingo, 25 de novembro de 2018

Uma visita de grande sucesso político

A visita oficial de três dias do Presidente João Lourenço a Portugal foi um acontecimento político muito importante para as relações entre Portugal e Angola, pois traduziu-se numa permanente manifestação de cumplicidades e de afectos entre os presidentes de Portugal e de Angola e, por essa via, entre o povo angolano e o povo português.  
Os ares frios e distantes dos tempos do  ex-presidente José Eduardo dos Santos, já fazem parte do passado. João Lourenço veio trazer-nos uma nova Angola e os portugueses perceberam e estão a aplaudir a mudança que está a acontecer no país, que também está a melhorar a sua imagem no mundo. Com a sua coragem, o seu sorriso e o seu discurso, João Lourenço conquistou a simpatia dos portugueses e, tendo aludido à anormalidade de terem decorrido nove anos sem que o chefe de Estado angolano tivesse visitado Portugal, afirmou que “os amigos querem-se juntos”. Nas relações entre Angola e Portugal, não se pode falar apenas em interesses como acontece nas relações internacionais, porque para além dos interesses há afectos, há história, há cultura e há um conhecimento recíproco.
A economia e o investimento estiveram no centro das conversações. Naturalmente. De facto, Portugal e Angola perceberam que precisam ambos do outro e que os seus interesses são compatíveis e complementares. Porém, para lá de uma dúzia de acordos de cooperação que foram assinados, o discurso de João Lourenço não se poupou nas palavras e falou de corrupção, nepotismo, bajulação e impunidade, porque a nova Angola exige uma nova atitude do poder. Disse que quando se propôs combater a corrupção em Angola já sabia que estava a mexer num “ninho de marimbondos”. A metáfora da destruição do ninho de marimbondos agradou aos portugueses e o Jornal de Angola registou-a para a posteridade.

sexta-feira, 23 de novembro de 2018

A arte africana e o seu regresso às origens

Durante o longo período da colonização europeia do continente africano houve muitos militares, antropólogos, etnólogos, religiosos e outros, que percorriam os territórios coloniais e que regressavam a casa com recordações compradas ou trocadas e, por vezes, roubadas. Noutros casos, durante as acções de ocupação e domínio desses territórios, sobretudo no século XIX, as forças militares ocupantes tomavam posse dos objectos de arte que encontravam e simplesmente transferiam-nos para os seus países onde eram integrados em museus.
Por uma ou por outra via, a parte mais importante do património artístico móvel africano foi transferido para a Europa e, por isso, o British Museum de Londres e o Museu do Louvre de Paris, mas também o Museu Tervuren de Bruxelas, o Museu do Vaticano e muitos outros museus têm nas suas colecções de arte, enormes quantidades de objectos de arte africana. Um dos casos mais notórios é o novo Museu do Quai Branly ou Museu das Artes e Civilizações de África, Ásia, Oceania e Américas, em Paris, que tem um acervo de 300 mil obras das quais cerca de 70 mil são de origem africana. Segundo é referido, habitualmente, os países que têm mais obras de arte nos museus europeus são o Chade, os Camarões, Madagáscar, o Mali, a Costa do Marfim, o Benim, a Etiópia, o Gabão e o Congo.
Com o apoio da Unesco, a África exige agora a restituição de todos esses tesouros artísticos que fazem parte do seu património cultural. Na Alemanha e no Canadá o processo já foi iniciado,  mas no Reino Unido, na Bélgica e na França só agora se iniciou a discussão do complexo assunto. Em Portugal o problema também existirá, mas numa escala incomparavelmente menor.